Conteúdo publicado há 22 dias

'Parecia a gente chegando de novo no velório', diz Anielle sobre ida a júri

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou que a ida com a família ao Tribunal de Justiça do Rio, na manhã desta quarta-feira (30), para acompanhar o júri dos acusados de matar sua irmã, Marielle, em 2018, a fez reviver o dia do velório.

"Quando cheguei no carro, lembrei da minha mãe, e falei para ela que parecia que a gente estava chegando de novo no velório. São quase sete anos de muita dor, de um vazio, de uma mulher que lutava exatamente contra isso", disse.

Anielle atendeu a imprensa ao lado da mãe, Marinete da Silva, do pai, Antonio Francisco da Silva, da sobrinha Luyara Santos e da viúva do motorista Anderson Gomes, vitimado junto de Marielle, Agata Arnaus. Familiares estavam muito emocionados e foram recebidos por militantes e famílias de outras pessoas mortas violentamente no Rio de Janeiro nos últimos anos.

Perguntaram para gente qual era o maior legado da Marielle, acho que o maior legado dela é isso aqui: as pessoas que entendem, que têm lutado, lado a lado conosco. Hoje o simbolismo da palavra justiça vai muito além do que vai acontecer
Anielle Franco

No início da manhã, sete homens foram sorteados para formar o Conselho de Sentença. Os nomes, idades e profissões dos jurados serão mantidos em sigilo.

Na primeira fileira do plenário, estão sentados lado a lado, na sequência: o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), pai da Marielle, Anielle e filha da Marielle. Mãe da Marielle e a viúva do motorista Anderson Gomes não estão acompanhando o primeiro depoimento.

Primeira testemunha é a única sobrevivente do crime: a assessora de imprensa Fernanda Chaves, 50, que é também a principal pessoa a ser ouvida. O Ministério Público quer a pena máxima dos acusados, que pode chegar a 84 anos de prisão. O processo que levou à prisão de Lessa e Queiroz tem 13.680 folhas, 68 volumes e 58 anexos. A juíza responsável é Lúcia Mothé Glioche, titular da 4ª Vara Criminal do Rio.

Réus confessos

Ronnie Lessa (esq.) e Élcio de Queiroz (dir.)
Ronnie Lessa (esq.) e Élcio de Queiroz (dir.) Imagem: Reprodução/MP
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Os ex-policiais militares Ronnie Lessa, 54, e Élcio de Queiroz, 51, assumiram participação no crime. Lessa admitiu ter atirado contra Marielle e Anderson. Queiroz teria participado do planejamento, monitorado a vereadora e dirigido o carro, um Cobalt prata, utilizado no duplo homicídio.

A previsão inicial é de que o julgamento dure pelo menos dois dias. Ao todo, nove testemunhas serão ouvidas no 4º Tribunal do Júri do Rio, sendo sete pessoas indicadas pelo MP e as outras duas pela defesa de Lessa.

Após o júri ouvir as testemunhas e os réus, os advogados de Lessa e Queiroz e o promotor designado vão debater o processo para tentar convencer os jurados — membros previamente sorteados para compor o conselho de sentença.

Motivação

Segundo o Ministério Público, os criminosos se livraram das armas utilizadas no crime jogando-as no mar, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, local onde Lessa vivia e seu reduto de ações ligadas a um grupo miliciano.

Em delação premiada à Polícia Federal, Lessa afirmou que foi contratado por Domingos Brazão, conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), e por Chiquinho Brazão (sem partido), deputado federal, para assassinar a vereadora. Os irmãos Brazão negam envolvimento no crime.

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O delator também disse que o delegado Rivaldo Barbosa, que assumiu a chefia da Polícia Civil um dia antes do crime, recebeu propina para proteger os atiradores e os mandantes dos assassinatos. O delegado nega.

Lessa afirmou que a motivação do crime teve como principal motivação grilagem de terras na zona oeste da capital fluminense. Segundo ele, Marielle se opôs numa discussão na Câmara dos Vereadores sobre um texto que previa flexibilizar exigências legais, urbanísticas e ambientais para a regularização de imóveis.

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