Conteúdo publicado há 3 meses

Homem que matou delegada fez estágio irregular em hospital através do pai

O médico Arylton Feliciano de Arruda, pai de Tancredo Neves, preso por matar a delegada Patrícia Neves Jackes Aires, foi desligado de um hospital de Euclides da Cunha, na Bahia, por ajudar o filho a conseguir um estágio na unidade de saúde de forma irregular.

O que aconteceu

Tancredo, que não possui registro de graduação em medicina na Bahia, estagiou irregularmente no hospital de Euclides da Cunha em 2022. Na ocasião, ele conseguiu o estágio na Unidade Municipal Antônio Carlos Magalhães, administrado pelo Hospital Português, graças ao pai, que trabalhava no local e foi desligado após o estabelecimento tomar ciência do ocorrido. A informação foi revelada pela TV Bahia, afiliada da Globo no estado, e confirmada pela assessoria da unidade de saúde.

Tancredo já foi indiciado pela Polícia Civil da Bahia por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica. O inquérito, aberto em 2022 em Euclides da Cunha, foi concluído e encaminhado ao Ministério Público do estado.

Arylton foi investigado nesse inquérito, mas a polícia não recomendou o indiciamento. O MP-BA informou ao UOL que pediu para a Polícia Civil fazer novas diligências, como interrogar o pai de Tancredo, para obter mais informações.

Cremeb disse que não localizou registro médico em nome de Tancredo Neves Lacerda Feiciano de Arruda. Ainda segundo o Conselho Regional de Medicina da Bahia, até o momento, não há processo aberto para investigar quaisquer condutas irregulares de Arylton Feliciano de Arruda, pai do suspeito.

O UOL não conseguiu contato com a defesa de Arylton para pedir um posicionamento. O espaço segue aberto para manifestação.

Tancredo confessou que matou delegada

Ele afirmou que estrangulou Patrícia Neves Jackes Aires com o cinto do carro. "Não sou um monstro, não, não sou um bicho. [...] Ela veio para cima de mim me ameaçando, e eu perdi a cabeça", alegou em depoimento.

O homem disse que a delegada o ameaçou de morte, além de sua família. "Patrícia não aceitava o término de jeito nenhum, e eu não vou negar que amava ela e tentava ver aquilo dentro dela de novo, mas sempre voltava para o mesmo final de ameaça. Mas eram só palavras, ela nunca tinha feito algo, e, nesse dia, ela puxou o volante", relatou Tancredo.

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Patrícia Neves Jackes Aires trabalhava em Santo Antônio de Jesus, na Bahia
Patrícia Neves Jackes Aires trabalhava em Santo Antônio de Jesus, na Bahia Imagem: Redes Sociais

Segundo Tancredo, o carro foi parar no acostamento da pista, onde os dois discutiram e o crime foi cometido. Depois, ele conta que saiu do veículo sem saber se a delegada estava morta e chamou a polícia.

O homem admitiu que mentiu sobre a policial ter sido vítima de um sequestro. "Fiquei com medo por ela ser delegada, medo da polícia fazer alguma coisa", alegou.

Ele disse que já havia sido ameaçado por Patrícia com uma arma durante uma discussão antes de pegarem a estrada. A ameaça teria ocorrido quando ainda estavam em casa no município de Santo Antônio de Jesus, onde ela trabalhava. Tancredo afirmou que os dois se entenderam e saíram, quando decidiram viajar para Salvador. Foi nesse momento, segundo o homem, que a delegada voltou a ameaçá-lo.

Segundo a Polícia Civil, Tancredo foi encontrado circulando pela BR-324, quando foi levado para à PRF. Horas depois, o carro com o corpo da vítima foi localizado em um acostamento da rodovia, no trecho do município de São Sebastião do Passé, e ele foi preso.

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O homem ainda disse à polícia que ele e Patrícia se casariam nesta quarta-feira (14). A delegada-geral da Polícia Civil da Bahia, Heloísa Brito, disse que o casamento teria sido cancelado pela policial na semana passada e remarcado por Tancredo.

Homem já foi detido e denunciado por outras mulheres

Em maio, Tancredo Neves foi preso em flagrante por agredir Patrícia Neves Jackes Aires, confirmou a Polícia Civil ao UOL. Ele foi solto, e a Justiça concedeu medida protetiva, mas o casal se reconciliou.

Homem tem histórico de agressão. Segundo a polícia, o homem tem passagens por lesão corporal, em 2018, danos e ameaça, em 2022, e ameaça e injúria, em 2023. As ocorrências foram registradas em Foz do Iguaçu (PR) e em Feira de Santana (BA). Os agentes ainda investigam outras denúncias nos municípios baianos de Itamaraju e Queimadas.

Quem era a delegada

Patrícia Neves Jackes Aires atuava como delegada plantonista em Santo Antônio de Jesus, no interior da Bahia. Agora apontada como vítima de violência doméstica, ela já comandou o Neam (Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher) da 4ª Coordenadoria de Polícia.

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Ela era especialista em direito penal e processual penal, além de formada em licenciatura para inglês e português. Nascida em Recife (PE), Patrícia também atuou como professora no estado de origem.

A mãe da delegada, Maria José Jackes Aires, disse que Tancredo Neves era ciumento e controlava até como a filha se vestia. "Ela pegou um áudio dele para a mãe: 'Mãe, vou pegar um remédio para me controlar porque lá vai ter muito homem. Não sei se vou conseguir me controlar'. Então, já era uma forma de ele mostrar a personalidade violenta. Esse áudio só chegou até ela (Patrícia) depois que eles tinham se separado", contou à TV Globo Pernambuco.

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

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