Mala com veneno e arma no esgoto: relembre detalhes do caso Gil Rugai
Condenado em 2013 a 33 anos e nove meses de prisão pelo assassinato do pai e da madrasta, o ex-seminarista Gil Rugai foi solto nesta quarta-feira (14) e cumprirá o restante da pena em regime aberto.
Relembre detalhes do crime
Casal foi morto a tiros em Perdizes, zona oeste de São Paulo. Luiz Rugai, 40, e Alessandra de Fátima Troitino, 33, foram encontrados mortos com marcas de tiros na residência do casal em 28 de março de 2004. Segundo a perícia, eles foram alvejados nas costas e tentaram se esconder do assassino em um cômodo da casa.
Gil Rugai, à época com 20 anos, sempre foi o principal suspeito do crime. De acordo com os investigadores, a principal motivação teria sido financeira. Gil trabalhava na empresa do pai, a Referência Filmes, e foi afastado das atividades no departamento financeiro depois que Luiz e Alessandra descobriram que ele desviava dinheiro na empresa. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil. Na época, a madrasta acionou o banco no qual a empresa tinha conta e informou que Gil estava proibido de movimentar os valores.
Casal expulsou Gil de casa ao descobrir o desvio de dinheiro. Ele morava com os dois até dias antes do crime. Depois que Gil deixou a residência, Luiz e Alessandra trocaram as fechaduras da casa. No entanto, a polícia verificou que a fechadura dos fundos não havia sido substituída. Gil morava com o pai desde os 12 anos —antes morou com a mãe, Maristela Rodrigues Grego, que se separou do marido quando o filho tinha 3 anos.
As provas usadas para acusar Rugai
Marca na porta e machucado no pé. Durante as perícias realizadas no local do crime, foi encontrada uma marca de pé deixada pelo assassino na porta da sala onde Luiz foi encontrado morto. Segundo a polícia, a porta havia sido arrombada e o autor do golpe teria machucados no pé. O IC (Instituto de Criminalística), então, realizou exames de ressonância magnética no pé de Gil e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.
No dia do crime, nada foi roubado. Durante as buscas na casa, a polícia encontrou uma nota fiscal de compra de um coldre para pistola 380, mesmo calibre usado para matar o casal, munição e um certificado de conclusão de curso de tiro em nome de Gil.
Arma usada no crime foi encontrada no esgoto. Um ano e meio após o crime, uma pistola 380 foi encontrada na tubulação do esgoto do prédio onde Gil Rugai tinha um escritório, no bairro dos Jardins. A arma foi encontrada pelo zelador durante a limpeza do local, que ficava na garagem do edifício. A perícia comparou balas encontradas no local do crime com outras disparadas durante o teste com a pistola localizada no esgoto. Os picotes (deformação no projétil) eram idênticos. Segundo a polícia, o exame realizado tinha 100% de confiança.
De acordo com as autoridades, o acesso ao local onde a arma foi encontrada era restrito. Em depoimento, Gil Rugai confirmou que esteve no prédio na noite do crime. Na época, não havia sistema de circuito interno de TV.
'Mala de fuga'. Rudi Otto, então sócio de Gil Rugai, contou à polícia em depoimento que o ex-seminarista mantinha o que chamava de "mala de fuga", com ácido, veneno, roupa e uma pistola preta. Segundo a investigação, Otto desconfiou de Gil ao receber notícia dos homicídios e, no dia seguinte ao crime, procurou a pistola de Gil no escritório deles, mas não a localizou. Ainda durante as fases de investigação, a mãe de Gil Rugai apresentou à polícia duas armas de brinquedo que seriam do filho.
Missa diária à espera do julgamento
Gil Rugai passou a morar com a avó materna após o crime. Segundo informações da Folha de S.Paulo, ele morava com a avó Conceição no bairro do Sumarezinho, também em São Paulo. Ela sofria de mal de Alzheimer e Gil cuidava da avó como "uma espécie de enfermeiro".
Missa diária. Religiosos, Gil e Conceição cultivavam diversas imagens de Jesus Cristo na casa onde moravam. Segundo a Folha, Gil deixou os estudos de teologia e sua rotina se resumia entre os cuidados com a avó e idas à igreja. De bicicleta, ele costumava ir até duas vezes por dia à missa.
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Quero receberAvó paterna e neto trocavam cartas. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que Gil trocava correspondências com a avó paterna, Odette Corona Rugai, logo após o crime. No conteúdo, ambos lamentavam a morte de Luiz e comentavam sobre a saudade que sentiam dele. Também religiosa, Odette usava citações bíblicas para confortar o neto. As cartas, com datas estimadas entre abril de 2004 e abril de 2005, foram usadas como estratégia de defesa de Gil.
Fim da pena no 'presídio dos famosos'
O ex-seminarista cumpria pena no presídio de Tremembé, no interior de São Paulo. O complexo prisional é conhecido por abrigar presos "famosos" como Robinho e o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, motorista do Porsche envolvido no acidente que matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana.
Progressão de regime. Rugai foi autorizado pela Justiça a cumprir o restante da pena em regime aberto, usando tornozeleira eletrônica. Ele estava cumprindo regime semiaberto desde 2021 e foi solto após a Justiça aceitar o pedido de sua defesa que havia sido protocolado em 2023. Rugai passou por testes e exames que analisaram se ele era ou não capaz de conviver em sociedade novamente. A Promotoria declarou que deve recorrer da decisão.
Além do uso da tornozeleira eletrônica, ele deverá cumprir medidas impostas pelo judiciário. São algumas das medidas: comparecer trimestralmente a uma Vara de Execuções Criminais para informar suas atividades; obter ocupação lícita em até 90 dias e comprová-la junto à Vara; permanecer em sua casa nos finais de semana, feriados e repouso noturno entre às 20h e 6h, com exceção de autorização judicial; não mudar de comarca sem prévia autorização; e não mudar de residência sem comunicar previamente a Justiça.
Comportamento considerado "ótimo" possibilitou a soltura de Gil. A juíza responsável pela decisão, Sueli Zeraik de Oliveira Armani, ressaltou que Rugai estava detido desde abril de 2004 e não havia registrado nenhuma infração disciplinar ao longo do cumprimento da pena, realizando atividades laborterápicas na prisão em 2009 e de 2016 e 2022.
Universitário com bom desempenho. Desde 2023, ele estuda Arquitetura e Urbanismo em Taubaté. De acordo com a decisão da Justiça, Rugai, que tinha autorização para deixar a prisão entre 17h e 23h30 para frequentar as aulas, apresentava bom proveito e boas notas na faculdade.
Procurada pelo UOL, a defesa de Gil Rugai afirmou que não se manifestará sobre a soltura.
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