Conteúdo publicado há 3 meses
Josmar Jozino

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Reportagem

Turma do PCC no Tatuapé agenciou até atletas do Corinthians, aponta delação

Rafael Maeda Pires, 31, o Japa, apontado pelo MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) como homem forte do PCC (Primeiro Comando da Capital) até maio de 2023, quando foi encontrado morto no Tatuapé, zona leste paulistana, agenciava jogadores de times grandes do futebol paulista.

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) investiga se as contratações dos atletas foram bancadas licitamente ou com capital proveniente do tráfico de drogas comandado por integrantes da facção criminosa, em um esquema de lavagem de dinheiro.

Uma delação feita em março deste ano ao Gaeco, órgão subordinado ao MP-SP, sinaliza que Japa intermediou o agenciamento de vários jogadores de futebol, como Du Queiroz e Igor Formiga, ex-atletas do Corinthians. As negociações aconteceram em 2021.

Promotores de Justiça tiveram acesso às mensagens de telefone celular enviadas para Japa por parceiros dele, via WhatsApp, contendo comentários sobre as contratações. Há também cópias de contratos e compartilhamentos de comprovantes de transferências bancárias. As mensagens indicam ainda que Japa e seu grupo tinham "livre trânsito" com dirigentes do Corinthians.

Nas redes sociais, o Corinthians diz que "recebeu, com enorme surpresa, a notícia da possibilidade de atletas supostamente agenciados por integrantes do crime organizado terem formalizado contratos com o clube."

"É de se ressaltar que, de acordo com o conteúdo das matérias veiculadas, tais contratos teriam sido celebrados anteriormente à gestão atual. O Corinthians, mais uma vez, se coloca à disposição para fornecer quaisquer documentos que as autoridades reputem importantes e, também, prestar qualquer esclarecimento necessário à completa apuração dos fatos", completa o texto.

Rafael Maeda Pires,  o Japa
Rafael Maeda Pires, o Japa Imagem: Divulgação

Japa foi encontrado morto em 14 de maio do ano passado com dois ferimentos na cabeça dentro de um Corolla preto, blindado, no subsolo do edifício comercial Castelhana Offices, no Tatuapé, zona leste, palco de uma guerra com várias baixas envolvendo narcotraficantes ligados ao PCC.

A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar um possível caso de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. A suspeita das autoridades era a de que Japa tinha sido obrigado a se matar por ordem do "tribunal do crime" do PCC, caso contrário seria assassinado.

O caso, no entanto, pode ter desdobramento e a possibilidade de Japa ter sido assassinado, inclusive com a participação de policiais civis, não está descartada. Essa hipótese é investigada pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

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Mandados de busca e apreensão

Na última sexta-feira (16), o DHPP e a Corregedoria da Polícia Civil cumpriram mandados de busca e apreensão em 13 endereços de investigados que guardam relação com os momentos anteriores à morte de Japa. Foram apreendidos duas pistolas, um fuzil, duas barras de ouro e telefones celulares.

Uma hora antes de ser encontrado morto, Japa enviou pelo telefone celular a seguinte mensagem para a mulher dele: "Cuida bem da nenê. Eu te amo".

Queima de arquivo

Japa foi investigado por suposta participação na trama que envolve a prisão do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, acusado de mandar matar Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, outro homem forte do PCC, e o motorista dele. Ambos foram assassinados a tiros em dezembro de 2021 no Tatuapé.

Policiais disseram que Cara Preta e Japa eram amigos e chefes do tráfico de drogas na favela Caixa D'Água, em Cangaíba, zona leste. Segundo a polícia, Vinícius mandou matar Cara Preta porque recebeu da vítima R$ 40 milhões para investir em criptomoeda, desviou o dinheiro e o golpe foi descoberto.

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Vinícius foi indiciado pelo duplo homicídio. Ele ficou preso, mas agora responde ao processo em liberdade e nega envolvimento no crime. No dia do assassinato de Cara Preta e do motorista dele, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, o empresário foi sequestrado.

Ele alegou que Japa foi um dos homens que o levaram para dois cativeiros e o libertaram. De acordo com as investigações, o empresário pagou R$ 200 mil para o atirador Nóe Alves Schaun, 42, matar Cara Preta. O pistoleiro teria sido contratado pelo agente penitenciário David Moreira da Silva.

Depois da morte de Cara Preta, o "tribunal do crime" do PCC entrou em ação para descobrir os assassinos e a motivação do caso. Japa e Cláudio Marcos de Almeida, 50, o Django, outro chefe do tráfico de drogas na Favela Caixa D'água, foram recrutados pela facção criminosa para "presidir o júri".

Vinícius só não foi morto em um dos cativeiros graças à intervenção de Django. Porém, por agir em defesa do empresário e não ter impedido o assassinato de Cara Preta, Django foi enforcado e jogado sob o Viaduto da Vila Matilde, zona leste, em 23 de janeiro de 2022.

Noé também foi decretado à morte pelo "tribunal do crime" do PCC e acabou torturado, esquartejado e teve a cabeça decepada. Ao lado dos restos mortais havia um bilhete do PCC chamando-o de "pilantra" e de assassino de Cara Preta e Sem Sangue.

A polícia suspeitava que Japa tinha dado a ordem para matar Noé e Django e que poderia ter sido induzido pelo PCC a cometer suicídio. Agora, a possibilidade de Japa ter sido assassinado como queima de arquivo já não é descartada. A reportagem não conseguiu falar com os advogados dele.

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As defesas de Vinícius e David afirmam que os clientes são inocentes de todas as acusações e que tudo será provado no curso processual.

Reportagem

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