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Apesar de apoio de Bolsonaro, candidatos colados à sua imagem não decolam

05.out.2020 - Celso Russomanno (Republicanos) é o candidato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em São Paulo, mas ainda não conseguiu deslanchar nas pesquisas de intenção de voto Imagem: RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

31/10/2020 04h00Atualizada em 31/10/2020 07h41

Apesar do apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), candidatos a prefeito que colaram suas imagens à dele ainda não decolaram nas pesquisas de intenção de voto a 15 dias do primeiro turno das eleições.

Até esta semana, Bolsonaro havia optado oficialmente por não se engajar nas campanhas municipais, embora tenha dado aval para o uso de seu nome e sua imagem por alguns candidatos, como Celso Russomanno (Republicanos), em São Paulo, Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio de Janeiro, e Bruno Engler (PRTB), em Belo Horizonte.

Russomanno, que caiu sete pontos percentuais no último Datafolha e cinco no Ibope, chegou a retirar recentemente a menção ao presidente em vídeos de campanha e jingles e passou a priorizar os ataques ao prefeito Bruno Covas (PSDB) e ao governador João Doria, também tucano. Só voltou a posar foto ao lado de Bolsonaro, ontem, após o chefe do Executivo pedir, pela primeira vez, voto em sua candidatura.

Já Crivella, estagnado nas pesquisas, foi a Brasília para conseguir gravar com o presidente um vídeo de apoio à campanha.

Em São Paulo, o marqueteiro de Russomanno, Elsinho Mouco, disse que previsão é que Russomanno e Bolsonaro gravem vídeos para a disputa na próxima semana. A ideia é mostrar que o presidente avaliza propostas do candidato, como o 'auxílio paulistano' — espécie de complementação do auxílio emergencial federal—, o 'auxílio-saúde' e estímulo à regularização de moradias na periferia de São Paulo.

Na avaliação da equipe de Russomanno, ainda que ele não tenha decolado, o bolsonarismo lhe oferece um "colchão de proteção".

Numa eleição com muitos candidatos —são 13 nomes à prefeitura de São Paulo—, o mais importante é garanti-lo num piso de 20% das intenções de voto para sobreviver ao primeiro turno. Para o estafe de Russomanno, isso só é viável por meio da ligação com Bolsonaro, fator com o qual Russomanno não contava em eleições passadas.

Marcelo Crivella (Republicanos) foi ao Palácio da Alvorada, em Brasília, nesta sexta (30) para gravar vídeo com Bolsonaro. Na foto, conversam durante café da manhã Imagem: Divulgação/Assessoria

No Rio, embolado no segundo lugar nas pesquisas com a Delegada Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT), Crivella repisa diariamente ser o candidato de Bolsonaro, o nome da direita e o defensor do conservadorismo e da religião.

Já em Belo Horizonte, a perspectiva de Bruno Engler de chegar à Prefeitura é ainda pior. Embora destaque imagens e vídeo com Bolsonaro, além de espalhar a expressão "Fechado com Bolsonaro" nas redes sociais, ele conta com apenas 3% das intenções de voto. O atual prefeito e candidato à reeleição, Alexandre Kalil (PSD), lidera com 63%.

Ao comentar sobre a situação de Engler em Belo Horizonte nesta semana, Bolsonaro afirmou que vai atuar "discretamente" na campanha, mas disse não ter condições de ir à capital mineira por falta de dinheiro e segurança.

Em Salvador, Cézar Leite (PRTB) tem 1% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope divulgada ontem. Assim como Engler, Leite é do mesmo partido que o vice-presidente da República e chegou a gravar campanha ao lado de Hamilton Mourão —no qual é chamado de aliado de Bolsonaro.

Já em Manaus, há uma disputa entre candidatos para se venderem como o favorito do presidente, embora nenhum deles tenha deslanchado, como Capitão Alberto Neto (Republicanos) e Coronel Alfredo Menezes (Patriota). Eles têm 9% e 5% das intenções de voto, respectivamente, mostra a última Ibope divulgada nesta quarta (28).

A situação mais favorável para um candidato de Bolsonaro é em Fortaleza, onde Capitão Wagner (Pros) lidera as intenções de voto com 33% contra 24% da segunda colocada, Luizianne Lins (PT), de acordo com pesquisa Datafolha apresentada em 17 de outubro. Porém, diferentemente do que ocorre com candidatos em outras capitais, menções de Wagner a Bolsonaro o Ceará são escassas.

Presidente não é cabo eleitoral decisivo

O cientista político da UnB (Universidade de Brasília) Lúcio Rennó afirma que a dinâmica local das cidades é o que rege a eleição municipal e não se deve esperar que um presidente da República tenha influência tão marcante no pleito para prefeitos.

Por outro lado, Rennó destaca o crescimento de candidatos alinhados a posições conservadoras como influência indireta do bolsonarismo. "Cada estado, cada cidade tem um Bolsonaro para chamar de seu. Mesmo que não tenha o apoio declarado dele", afirma.

David Fleischer, também cientista político da UnB, reforça que a personalidade e capacidade de cada candidato em atrair o eleitorado é o determinante em pleitos municipais. Para ele, Russomanno e Crivella não decolaram pelo histórico desfavorável que têm perante a população de suas cidades. Nesse caso, não há transferência de voto de Bolsonaro que funcione, fala.

"O problema é deles mesmo. Crivella tem várias acusações contra ele. Russomanno sempre morre na praia. São o que chamam de missão impossível. Você tem até o caso do Lula tentando levantar Jilmar Tatto, sem sucesso", cita.

Sem partido desde novembro do ano passado, Bolsonaro havia adotado a estratégia de não participar ativamente das eleições municipais para não desagradar membros da base aliada em construção no Congresso Nacional, além de avaliar a força de políticos visando a reeleição de 2022.

Para Rennó, Bolsonaro está numa situação conveniente, pois não se poderá falar que ele ganhou ou perdeu nas eleições sem estar vinculado a uma sigla. O cientista político também lembra que o presidente foi eleito sem uma rede de prefeitos consolidada e avalia que isso não deverá fazer diferença para uma eventual reeleição.

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