Conteúdo publicado há 2 meses

Lessa diz acreditar que tentaram incriminar ex de Marielle por assassinato

O ex-policial militar Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, disse, em audiência virtual promovida pelo STF nesta terça-feira (27), que acredita que os mandantes do crime planejaram incriminar o ex-marido da parlamentar pela sua morte.

O que aconteceu

O ex-marido da vereadora, Eduardo Alves, morava no primeiro endereço para o qual ele foi enviado. "Nós fomos sacaneados nisso. Falaram para gente que ela morava lá, mas ela não morava mais lá. Aí a gente faz uma matemática muito simples: iam culpar o ex-marido, um crime passional. Eu não estaria preso, muito menos os mandantes", afirmou.

"Se acontecesse com ela saindo daquele endereço, esse pobre coitado desse ex-marido estaria na cadeia", disse Lessa. "Ia virar crime passional", acrescentou.

Na delação à PF, o ex-policial havia comentado que esse primeiro endereço não era viável para o crime. "Não tem como parar, é o cruzamento, 32 policiais andando na calçada, pois ali existe um policiamento na calçada. Então, quer dizer, era um lugar difícil de monitorar", afirmou, na ocasião.

Marielle acabou sendo assassinada quando voltava para casa após participar de uma reunião na Lapa. A vereadora e o motorista Anderson Gomes foram mortos em março de 2018.

O depoimento de Ronnie Lessa durou cerca de cinco horas. A audiência, que nesta terça contou apenas com perguntas da PGR, será retomada nesta quarta-feira (27), quando os advogados das famílias das vítimas e dos acusados também devem fazer perguntas.

Audiência no STF

Ronnie Lessa prestou depoimento nesta terça em uma audiência promovida pelo STF no âmbito da ação penal sobre o caso. Os irmãos Brazão, acusados de mandar matar a vereadora, e outro réus foram retirados da videoconferência após pedido da defesa do ex-policial.

Defesa de Lessa alegou "constrangimento". O advogado Saulo Augusto Carvalho Santos alegou que o delator tem "temor em depor na presença dos delatados pelo rompimento do pacto de silêncio firmado desde o segundo semestre de 2017", período em que os planos para o assassinato de Marielle teriam iniciado. "É direito do colaborador participar da audiência sem contato visual com os delatados", afirmou Santos.

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O assassino confesso citou "alta periculosidade" de Domingos e Chiquinho Brazão, além dos PMs Ronald Paulo de Alves Pereira e Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, e o delegado Rivaldo Barbosa. "Desde o início tínhamos um pacto de silêncio, que foi quebrado. Então, é muito delicado, todos os passos dessa teia, é tudo muito complicado. Eu gostaria de sigilo porque me sinto mais à vontade, não estamos lidando com pessoas comuns, mas com pessoas de alta periculosidade, assim como eu fui. Não sou mais perigoso do que eles. No depoimento vamos perceber que essas pessoas são mais perigosas do que se possa imaginar. Me sinto mais à vontade [sem eles na sala]".

O desembargador Airton Vieira, assessor do ministro do STF Alexandre de Moraes, acatou o pedido. Ele destacou que a legislação brasileira garante ao colaborador o direito de "participar da audiência sem contato visual com os outros acusados se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor ou constrangimento à testemunha e possa prejudicar a verdade do depoimento porque é importante que o depoente fale sem constrangimento".

Durante a audiência, Lessa repetiu afirmações feitas na delação e fez avaliações sobre o caso. Ele disse que os irmãos Brazão queriam prejudicar o PSOL, não apenas Marielle. "Hoje eu enxergo dessa forma. Estou preso há quase seis anos, só penso nisso o tempo todo. A realidade é que eles já iam dar prejuízo no PSOL, senão não existiria o comentário sobre o Marcelo Freixo. Vamos supor: morreu Marcelo Freixo. Ia abalar a estrutura do partido inteiro".

O assassino confesso se refere a um suposto plano para matar o então deputado estadual. Durante a delação à PF, ele disse que convenceu o ex-policial Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, a desistir do plano de matar Freixo.

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