Quem foram os jovens que inspiraram MMDC, símbolo da Revolução de 32

A chamada Revolução de 1932, guerra paulista que deu origem ao feriado deste 9 de julho, foi anunciada há exatos 92 anos, mas um dos fatos que a desencadearam ocorreu mais de um mês antes, em 23 de maio daquele ano, quando quatro jovens foram mortos durante uma manifestação contra o governo de Getúlio Vargas, no centro de São Paulo.

O episódio inspirou a criação da organização política e militar clandestina MMDC, cujo nome é composto pelas iniciais dos sobrenomes dos manifestantes assassinados: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo.

Quem eram os jovens

Jovens mortos em 23 de maio de 1932 não eram estudantes, diferente do que muitos acreditam, conforme apuração do Estadão.

Euclydes Bueno Miragaia. O primeiro "M" da sigla tinha 21 anos e era auxiliar de cartório na capital paulista, embora tivesse nascido em São José dos Campos.

Antônio Américo de Camargo Andrade. Camargo, de 30 anos, era comerciante em São Paulo e procedia de família abastada de Amparo, no interior paulista.

Mário Martins de Almeida. Martins, 31, vinha de uma família de fazendeiros em São Manuel, também no interior.

Dráusio Marcondes de Souza. O "D" da sigla tinha 14 anos e trabalhava como ajudante de farmácia na cidade de São Paulo.

Os quatro integravam um grupo de manifestantes contrários ao governo Vargas. Naquele 23 de maio, eles tentaram invadir a sede do Partido Popular Paulista (PPP), ex-Liga Revolucionária, um grupo político-militar fundado após a Revolução de 1930 e que dava sustentação ao regime federal no estado paulista.

Os governistas da organização político-militar atiraram e jogaram granadas em direção aos manifestantes. Isso aconteceu quando o grupo se postou na frente da sede, localizada na Rua Barão de Itapetininga, próxima à Praça da República, no centro paulistano.

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Após o confronto, muitos ficaram feridos e, entre os mortos, estavam Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Três morreram no local e Dráusio, o mais jovem do grupo, morreu cinco dias depois, em decorrência dos ferimentos.

Orlando Alvarenga também foi baleado no mesmo dia pelas forças leais a Vargas. Ele foi socorrido com vida, mas morreu internado, dois dias depois que a sigla MMDC já havia sido oficializada em decreto, segundo apuração do Estadão.

Organização clandestina e correio militar

MMDC se tornou símbolo da Revolução de 32. Nome foi dado a uma organização política e militar clandestina que organizaria o levante contra Vargas em São Paulo, por meio da arrecadação de fundos e do recrutamento de soldados.

Sigla também deu nome ao correio militar que funcionou durante a revolução. Criado em 10 de julho, o serviço de postagem mantinha a correspondência circulando em São Paulo, já que o governo Vargas havia isolado o estado do serviço de Correios federal, de acordo com o pesquisador Reinaldo Macedo, ouvido pelo Estadão.

Autores dos disparos

Identidade dos atiradores que mataram os cinco jovens em 23 de maio nunca foi revelada. Depois que as forças paulistas foram derrotadas na guerra contra o governo federal, o assunto caiu no esquecimento.

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Um inquérito, encontrado por pesquisadores em 2013, só chegou ao Judiciário 22 anos depois. Mas já estava prescrito. O documento, que extinguiu a ação penal e a punibilidade dos atiradores, foi assinado pelo juiz da Vara Auxiliar do Júri do Tribunal Waldemar César Silveira, em 7 de dezembro de 1954, segundo reportagem da Folha de S.Paulo.

Revolução durou pouco menos de três meses, até o dia 2 de outubro, quando os combatentes da revolução, sem soldados e mantimentos suficientes, renderam-se às forças do Governo Provisório.

Restos mortais dos quatro jovens homenageados pelo MMDC. Assim como os de centenas de combatentes que morreram na guerra paulista, os restos mortais dos jovens estão sepultados no mausoléu do Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo.

*Com informações de reportagem publicada em 23/05/2022

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