Filho de 4 anos de vítima da Operação Verão é morto em outra ação policial
Um menino de 4 anos morreu após ser atingido por um tiro na barriga em meio a uma ação policial na noite desta terça-feira (5), em Santos, no litoral de SP. Ele era filho de Leonel Andrade, homem fotografado de muletas e sentado na calçada, um hora antes de ser morto na Operação Verão, há 9 meses.
O que aconteceu
Criança brincava na rua no Morro do São Bento, em Santos, momentos antes dos disparos. O UOL teve acesso a um vídeo que mostra Ryan da Silva Andrade Santos, 4, se divertindo no local. "Volta pra mim, filho", escreveu a mãe, que autorizou a utilização das imagens do menino na reportagem. Ryan chegou a ser levado à Santa Casa, mas não resistiu ao ferimento.
Polícia Civil disse ter aberto inquérito para apurar a origem do disparo. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que fará perícia nas armas apreendidas dos policiais militares envolvidos na ocorrência e no local onde a criança foi baleada. Segundo a PM, sete policiais envolvidos na ação foram afastados das ruas.
A PM disse que fazia patrulhamento quando foi atacada por um grupo de dez suspeitos e revidou disparos. Além de Ryan, um adolescente de 17 anos morreu e outro de 15 foi baleado na ação. Moradores contestam a versão da PM e negam o confronto.
Mãe de menino disse que tinha uma medida de proteção contra a PM após a morte do marido. Questionada, a SSP não se posicionou sobre o caso. Assim que houver manifestação, ela será incluída nesta reportagem.
Não teve confronto, os 'meninos' só fugiram [suspeitos de envolvimento com o tráfico ao perceber a aproximação policial]. A gente estava na rua, as crianças estavam brincando. Quando a polícia começou a atirar, a gente saiu correndo. Quando vi, tinha muito sangue no chão. E era do meu filho, que tinha sido baleado. Estou arrasada, eu perdi um pedaço de mim.
Beatriz da Silva Rosa, mãe de Ryan
Como foi morte de pai de Ryan
O pai de Ryan foi fotografado uma hora antes de ser morto em uma ação policial em fevereiro deste ano em Santos. A família nega confronto, mas a PM sempre afirmou que Leonel Andrade Santos atirou contra os policiais.
Uma foto obtida pelo UOL mostra Leonel ao lado das muletas, às 20h03 de 9 de fevereiro. Além dele, Jefferson Ramos Miranda morreu na mesma ação, também atingido por disparos da PM.
Moradora fez registro para indicar local de uma entrega. O objetivo era auxiliar um motoboy a localizar onde ela morava e fazer uma entrega. "Eu estava na rua esperando um motoboy, e o Leonel acabou aparecendo. Minutos depois, aconteceram os tiros", diz a testemunha, que não se identificou.
Testemunhas ouvidas pelo UOL no local do crime contestaram a versão das forças de segurança, negando que os homens mortos estivessem armados. Ainda que tenham testemunhado a ação, os moradores que estavam próximos ao local dos disparos disseram que não foram procurados pela Polícia Civil, que investiga o caso.
Resposta do governo de São Paulo ao assassinato de três policiais, a Operação Verão deixou um saldo de 56 mortes na Baixada Santista e divergências de versões. Sem imagens de câmeras nas fardas dos agentes, a ação foi encerrada no dia 1º de abril com uma lista de suspeitas de ilegalidades.
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