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Como foi emboscada que causou morte de Fernando Iggnácio em heliporto no RJ

Carro do contraventor Fernando Iggnácio Miranda atingido pelos tiros, estacionado ao lado da delegacia de homicídios do Rio de Janeiro. O veículo apresenta pelo menos quatro perfurações Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Do UOL, em São Paulo

29/10/2024 09h34Atualizada em 29/10/2024 10h32

O bicheiro Rogério de Andrade foi preso por suspeita de ordenar a emboscada que acabou na morte do contraventor Fernando Iggnácio. Crime foi em 10 de novembro de 2020.

O que aconteceu

Iggnácio foi morto após voltar de Angra dos Reis (RJ) em uma viagem de helicóptero. Ele tinha o costume de descer sozinho da aeronave no heliporto do Recreio dos Bandeirantes, ser conduzido por um carro até o estacionamento do heliporto, pegar o próprio veículo e voltar à área de aterrissagem dirigindo para buscar a esposa, Carmem Lúcia, filha de Castor de Andrade.

Ele foi atingido por tiros de fuzil AK-47 na cabeça quando estava a poucos metros do próprio carro. Os disparos também acertaram três veículos que estavam no estacionamento. Entre eles, estava o carro de Fernando, que era blindado e ficou com danos na lataria e nos vidros.

Esposa de Iggnácio não ficou ferida. Ela deixou o local no helicóptero após ouvir os tiros.

10.nov.2020 - Fernando Iggnácio Miranda, genro do contraventor Castor de Andrade, foi morto a tiros no heliporto do Recreio, na zona oeste do Rio de Janeiro Imagem: Reprodução

Suspeitos monitoravam vítima escondidos atrás de muro. Segundo as investigações policiais, os atiradores estavam de tocaia no local do crime e dispararam contra o contraventor de uma distância de menos de cinco metros, escondidos atrás de um muro.

Fuga por área de mata. Após disparar contra o bicheiro, os suspeitos percorreram uma área de mata de 15 mil m² e fugiram pelos fundos, usando uma escada para escalar um muro de 3 m antes de ir embora da área do heliporto.

Quatro homens foram presos por executar o crime no heliporto. Eles são Rodrigo Silva das Neves, Ygor Rodrigues Santos da Cruz; Pedro Emanuel D'Onofre Andrade Silva Cordeiro e Otto Samuel D'Onofre Andrade Silva Cordeiro. Além deles, foram presos Marcio Araujo de Souza e Rogério Costa de Andrade (suspeitos de ordenarem o crime) e Gilmar Eneas Lisboa (suspeito de monitorar a vítima).

Nova prisão de Rogério de Andrade

Contraventor Rogério de Andrade é preso no Rio de Janeiro Imagem: SBT Rio/Reprodução de vídeo

Contraventor foi preso nesta terça-feira (29) após nova denúncia do Ministério Público. O órgão afirma, mais uma vez, que Andrade é mandante do assassinato de Fernando de Miranda Iggnácio.

Bicheiro foi preso em casa, em um condomínio na Barra da Tijuca, área nobre do Rio de Janeiro. Ele foi levado à Cidade da Polícia, no bairro do Jacarezinho.

A operação também prendeu Gilmar Eneas Lisboa. Segundo o MP, Lisboa foi o responsável pelo monitoramento da vítima, auxiliando Andrade no crime.

Os dois foram denunciados pelo homicídio qualificado de Iggnácio. Esta não é a primeira denúncia feita pelo MP contra o bicheiro, que teve ação penal trancada pelo Supremo Tribunal Federal em 2022 por "falta de provas que demonstrem seu envolvimento com o crime".

Iggnácio e Rogério eram, respectivamente, genro e sobrinho do contraventor Castor de Andrade. Castor morreu em 1997 e, desde então, a violência na disputa pelo jogo do bicho no Rio de Janeiro escalou.

O UOL não encontrou a defesa dos presos até o momento. Em abril, o advogado de Andrade, André Callegari, formalizou o abandono da defesa dele.

Disputa entre Iggnácio e Andrade deixou rastro de mortes no Rio

Os dois mantinham uma sangrenta disputa pelo controle do jogo do bicho e de máquinas de caça-níqueis na zona oeste do Rio há mais de 20 anos. A briga teve início após a morte do contraventor Castor de Andrade em 1997. Segundo investigações da Polícia Federal, mais de 50 assassinatos até 2007 são atribuídos à guerra da contravenção.

Em 1998, o assassinato de Paulo Andrade, o Paulinho, escolhido como herdeiro do jogo do bicho, fez com que Fernando Iggnácio, seu cunhado, assumisse o lugar dele na disputa. Meses depois, a polícia identificou como autor dos disparos o ex-PM Jadir Simeone Duarte. Em depoimento, Duarte acusou Rogério de ser o mandante do crime.

O próprio Rogério foi vítima de uma tentativa de assassinato em 2010. Em abril daquele ano, o filho de Rogério de Andrade, com 17 anos na época, morreu em um atentado a bomba na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, quando o carro que dirigia explodiu.

Em 2007, Fernando Iggnácio foi preso pela Polícia Civil do Rio. Meses depois, Rogério Andrade foi pego pela Polícia Federal. Naquele mesmo ano, Rogério Andrade e Fernando Iggnácio foram alvo da operação Gladiador, da Polícia Federal, que investigou o esquema da dupla e a corrupção de policiais no Rio.

Quem é Rogério Andrade

Rogério assumiu os negócios do tio após a morte dele, em 1997. Ele era o braço direito de Castor e dividiu o espólio com Paulo Roberto de Andrade, filho do bicheiro, e Fernando Iggnácio, que era casado com Carmen Lúcia, filha de Castor.

O tio era muito ligado ao Carnaval carioca. Castor era um grande investidor da Mocidade Independente de Padre Miguel, desde os anos 1970. Ele, junto com a cúpula do jogo do bicho, foi um dos criadores da Liesa, a liga das escolas de samba do Rio. Assim, Rogério também herdou as funções do tio na escola e se tornou patrono. Sua presença nos desfiles é frequente.

O contraventor Rogério de Andrade Imagem: André Lobo/UOL

Fabíola, rainha da bateria da Mocidade, está com Rogério há dez anos. Eles têm dois filhos juntos. Fabíola já ocupou o cargo de musa da Mocidade em 2016 e é presença frequente nos desfiles e ensaios da agremiação.

Após a morte do tio, ele foi acusado de matar os demais herdeiros do espólio. Paulo Roberto foi assassinado no ano seguinte. Rogério chegou a ser apontado como mandante, mas foi absolvido posteriormente. Assim como Paulo, Iggnácio também foi assassinado. Rogério mais uma vez foi ligado à morte, mas a ação penal foi encerrada pelo STF.

Com a morte de Castor, os contraventores passaram a travar uma sangrenta disputa pelo controle do jogo do bicho. Segundo investigações da Polícia Federal, mais de 50 assassinatos até 2007 são atribuídos à guerra da contravenção.

Ele foi vítima de um atentado com granada. Em 2010, granadas foram instaladas dentro de seu carro. Seu filho Diogo morreu, mas Rogério sobreviveu, passando apenas por cirurgias no rosto. No documentário "Vale o Escrito", Rogério é descrito como "senhor do crime", por Bernardo Bello, ex-marido de Tamara Garcia, que faz parte de outra família importante no jogo do bicho carioca.

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