Conteúdo publicado há 23 dias

Professora puxa cabelo de aluna com Down no PR; pai diz que 'houve falha'

Uma professora foi flagrada puxando o cabelo e empurrando uma aluna da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Irati, no Paraná. Os pais da estudante denunciaram que não foram informados do caso e afirmaram que houve "falha" da equipe pedagógica da unidade. Em nota, a defesa da professora diz que ela "conteve" aluna que "empreendia fuga, evitando um mal maior".

O que aconteceu

Câmeras de segurança flagraram a agressão da docente contra a aluna no dia 15 de maio. A estudante de 19 anos sai da sala e é puxada pelo cabelo pela professora, identificada como Cleonice Glinski, de 61 anos. Na sequência, a mulher ainda empurra a jovem para dentro da sala novamente. Três supostas funcionárias da Apae chegam a correr em direção à sala após verem a situação. Uma delas parece tentar falar com a docente, que fecha a porta.

No dia 23, os pais da menina receberam uma carta anônima com fotos e o vídeo da ação da professora. Ao UOL, Daniel e Daniele Yoshitomi, pai e mãe da menina, disseram que a estudante tem síndrome de Down, diagnóstico de TEA (Transtorno do Espectro Autista), e é epiléptica. Além disso, a vítima é não verbal, ou seja, não se comunica pela fala.

Estudante não está frequentando a Apae depois que os pais tomaram conhecimento do caso. "A gente sente que parte da equipe pedagógica da escola falhou. Eles alegam que não sabiam [do episódio], mas, de alguma forma, eles falharam. Enquanto a gente não sentir o mínimo de segurança, a nossa filha não vai voltar [para a associação]", disse Daniel. A vítima já estudava na Apae de Irati há um ano e meio.

Pai diz que notícia da ação da professora foi recebida com "muita surpresa e tristeza". Daniel ainda declarou que a família "jamais imaginava que o local que deveria dar o mínimo de segurança para a estudante era onde ela estava sendo maltratada". Ele também falou que apenas o NRE (Núcleo Regional de Educação) de Irati e a presidente da Apae do município entraram em contato com eles. Os pais dizem que não foram procurados pela diretora da escola e pela equipe pedagógica.

Família pede justiça. Os pais da estudante disseram à reportagem que esperam que toda a equipe pedagógica, incluindo a direção e vice-diretora, seja afastada para que eles possam voltar a confiar na instituição novamente e, desta forma, possibilitar o retorno da estudante para o espaço. "A nossa filha nunca apresentou nenhum comportamento agressivo. Nunca imaginávamos que isso aconteceria com ela, muito menos em uma instituição preparada como a Apae", concluiu Daniel.

Defesa diz que professora 'conteve' aluna

Os advogados de Cleonice afirmaram que ela está "extremamente abalada com a reação pública agressiva". Eles acusam as reportagens em torno do caso de abordarem a situação de forma "extremamente simplista, superficial e fora de contexto".

Em nota, os defensores falaram que a professora tem mais de 26 anos de atuação na Apae de Irati. Os advogados apontam que durante este tempo "jamais houve qualquer apontamento negativo que fosse" contra Cleonice. "É esposa, mãe e profissional de conduta irretocável", diz o texto.

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Sobre o caso da aluna, os advogados descreveram que a professora "conteve" a estudante que "empreendia fuga" com o objetivo de evitar uma situação pior. Eles destacaram que a Apae está localizada na beira de estrada, "além de haver tanques e locais onde uma aluna em surto pode sofrer lesões".

Embora a forma de contenção não possa parecer a mais adequada ao momento, é certo que foi a única possível, notadamente para uma senhora de 61 anos, já com mobilidade reduzida, observando que não havia intenção em 'puxar o cabelo' da aluna e sim, em segurá-la, da forma que fosse possível, considerando que tal aluna já empreendeu fuga em outras oportunidades e colocou sua vida em risco.
Advogados de Cleonice, em nota

No fim do texto, os defensores ainda comunicaram que estão tomando providências contra o que eles julgam ser "excessos" em reportagens e compartilhamentos do caso, solicitando a apuração e a penalização dos mesmos perante ao Poder Judiciário. O documento é assinado pelos advogados Ana Carolina Kasprzak, Caroline Oleinik, Carmila Kurek, Eliza Hilgemberg e Fabrizzio Matte.

Polícia Civil apura o caso

Polícia Civil tomou conhecimento do caso na sexta-feira (24) e instaurou inquérito para apurar a situação. Nesta semana, testemunhas e servidores da Apae foram ouvidos pela polícia. Segundo o delegado Rafael Rybandt, responsável pelas investigações, algumas circunstâncias ainda precisam ser melhor esclarecidas e a corporação continua apurando o episódio. A docente também será ouvida pelas autoridades.

Secretaria da Educação do Paraná diz que contrato de prestação de serviços de Cleonice foi cancelado na segunda-feira (27). A docente também foi impedida de trabalhar na instituição. O documento com o cancelamento foi expedido após envio de protocolo pelo NRE (Núcleo Regional de Educação) de Irati.

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Em nota, a FEAPAES-PR (Federação das APAEs do Estado do Paraná) lamentou a "agressão" contra a estudante. "Expressamos o total repúdio a todo o tipo de manifestação de violência, contrariando também todas as formas de agressão, intolerância e ódio." Eles também afirmaram que o caso foi "isolado" e se colocaram à disposição para prestar apoio aos familiares, a aluna e a comunidade do município, além de acompanhar a apuração do caso pelas autoridades.

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