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Fã de Ivete, defesa das mulheres: quem era delegada morta por namorado

Ela comandou o Neam (Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher) da 4ª Coordenadoria de Polícia Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

15/08/2024 15h02Atualizada em 15/08/2024 15h05

Agora vítima de feminicídio, a delegada Patrícia Neves Jackes Aires era conhecida no interior da Bahia pela atuação em defesa das mulheres. Tancredo Neves Feliciano de Arruda confessou que matou a companheira estrangulada com um cinto de segurança.

O que aconteceu

Patrícia atuava como delegada plantonista no município de Santo Antônio de Jesus. Ela também comandou o Neam (Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher) da 4ª Coordenadoria de Polícia.

Em junho, a delegada foi uma das homenageadas do Prêmio Elas por Elas, uma premiação local da cidade. "Gratidão! Essa palavra resume o que sinto em relação ao reconhecimento do trabalho prestado à sociedade baiana, em especial à sociedade de Santo Antônio de Jesus, onde presto meus serviços há longos anos. Obrigada pelo reconhecimento e mantenho a missão de proteger e servir, sempre!", escreveu Patrícia em um post no Facebook.

Maria Jackes, mãe de Patrícia, disse à Record Bahia que a filha tinha uma atuação firme com os autores de agressão. "Quando chegava um homem que agredia mulheres, ela mostrava a lei e dizia o que era verdade, que ele ia ser preso. Muitos perguntavam, porque eram leigos, não sabiam do conteúdo da Maria da Penha. A Maria da Penha não é só um homem batendo na mulher, a Maria da Penha é tirar a dignidade, é ofender".

Patrícia Neves Jackes Aires trabalhava em Santo Antônio de Jesus, na Bahia Imagem: Redes Sociais

A mãe também contou que a delegada amava a cantora Ivete Sangalo. "Gostava da Bahia, era uma profissional dedicada, querida, amava Salvador, Ivete [Sangalo]. Gostava de dançar e amava nosso Pernambuco", disse Maria à TV Globo Pernambuco.

Nascida em Recife, Patrícia também atuou como professora no estado de origem. Ela era especialista em direito penal e processual penal, além de formada em licenciatura para inglês e português.

As polícias civis da Bahia e de Pernambuco lamentaram a morte. "Um dia de muita tristeza na nossa instituição, com uma trágica perda para todos nós. Estamos dedicando todos os nossos recursos e esforços para dar a resposta necessária a esse crime terrível", disse a delegada-geral baiana, Heloísa Brito. "A PC-PE se solidariza com os familiares, amigos e colegas da PC-BA neste momento de dor".

Entenda o caso

Patrícia Neves Jackes Aires foi encontrada morta no domingo (11) dentro de seu carro em São Sebastião do Passé, na região metropolitana de Salvador. Após mentir que os dois haviam sido vítimas de sequestro, Tancredo Neves Feliciano de Arruda confessou o crime à polícia.

Ele afirmou que estrangulou Patrícia Neves Jackes Aires com o cinto do carro. "Não sou um monstro, não, não sou um bicho. [...] Ela veio para cima de mim me ameaçando, e eu perdi a cabeça", alegou.

O homem disse que a delegada o ameaçou de morte, além de sua família. "Patrícia não aceitava o término de jeito nenhum, e eu não vou negar que amava ela e tentava ver aquilo dentro dela de novo, mas sempre voltava para o mesmo final de ameaça. Mas eram só palavras, ela nunca tinha feito algo, e, nesse dia, ela puxou o volante", relatou Tancredo.

Em maio Tancredo Neves Feliciano de Arruda foi preso em flagrante por agredir Patrícia Neves Jackes Aires, confirmou a Polícia Civil ao UOL Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Segundo a Polícia Civil, Tancredo foi encontrado circulando pela BR-324, quando foi levado para à PRF. Horas depois, o carro com o corpo da vítima foi localizado em um acostamento da rodovia, no trecho do município de São Sebastião do Passé, e ele foi preso.

Homem já foi detido e denunciado por outras mulheres

Em maio, Tancredo Neves foi preso em flagrante por agredir Patrícia Neves Jackes Aires, confirmou a Polícia Civil ao UOL. Ele foi solto, e a Justiça concedeu medida protetiva, mas o casal se reconciliou.

Homem tem histórico de agressão. Segundo a polícia, o homem tem passagens por lesão corporal, em 2018, danos e ameaça, em 2022, e ameaça e injúria, em 2023. As ocorrências foram registradas em Foz do Iguaçu (PR) e em Feira de Santana (BA). Os agentes ainda investigam outras denúncias nos municípios baianos de Itamaraju e Queimadas.

Ele também foi indiciado pela Polícia Civil por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica. O inquérito, aberto em 2022 em Euclides da Cunha, no interior da Bahia, foi concluído e encaminhado ao MP-BA. O órgão pediu para a Civil fazer novas diligências sobre o caso. O Conselho Regional de Medicina da Bahia disse que não localizou registro médico em nome do suspeito.

Tancredo Neves fez um estágio irregular no hospital de Euclides da Cunha, em 2022. O médico Arylton Feliciano de Arruda, pai dele, foi desligado da instituição por ajudar o filho a conseguir o estágio.

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

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