Se plano for cancelado, Daniel perde respirador: "Meu filho está em risco"

Werica Gonçalves de Farias afirma que mesmo que chamem a polícia, não entrega o respirador que mantém o filho vivo. Atitude extrema, mas proporcional ao desespero, justifica. E ela avisa. Nem possibilidade de ir para cadeia diminui sua determinação.

O UOL publica abaixo o relato de três mães que tiveram o atendimento dos filhos ameaçado por empresas que cancelaram os planos de saúde.

Depoimento: Werica Gonçalves de Farias, 36*

Filho: Daniel Antonio Rosa de Farias, 3

Diagnóstico: AME tipo 1 (doença neurológica)

Plano de saúde: Unimed Ferj

Dia 19 de junho será o último dia do plano de saúde do meu filho. Sem respirador, o Daniel morre porque ele depende dele 24 horas por dia. É um desespero. Não consigo mais dormir, não consigo mais comer. Afinal de contas, meu filho está em risco.

A gente tem liminar para ter home care e se funcionários do plano vierem aqui, não vou abrir o portão. Podem chamar a polícia. Estou disposta a ir para cadeia pelo meu filho. Mas, mesmo que a gente não deixe levarem os aparelhos, será muito difícil. Ele precisa de equipamentos médicos, sondas, catéteres.

Eu vivo este drama desde 6 de maio, quando chegou um e-mail avisando que vão cancelar o plano na próxima quarta. No final de maio, fiquei sabendo que o cancelamento não ia mais ocorrer porque as empresas fizeram um acordo com os deputados. Saiu em todos os jornais.

Continua após a publicidade

Quando não recebi o boleto, procurei a empresa esperando ouvir que o plano não seria cancelado. Descobri que não será assim.

Ivone afirma que as empresas enxergar as crianças como carteiras e não pessoas
Ivone afirma que as empresas enxergar as crianças como carteiras e não pessoas Imagem: Arquivo pessoal

Depoimento: Ivone Alves, 46 anos

Filho: José Miguel Alves Damasceno, 4 anos

Diagnóstico: autismo

Plano de saúde: Unimed Ferj

Continua após a publicidade

Quando fui notificada do cancelamento eu me senti um lixo, uma mãe fracassada. Eu não poder fazer nada me deixa muito mal. Vi o tanto que José Miguel evoluiu, e ele vai ficar sem as terapias. Eu não tenho como pagar. Dá quase mil reais por semana.

A gente já paga mais caro e mesmo assim eles te descartam porque meu filho é uma porta de saída de dinheiro. Se for eu a cliente, eles me aceitam porque dou lucro para as empresas. Eu me sinto refém deste sistema. Não posso fazer nada. Marco deputados em minhas postagens e ninguém me responde. Ninguém me vê.

É muito triste teu filho não falar com você, não te contar como foi o dia na escola. Você se sente incapaz. E tudo por causa do dinheiro. Eu fiz o que pude, entrei na justiça e agora só posso esperar. O sistema não colabora. Você recebe um e-mail e tchau. O contrato acabou.

É uma extrema covardia. Para eles, meu filho é prejuízo."

Portadora do espectro do autismo, Amanda cantou para Andressa pela primeira vez no Dia das Mães
Portadora do espectro do autismo, Amanda cantou para Andressa pela primeira vez no Dia das Mães Imagem: Arquivo pessoal

Depoimento: Andressa Souza*

Continua após a publicidade

Filha: Amanda Souza, 6 anos.

Diagnóstico: autismo e deficiência intelectual

Plano de saúde: Amil

A Amanda não conseguia evoluir a fala. Ela tem muita resistência a aprender algo. Nem 'mamãe' e 'papai' dizia. O fono ensinou a Amanda a expressar o que sentia e um dia tudo valeu a pena: minha filha disse 'mamãe'! Eu me senti recompensada... o coração ficou quentinho. Chorei, claro.

Ela frequenta a escola desde os 2 anos e sempre ficou muito assustada com barulho, com crianças. Este ano foi a primeira vez que conseguiu cantar e dançar. Foi na apresentação do Dia das Mães, exatamente um mês atrás.

Toda esta evolução por causa desse trabalho com os terapeutas que faziam está em risco. Nossa, eu já falo no passado, mas a Amil reativou o programa. Um alívio. Eu sentia vontade de explodir a Amil. Eu falei para o responsável da clínica que a Amanda frequentava que minha vontade era chegar lá e falar umas verdades.

Continua após a publicidade

Perguntar se não tinham filho, não tem amor pelas crianças, se querem matar as pessoas? Parece que querem fazer um assassinato em massa. Não sei como a cabeça deles não pesa.

*Werica e Andressa tiveram os planos reativados depois de darem entrevista ao UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes