Delator do PCC falou sobre plano para matá-lo meses antes de assassinato
Meses antes de ser assassinado, o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach falou em entrevista sobre um plano para matá-lo. Ele estava ameaçado pelo PCC e foi morto a tiros de fuzil em um atentado na tarde desta sexta-feira no aeroporto de Guarulhos (SP).
O que aconteceu
Empresário negou envolvimento em assassinato de membros do PCC. Em entrevista há seis meses ao programa Domingo Espetacular, da Record TV, ele disse não ter relação com as mortes de Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, assassinados em dezembro de 2021. "Eu não mandei matar ninguém".
"Estou tentando um novo recomeço, tentando provar a minha inocência e retomar a minha vida como era antes", disse. Denunciado pela Justiça, Gritzbach ficou preso pelos homicídios, mas respondia ao processo em liberdade desde junho de 2023, quando foi solto e passou a usar tornozeleira eletrônica.
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Delator do PCC disse que Cara Preta "era uma pessoa do bem" e negou que conhecesse o seu apelido no mundo do crime. "Era uma relação de cliente, minha atribuição era intermediar a compra e vende de imóveis. [Ele disse que] queria investir e fez uma compra de R$ 12 milhões. Era uma pessoa que tinha família, que frequentou o escritório algumas vezes", disse o empresário em entrevista à Record TV.
Gritzbach também falou sobre o episódio em que havia escapado de um atentado no Natal de 2023. O ataque ocorreu no prédio onde ele morava no Jardim Anália Franco, no Tatuapé, na zona leste da capital paulista. Na ocasião, um atirador disparou quando ele se aproximou da janela para fazer uma filmagem com o celular. Ninguém se feriu. O empresário passava o Natal com o pai, filhos e tios.
O plano deles [criminosos ligados ao PCC] deu errado a partir do momento que eu não morri. Pessoas orquestraram um plano para me matar.
Antônio Gritzbach, em entrevista à Record TV
Cronologia do atentado
Retorno de Maceió. O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach deixou Alagoas rumo a São Paulo e desembarcou no aeroporto de Guarulhos após voltar de uma viagem com a namorada, cujo nome não foi divulgado, e o motorista Danilo Silva Lima, 35.
Suposto problema em um dos carros da escolta do empresário. A segurança era feita por quatro policiais militares contratados como segurança pelo empresário. Segundo a Polícia Civil, o Volkswagen Amarok apresentou uma falha e foi deixado em um posto de combustível sem acessar a área de desembarque. A investigação irá apurar se houve mesmo falha mecânica ou se episódio pode estar relacionado com o crime.
Filho e amigo de Gritzbach foram levados do local pelos seguranças particulares do empresário. Eles chegaram ao terminal 2 no veículo Trailblazer, o outro veículo da escolta.
16h03: hora do crime
Assim que deixa o saguão do aeroporto, o empresário é assassinado por dois homens encapuzados com fuzis. Os atiradores entraram em um Gol preto e fugiram do local.
As imagens mostram, no meio do tiroteio, passageiros correndo com suas malas e funcionários tentando escapar. A ação deixou outras três pessoas feridas, que não tinham relação com Gritzbach.
Depois do ataque
Namorada do empresário deixa o local antes da chegada da polícia. Ela foi embora com um dos PMs que integrava a escolta do empresário e não foi ouvida pelas autoridades.
Feridos foram levados ao Hospital Geral de Guarulhos. O motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, foi atingido por um tiro nas costas e está na UTI. Ainda em observação no hospital, o funcionário de uma empresa terceirizada do aeroporto, Willian Sousa Santos, 39, sofreu ferimentos na mão direita e no ombro. Ferida superficialmente no abdômen, Samara Lima de Oliveira, 28, teve alta.
O veículo usado no crime foi abandonado nas imediações do aeroporto. Dentro dele, havia munição de fuzil e um colete à prova de balas.
O setor do aeroporto foi fechado para perícia e os funcionários foram orientados a deixar o local e não relatar o ocorrido. Saguão ficou com marcas de bala e o corpo do empresário, sob manta térmica, foi retirado por volta das 21h. Até a reabertura da área, cerca de cinco horas depois, todos os desembarques estavam acontecendo no andar superior.
Policiais militares que faziam a escolta do empresário morto prestaram depoimento e tiveram os seus celulares apreendidos. Os agentes foram identificados como Leandro Ortiz, 39, Adolfo Oliveira Chagas, 34, Jefferson Silva Marques de Sousa, 29, e Romarks César Ferreira de Lima, 35.
A polícia investiga se ele foi assassinado a mando do PCC. Mas não descarta outras possibilidades, como queima de arquivo, já que havia assinado acordo de delação premiada e tinha vários inimigos agentes públicos, a quem disse ter pago altos valores em propinas.