'Crocodilo feiticeiro': nova espécie com 85 milhões de anos é achada em SP
O fóssil de uma nova espécie, chamada de "crocodilo feiticeiro", com 85 milhões de anos, foi encontrado durante as obras de uma rodovia em Catanduva, ao lado do "crocodilo caipira", em uma das principais regiões fósseis do Brasil.
O que aconteceu:
Pesquisadores brasileiros descobriram uma nova espécie de crocodilo carnívoro, o Epoidesuchus tavaresae. Os fósseis do animal (pedaços do crânio e da mandíbula) foram encontrados em uma rodovia na cidade de Catanduva, interior de São Paulo, ao lado do Caipirasuchus catanduvensis, conhecido como "crocodilo caipira". A descoberta foi publicada em agosto na revista científica da American Association for Anatomy.
A nova espécie tinha cerca de quatro metros de comprimento e características que a diferenciavam de outros crocodilos da mesma época. O nome Epoidesuchus tavaresae faz referência à "Cidade Feitiço", como Catanduva é conhecida. "A ideia do nome partiu de Marcos Queiroz, um dos pesquisaores, que quis homenagear a cidade associando o feitiço ao crocodilo", explicou o paleontólogo Fabiano Iori, que fez parte do grupo que estudou os fósseis, em entrevista ao UOL.
O termo "Epoidesuchus" combina "Epoide", que remete à magia ou encantamento, com "suchus", uma palavra grega para crocodilo, fazendo alusão ao apelido da cidade. Já a palavra "tavaresae" faz referência à pesquisadora Sandra Tavares, paleontóloga reconhecida por suas contribuições à pesquisa paleontológica na região de Monte Alto, no interior de São Paulo. Ela é uma das responsáveis pelo Museu de Paleontologia da cidade, onde importantes fósseis da região são estudados e preservados.
O Epoidesuchus tavaresae tinha adaptações específicas para a caça de peixes. Sua dentição e mandíbula alongada indicavam que o "crocodilo feiticeiro" era um predador especializado. "A mandíbula lembra a dos gaviais, com uma disposição que sugere uma alimentação piscívora", afirmou Iori. Isso o diferenciava do Caipirasuchus, o "crocodilo caipira", que era herbívoro.
Ossos na Rodovia
Em 2011, uma obra de ampliação da rodovia que passa ao lado de Catanduva resultou na descoberta. "Na ocasião, dois colegas começaram a prospectar nessas rochas e acharam os primeiros fósseis", contou Iori. A partir daí, os materiais foram enviados ao Museu de Monte Alto para análise.
Desde então, a região tem revelado diversos fósseis. "Foram achados restos de dinossauros, escamas de peixes, materiais de crocodilos e anfíbios", disse o paleontólogo. O trabalho resultou na descrição de várias espécies, incluindo o Caipirasuchus catanduvensis e o Epoidesuchus tavaresae.
Durante o Cretáceo, a área de Catanduva abrigava dinossauros e crocodilos que ocupavam diferentes nichos ecológicos. "Tínhamos os Abelisauridae, dinossauros carnívoros, e os Baurusuchidae, crocodilos terrestres que estavam no topo da cadeia alimentar", relatou Iori. O Epoidesuchus tavaresae ocupava um nicho aquático, sendo adaptado para a caça de peixes.
Catanduva é uma das principais regiões fósseis do Brasil. "O noroeste paulista é uma fonte importante de fósseis do Cretáceo", disse Fabiano. A descoberta do Epoidesuchus fortalece a posição do Brasil no estudo dos crocodiliformes.
Descoberta contribui para o estudo da evolução dos crocodilos. A descoberta do Epoidesuchus tavaresae ajuda a entender a subfamília dos Pepesuchines, que se adaptou para hábitos aquáticos durante o Cretáceo. "Essa espécie amplia nosso conhecimento sobre a diversidade dos crocodiliformes da época", diz Iori.
O "crocodilo feiticeiro" faz parte de um grupo de crocodilos adaptados para habitats aquáticos, os Pepesuchines, que desenvolveram características especiais para a caça de peixes. "Enquanto os Baurusuchidae dominavam a terra firme, os Pepesuchines, como o Epoidesuchus, se especializaram em viver em ambientes aquáticos", explicou o paleontólogo. Essa diversificação é um exemplo claro da evolução paralela de crocodilos no Cretáceo.
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