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Polícia investiga baú trancado: o que se sabe sobre caso do veneno no arroz

Colaboração para o UOL

10/01/2025 05h30

A morte de quatro pessoas de uma mesma família em Parnaíba, no Piauí, após ingerirem arroz contaminado com veneno, expõe conflitos familiares, mas ainda há pontos a esclarecer.

O que se sabe sobre o caso

Quatro mortes em família colocaram padrasto sob suspeita. Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, foi preso temporariamente sob acusação de envenenar a família com arroz contaminado por terbufós, um inseticida de alta toxicidade. O crime aconteceu no dia 1º de janeiro, após a ceia de Ano-Novo.

A casa onde o crime ocorreu abrigava 11 pessoas. Francisco vivia com sua esposa, Maria dos Aflitos, os seis filhos dela e três netos. As vítimas foram Francisca Maria da Silva, 32 (enteada de Francisco); Manoel Leandro da Silva, 18 (irmão de Francisca); e duas crianças, filhas de Francisca: Igno Davi Silva, de 1 ano e 8 meses, e Maria Lauane Fontenele, de 3.

O padrasto tinha um relacionamento conturbado com os enteados. Segundo o delegado Abimael Silva, Francisco nutria um ódio particular por Francisca Maria, uma das vítimas.

Ele teria manifestado a raiva pela enteada no leito de morte. Segundo o delegado, Francisco não escondia o desprezo por Francisca, mesmo quando ela já estava gravemente debilitada no hospital. Esse comportamento reforça a hipótese de um crime premeditado e motivado por sentimentos de raiva.

Desprezo e ódio pelos enteados são apontados como a principal motivação. Durante os depoimentos, Francisco teria descrito Francisca com termos depreciativos como "boba", "matuta" e "inútil". Ele também chamou os filhos de sua esposa de "primatas" e demonstrou incômodo constante com a presença deles.

A investigação indicou a presença de veneno no arroz. O terbufós é um agrotóxico de uso restrito no Brasil, autorizado apenas para aplicações agrícolas. Sua comercialização é permitida apenas para produtores rurais devidamente cadastrados e treinados para seu manuseio seguro.

Apesar das restrições, há registros de comercialização ilegal de terbufós no Brasil. Ele é vendido irregularmente na forma do chamado "chumbinho", um veneno clandestino utilizado como raticida, segundo a Anvisa. A venda e o uso do "chumbinho" são proibidos e configuram crime, devido aos graves riscos à saúde pública.

Contradições nos depoimentos levantaram suspeitas. Francisco forneceu três versões diferentes sobre seu contato com a comida. Primeiro, negou ter se aproximado da panela, depois admitiu, e, por fim, negou novamente ter orientado o uso do arroz.

O que falta esclarecer

A polícia busca descobrir como Francisco obteve acesso ao terbufós. A substância, restrita e de uso agrícola, teria sido escondida em um baú próximo ao fogão, de acesso exclusivo do suspeito. Esse baú azul de madeira estava trancado com cadeado —a análise pode fornecer pistas importantes sobre a dinâmica do envenenamento e a responsabilidade do suspeito.

É preciso entender por que Francisco também ingeriu uma porção do alimento envenenado. Ele não apresentou sintomas graves, e a hipótese de autointoxicação para desviar suspeitas ainda precisa ser confirmada.

Revistas com temática nazista estão em análise para saber se há relação com o crime. Documentos, celulares e outros itens estão sob perícia. Os agentes encontraram diversas revistas entre os pertences do suspeito, tendo o nazismo como tema principal. Esses elementos podem revelar mais detalhes sobre a motivação e possíveis cúmplices.

A polícia encontrou diversas revistas com temática nazista nos pertences de Francisco, preso temporariamente Imagem: Divulgação/Polícia Civil do Piauí

Investigação continua

Agentes encontraram um baú azul trancado com cadeado, que o suspeito pode ter usado para ocultar o veneno da família Imagem: Divulgação/Polícia Civil

A polícia pede para a população evitar julgamentos precipitados. Segundo o delegado, a investigação continua em andamento, e a prisão temporária foi decretada para proteger a família e permitir o aprofundamento das investigações.

Conclusão do inquérito está prevista para o fim do mês. Enquanto isso, a polícia trabalha para esclarecer todas as dúvidas, incluindo o papel de Francisco na trama.

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