Filha policial prende assassino do pai 25 anos após o crime: 'Lavei a alma'
Mais de 20 anos após perder o pai, morto a tiros, a policial civil Gislayne Silva de Deus, de 36 anos, participou nesta semana da operação para prender o assassino em Boa Vista (RR). Ela se inspirou a entrar na corporação para buscar justiça.
O que aconteceu
Filha mais velha da vítima, Gislayne estudou e entrou na Polícia Civil de Roraima. Após entrar na corporação, ela solicitou que fosse lotada na Delegacia de Homicídios para tentar encontrar o responsável pela morte de seu pai.
Pai da policial foi morto em fevereiro de 1999. Givaldo José Vicente de Deus, 36, foi atingido por disparos em um bar no bairro de Asa Branca, em Boa Vista. Antes do disparo, o atirador saiu do estabelecimento e retornou posteriormente com a arma de fogo e afirmou que iria matar Givaldo. Na época, Gislayne tinha apenas nove anos.
A motivação do crime teria sido uma dívida de R$ 150 da vítima com o agressor. Ele foi identificado como Raimundo Alves Gomes, 60, informou a SESP (Secretaria de Estado da Segurança Pública) de Roraima. Givaldo deixou cinco filhas pequenas, incluindo Gislayne.
Raimundo desapareceu após o crime. Em 2013, apesar de estar foragido, ele foi condenado pela Justiça de Roraima a 12 anos de reclusão em regime inicial fechado. Na ocasião, a família da vítima chegou a encontrar uma testemunha importante que não havia sido arrolada no processo judicial. Em 2014, a defesa do atirador entrou com recurso da decisão no tribunal do Estado, mas o pedido foi negado. O defensor de Raimundo ainda recorreu da sentença no STJ (Superior Tribunal de Justiça) em 2015, porém a defesa perdeu o prazo para recorrer às cortes superiores e a decisão transitou em julgado (ou seja, a sentença virou definitiva e não cabia mais recurso).
Em 2014, quando entrou com recurso da condenação, a defesa de Raimundo alegou que não houve dolo (intenção de praticar um ato criminoso). O defensor ainda declarou que o disparo havia sido acidental e que o réu prestou socorro e conduziu a vítima para atendimento médico. O desembargador Jefferson Fernandes da Silva, que analisou o pedido à época, argumentou que a versão de disparo acidental não era corroborada com a versão das testemunhas trazidas nos autos. Silva também não atendeu a solicitação da defesa e manteve a qualificadora de motivo fútil contra o acusado.
Apesar do crime ter ocorrido em 1999, o primeiro mandado de prisão contra Raimundo saiu apenas em 2016. Segundo Gislayne disse ao UOL, outro mandado contra o homem, com validade até 2031, foi emitido pela justiça em 2019. Com isso, o caso não prescreveu porque o judiciário levou em consideração a data em que o último mandado de prisão foi emitido e não quando ocorreu o crime.
Ele chegou a ser localizado em 2022, mas não foi preso. Na ocasião, um tio de Gislayne avistou Raimundo em Boa Vista, mas, na época, ela ainda não fazia parte da Polícia Civil de Roraima, e as tentativas de localizá-lo novamente foram frustradas.
Mas após anos de investigações, ele foi encontrado e preso na quarta-feira (25). O homem estava em uma região de chácaras, onde se escondia. Ele foi detido durante operação feita com apoio do Deint (Departamento e Inteligência) da SESP.
Policial civil deu voz de prisão ao acusado. "O ato encerra uma caçada de 25 anos e simboliza a vitória de uma família que, apesar do tempo, nunca desistiu de ver a justiça ser feita", disse a SESP.
Gislayne afirmou que a verdadeira vitória não foi sua ação direta na prisão, mas a justiça que finalmente se cumpriu após tantos anos. "Com a prisão dele, lavei minha alma e a de toda minha família. Foi o encerramento de um ciclo. Hoje temos paz e o sentimento de que a justiça foi feita", disse, emocionada.
A escrivã da Polícia Civil ressaltou que o desfecho marca o fim de uma longa jornada de dor e luta. "A prisão dele representa não apenas a reparação de uma injustiça, mas também o poder da perseverança em nome da justiça", disse.
O UOL busca a defesa do preso. A reportagem não conseguiu contato com os defensores de Raimundo. O espaço está aberto para caso de manifestação.
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