Russomanno já foi acusado em B.O. de tentar furtar gerador de R$ 120 mil
Celso Russomanno em agenda de campanha no Ceagesp Imagem: ALOISIO MAURICIO/ESTADÃO CONTEÚDO
Wanderley Preite Sobrinho
Do UOL, em São Paulo
31/10/2020 04h00
Candidato a prefeito de São Paulo, o apresentador e deputado federal Celso Russomanno (Republicanos) foi acusado em um B.O (Boletim de Ocorrência) de tentar furtar um gerador de energia de R$ 120 mil do prédio onde funcionou o Restaurante e Bar do Alemão, em Brasília, do qual era sócio.
Russomanno teve contas e bens penhorados por não pagar 18 meses de aluguéis ao empresário João Carlos Cendron, dono do prédio onde funcionava o estabelecimento. Para quitar parte da dívida, hoje em R$ 7,1 milhões, a Justiça determinou que os móveis e maquinários do Bar do Alemão ficassem no complexo de 2.786 m².
Segundo os cálculos do próprio Bar do Alemão, esse patrimônio —que incluía mesas, cadeiras, aparelhos de ar-condicionado— valia R$ 2,5 milhões. Entre os bens, figurava um gerador de energia de duas toneladas avaliado em R$ 120 mil em 2017, segundo o B.O.
Gerador de 2 tolenadas instalado na parte exterior do antigo Bar do Alemão
Imagem: ReproduçãoA acusação
Quase um ano depois do processo judicial que despejou o bar, Russomanno apareceu no endereço com um assessor pessoal e um caminhão de uma transportadora para levar o gerador com ele. É o que diz Cendron no B.O, registrado no dia 5 de maio de 2017 na 5ª Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal.
Caminhão da transportadora estacionado para transportar o gerador de 2 toneladas
Imagem: ReproduçãoPor volta das 17h do dia 4, "o deputado Celso Russomanno, junto de seu assessor, foi ao local onde está guardado o gerador (antigo Bar do Alemão) na tentativa de levá-lo", relata o empresário no B.O.
Para isso, contrataram os serviços de um caminhão (...) para carregar o gerador, que pesa mais de duas toneladas João Carlos Cendron, em boletim de ocorrência
Segundo o relato, os funcionários da transportadora "chegaram a tirar os parafusos do gerador [que o prendiam ao chão], mas foram impedidos de removê-lo do local pelo vigia Wellington".
Mensagem no WhatsApp confirma contratação de caminhão por Russomanno
Imagem: ReproduçãoWellington ligou para o dono do imóvel, que correu para o endereço. "Neste momento, o assessor e os funcionários da transportadora ainda estavam lá e só foram demovidos da ideia porque o dono do prédio disse que estariam cometendo um crime", continua o relato.
Para comprovar a acusação, o empresário entregou à polícia vídeos, fotos do gerador e do caminhão estacionado em frente ao prédio e uma mensagem de WhatsApp em que o proprietário da transportadora informa que foi contratado por Russomanno (ao lado).
Acordo impediu processo
A disputa foi parar no Ministério Público, que fez um acordo com Russomanno, ratificado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal em 27 de junho do ano passado. Nele, Russomanno e seu assessor se livraram de ação judicial ao pagarem R$ 1.000 cada um "na forma de bens materiais" em favor do Lar dos Velhinhos.
Eles se comprometeram a doar gêneros alimentícios, material de limpeza, de escritório, pintura, reparos e medicamentos.
Na ocasião, Russomanno negou que quisesse furtar o gerador de energia. Segundo o Termo de Audiência, "o sr. Celso afirmou que não teve a intenção de retirar o gerador ilegalmente; que não praticou, a seu ver, qualquer conduta delituosa, tampouco seu assessor, porque não sabia que o gerador em questão estava dado em garantia da dívida".
Russomanno disse ainda que o gerador "estava do lado de fora do restaurante" e que "lá chegando, enquanto estacionavam, recebeu uma ligação" informando que o aparelho não poderia ser retirado.
O parlamentar afirmou que, "ao saber disto, imediatamente interrompeu as operações (...) e foram embora deixando o gerador no local".
Apesar de ter consciência de sua inocência e de seu assessor, vai aceitar a transação penal (...) uma vez que não tem tempo de irem em outras audiências e ter mais aborrecimentos com a Justiça Celso Russomanno, em termo de audiência
"Ficam os beneficiários [do acordo] advertidos de que deverão cumprir tudo o que restou acordado sob pena de ser reconsiderado o acordo com prosseguimento do andamento do processo até a sentença final", escreve a juíza Elisabeth Amarante Minaré.
Ao UOL, o advogado do deputado, Arthur Rollo, afirmou que "a ideia da retirada do gerador era vendê-lo para pagar os valores cobrados, a título de aluguéis".
"O gerador pertencia à pessoa jurídica 'Bar do Alemão' e não aos proprietários do imóvel. Se o proprietário busca no imóvel bem móvel que lhe pertence, não existe crime", diz. "O fato de o bem estar garantindo a dívida não significa, necessariamente, que ele deve permanecer em poder do credor."
No "Auto de Despejo", porém, a oficial de Justiça Lunice de Oliveira escreve que deixou "os bens em mãos e poder do sr. João Carlos Cendron (...) o qual, na qualidade de fiel depositário deste juízo, obrigou-se a não abrir mão dos mesmos sem prévia autorização deste juízo".
"Como fiel depositário, meu cliente poderia ser preso se desaparecesse algum bem", diz o advogado de Cendron, André da Mata. "Agora o gerador está chumbado no chão."
Página do “Auto de Despejo”, assinado em agosto de 2016, em que o gerador é o segundo ítem relacionado na "área externa" do prédio onde funcionou o Bar do Alemão
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