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Lessa diz que ficou com náuseas ao ver Rivaldo abraçar mãe de Marielle

Ronnie Lessa durante audiência Imagem: Reprodução
Pedro Vilas Boas e Tiago Minervino

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

28/08/2024 14h59Atualizada em 28/08/2024 17h31

O ex-policial Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, disse ter ficado com "náusea" quando viu o delegado Rivaldo Barbosa, também preso pelo crime, abraçando a mãe da parlamentar após o crime.

O que aconteceu

Lessa classificou Rivaldo como um "verdadeiro artista". "Eu atirei na Marielle, mas no dia seguinte não tinha fome e vi o Rivaldo abraçando a mãe da Marielle. Aquilo causou náusea em mim, que atirou", disse, em audiência promovida pelo STF nesta quarta-feira (28).

"Ele é a personificação da indiferença, do mal", afirmou o ex-policial. "Ele conseguiu causar náusea no cara que matou a Marielle. Não acreditei quando o vi abraçar a mãe da Marielle. O Macalé [ex-policial suspeito de ter participado do crime] falou 'cruz credo'", acrescentou.

Rivaldo, acusado de planejar o assassinato, disse que o "Escritório do Crime", grupo de matadores de aluguel, cresceu enquanto o delegado investia na Delegacia de Homicídios. "A ascensão vem com a nova estrutura da DH, quando o Rivaldo lança essa 'super DH'. O Escritório do Crime começou a decolar".

Ronnie Lessa presta depoimento em audiência virtual pelo segundo dia seguido. A PGR segue fazendo perguntas ao assassino confesso, mas espera-se que os advogados das famílias das vítimas e dos outros réus também façam questionamentos.

O depoimento faz parte de uma série de audiências de instrução, iniciada no último dia 12, no âmbito da ação penal sobre as mortes.

Lessa diz que delegado foi 'pré-pago'

Durante a audiência, Lessa afirmou que ele e o ex-PM Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé, ganhariam R$ 25 milhões pelo crime. "Era no assassinato da Marielle que a gente ficaria milionário: eu colocaria R$ 25 milhões no bolso e o Macalé [colocaria] outros R$ 25 milhões", declarou o assassino confesso da vereadora do PSOL e do motorista Anderson Gomes.

Irmãos Brazão pagaram propina a Rivaldo para atrapalhar a investigação e assegurar impunidade pelo crime. Segundo Lessa, Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como mandantes do crime, teriam combinado com o então chefe da Polícia Civil do Rio para que ele ajudasse a embaralhar as investigações do assassinato. Não foi informado quanto Barbosa teria recebido pela participação no crime.

Se não fechar com ele [Rivaldo], não tem jogo. Sem ele, ninguém faz nada. Quando o [Domingos] me disse [que já estava] pré-pago [com o Rivaldo], ele deixou claro que estava acertando aquele trabalho ali [assassinato da Marielle].
Ronnie Lessa

O ex-policial disse que Rivaldo passou de "Tio Patinhas" da polícia para "Silvio Santos, topa tudo por dinheiro". "Quanto mais sangue rolava no rio, mais dinheiro o Rivaldo colocava no bolso. Isso é fato conhecido por todos".

Ele também afirmou que soube que seria preso na noite anterior da operação, por meio de uma mensagem enviada por um filho de um policial federal. "Passou isso para um monte de gente". Lessa ainda disse que essa pessoa chegou a escrever que Rivaldo e os irmãos Brazão também seriam presos nesse dia, mas eles só foram presos neste ano. A pessoa citada pelo ex-policial é Jomar Duarte Bittencourt Junior, o "Jomarzinho", que chegou a ser alvo de busca e apreensão da PF justamente pelo vazamento de informações.

'Prejuízo ao PSOL'

No primeiro dia do depoimento, Ronnie Lessa disse que os irmãos Brazão, acusados de mandar matar Marielle, queriam prejudicar a estrutura do PSOL. "Hoje eu enxergo dessa forma. Estou preso há quase seis anos, só penso nisso o tempo todo. A realidade é que eles já iam dar prejuízo no PSOL, senão não existiria o comentário sobre o Marcelo Freixo. Vamos supor: morreu Marcelo Freixo. Ia abalar a estrutura do partido inteiro", avaliou.

O assassino confesso se refere a um suposto plano para matar o então deputado estadual. Durante a delação à PF, ele disse que convenceu o ex-policial Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, a desistir do plano de matar Freixo.

Durante o depoimento de terça-feira (27), Lessa também disse que as polícias do Rio "estão contaminadas há décadas". "O delegado não quer assunto? Vai mandar fechar, transferir o delegado. Simples assim."

Ronnie Lessa voltou a dizer que os irmãos Brazão prometeram a distribuição de loteamentos em uma área do Rio como pagamento pelo crime. O plano também envolveria a instalação de uma milícia no local, mas o réu afirmou que abandonaria os comparsas quando conseguisse conquistar os cerca de R$ 25 milhões previstos. "Eu ia abandonar todos eles, não ia ficar batendo cabeça. Apertei a mão, disse que sim, mas ia deixá-los. [...] Não ia tomar conta de nada, ou delegava, podia terceirizar", destacou.

Ele também especulou sobre o motivo pelo qual eles foram enviados primeiramente ao endereço do ex-marido da vereadora, Eduardo Alves. "Nós fomos sacaneados nisso. Falaram para gente que ela morava lá, mas ela não morava mais lá. Aí a gente faz uma matemática muito simples: iam culpar o ex-marido, um crime passional. Eu não estaria preso, muito menos os mandantes."

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