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'Móveis desmanchando e roupas fedendo': família tem 4 casas arrasadas no RS

Melissa, 24, perdeu sua casa depois de cinco meses de mudança Imagem: Acervo pessoal

do UOL, em São Paulo

30/05/2024 04h00

Melissa Gravina, 24, influenciadora digital e social media, morava no mesmo quintal que sua mãe, avó e tio em Eldorado do Sul antes das enchentes no Rio Grande do Sul. Agora, estão cada um em um canto porque não sobrou nada.

Em poucas horas, a água cobriu as quatro residências, e a família perdeu tudo. Ao UOL, ela relatou os dias de tensão que viveu com a família enquanto via tudo o que construiu ir embora com a força das águas.

Melissa e sua família está tentando salvar o pouco que a lama deixou Imagem: Acervo pessoal

'Água nunca tinha subido'

"Sou de Eldorado do Sul e morava bem no centro da cidade. No mesmo quintal, tinha minha casa —me mudei em janeiro—, a da minha mãe, a da minha avó, de 73 anos, e a do meu tio. A água nunca tinha subido naquela região.

Quando as chuvas começaram, levantamos nossos móveis e itens de valor um metro acima do joelho. Nossa rua começou a encher de água, a ponto de acharmos melhor tirar nossos carros da garagem e colocá-los em um lugar seguro. Precisamos comprar botas de borracha para transitar com segurança no bairro.

Na nossa casa, a água começou a subir pelos ralos antes mesmo de a enchente chegar à nossa porta. Meu namorado, que mora em Esteio, foi nos ajudar a levantar alguns móveis e falou para passarmos a noite na casa dele e que no dia seguinte pela manhã voltaríamos para organizar mais coisas. Minha mãe e minha avó não quiseram ir, ficaram para acompanhar a situação da casa.

Quando chegamos na casa dele, minha mãe ligou dizendo que a água estava muito forte e já tinha entrado na garagem. A correnteza não a deixava mais abrir a porta.

Minha tia chamou minha mãe e minha avó para saírem da casa e irem dormir com ela. Minha avó não queria de jeito nenhum. Quando ela resolveu sair, estava caminhando sozinha pelas águas, caiu e ficou desaparecida por meia hora. A resgataram e levaram para um abrigo. Até ela conseguir um telefone, estávamos sem contato.

Minha mãe estava desesperada, não sabia o que fazer. Disse para ela vir ficar comigo na casa do meu namorado. Ela pegou a cadelinha e uma mochila pequena com coisas e veio me encontrar. Tentei acalmá-la dizendo que voltaríamos no dia seguinte. Eu também não sabia que não seria mais possível.

'Entrei me segurando pelos portões'

Em meio ao caos, meu tio e a esposa foram a um abrigo, mas, na madrugada, a água começou a invadir o local de acolhimento e eles tiveram de mudar de lugar. Meu namorado e eu voltamos ao meu endereço, mas a água já estava na altura do peito. O tanto que levantamos [os objetos] não serviu para nada.

Melisa, sua mãe, avo e tio perderam a casa na enchente Imagem: Acervo pessoal

Entrei me segurando pelos portões, a correnteza estava forte, na esperança de conseguir salvar alguma coisa. Peguei poucas roupas que estavam nas prateleiras mais altas. Todo o resto estava molhado —meu notebook, as televisões, eletrônicos da casa.

Eu e meu namorado colocamos a única TV que ainda não tinha molhado em cima do armário, deitada, para salvarmos quando a água baixasse. Estávamos só em dois e não conseguimos fazer muito em meio ao cenário de destruição. A gente teve de sair rápido, porque a força da água estava muito grande.

A essa altura, não conseguimos mais localizar meu tio, porque ele tinha sido transferido de abrigo duas vezes por conta das águas. Ele estava em Sentinela do Sul.

Nesse mesmo dia em que voltamos para casa, duas embarcações colidiram com a ponte do Guaíba. Começaram a falar que a estrada seria bloqueada, então voltamos correndo para Esteio, com medo de ficarmos presos em meio ao alagamento.

Em cerca de 24 horas, a água já tinha chegado ao telhado das nossas casas e encoberto tudo.

'Ficamos sem nada'

Quando vimos o que aconteceu, a sensação foi de completo desespero. Conseguimos voltar depois de 20 dias, quando a água baixou e vi que não dava para salvar nada. Estava tudo molhado, minha bolsa com documentos encharcada.

Nossos guarda-roupas desmoronaram pela força da água, então não adiantou nada colocar os itens na prateleira mais alta.

Estamos usando uma lavadora de alta pressão, em frente à nossa casa, para tentar limpar e salvar algumas coisas. O sofá apodreceu depois de 18 dias coberto de água. Tivemos de colocar muitos itens para fora, por causa do cheiro forte de esgoto. A madeira dos móveis está desmanchando, as roupas fedendo. Da cozinha, não sobrou nada.

Sinto que a ficha da minha avó ainda está caindo sobre o tamanho da destruição. Ela acha que vai conseguir voltar rápido para casa, mas temos muito o que limpar e reconstruir. Não vai ser tão simples.

Não temos recursos para comprar tudo para quatro casas, então vamos focar na da minha mãe e da minha avó. Será tudo em dobro: dois fogões, dois sofás. Estamos em busca de doação de camas e colchões também. Por enquanto, vou ficar com meu namorado, e meu tio foi para outra cidade com parentes."

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