Bruno Covas é reeleito

Aposta no discurso da experiência e aliança ampla ajudam tucano a driblar 2º turno cheio de notícias adversas

Felipe Pereira Do UOL, em São Paulo Arte/UOL

Bruno Covas (PSDB) foi reeleito prefeito de São Paulo neste domingo (29) com 59,38%. Encabeçando uma aliança de 11 partidos, conseguiu uma diferença de votos maior do que as pesquisas indicavam até o sábado.

Foi, ao final, um reconhecimento da estratégia traçada já no primeiro turno de bater na tecla da experiência administrativa. Na hora do aperto, quando Guilherme Boulos (PSOL) engatou uma subida, também sobrou espaço para alfinetadas no rival e até ataques terceirizados de aliados.

Covas largou na liderança nas pesquisas de segundo turno. Ele se manteve estagnado e observou seu adversário crescer acima da margem de erro. O prefeito viu o boletim de ocorrência por violência doméstica registrado pela mulher de seu vice, Ricardo Nunes (MDB), se tornar o sétimo assunto mais procurado no Google num momento crítico da última semana de campanha.

Sempre polido, Covas chegou a perder a paciência ao falar do caso em sabatina da CBN. Teve de reiterar, por mais de uma vez, colocar a mão no fogo pelo vice e sair em sua defesa. Por falar em casos, os de covid-19 também aumentaram durante a disputa, se tornando outro tema recorrente e de desgaste para a atual gestão.

Na quinta-feira, outro baque. Veio à tona uma história controversa com cestas básicas, que levou Boulos a entrar com uma ação na Justiça Eleitoral por abuso de poder público.

Apesar do temperamento combativo do adversário, o PSDB sabia o que iria enfrentar. Na visão do partido, Boulos interpretou um personagem, ao trocar um perfil classificado como confrontador por um comportamento paz e amor que aglutinou a esquerda e conquistou o eleitorado jovem.

No final, o prefeito venceu. Com mais trabalho que o esperado, Covas tem mais quatro anos à frente da cidade.

A vitória de Bruno

Tucano é reeleito prefeito de São Paulo

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O político tradicional

Logo nas primeiras propagandas de rádio e TV, Covas se apresentou como político tradicional. Aliados o descrevem como uma pessoa calma que se preparou para a atividade pública se formando em direito e economia. Também houve o aprendizado absorvido em casa. Neto de Mário Covas, ele se mudou para o Palácio dos Bandeirantes quando o avô era governador de São Paulo.

Na campanha, Covas realmente agiu como político. No domingo antes da eleição, rezou com evangélicos. No dia seguinte, estava caminhando com o vereador Thammy Miranda (PL). Ele é um dos candidatos transexuais eleitos neste ano. No figurino de candidato em busca de votos, Covas fez até carinho em um porco vestido com roupa que estampava o slogan sua campanha.

O prefeito trafega bem neste meio pet porque não esconde o amor que tem por um cão da raça staffordshire bull terrier que volta e meia aparece em seu Instagram porque comeu o iogurte do dono ou rasgou uma almofada. Mas, na reta final da campanha, as agendas de Covas iam além de afagos em bichos de estimação.

Ele fazia um apelo a líderes comunitários, de movimentos sociais e religiosos: que mobilizassem as pessoas para votar. A abstenção foi uma preocupação. O prefeito liderava com folga as pesquisas entre os idosos, mas havia temor de eles não saírem de casa por causa da covid-19. Na última semana, a campanha de Covas produziu vídeos com senhoras lembrando as recomendações de proteção e pedindo para as pessoas votarem.

A apuração mostrou que o figurino do político deu certo. Integrantes do PSDB acreditam que a ponderação que o prefeito transmite combinou com o desejo da população, cansada de polêmicas do governo federal, que consomem energia, mas não rendem soluções.

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Aliados e o vice

Prefeito cercado de aliados na administração municipal, Covas construiu uma aliança robusta de 11 partidos, o que lhe rendeu o maior tempo de TV. Esta composição também levou o vereador Ricardo Nunes (MDB) a concorrer como vice, decisão que teve implicações na campanha toda.

Ele se tornou o telhado de vidro, sempre atacado por Boulos por situações mal explicadas com creches e pelo boletim de violência doméstica registrado pela mulher em 2011 —ambos reataram e vivem juntos até hoje.

A equipe de Covas diz que Nunes virou alvo porque não havia o que falar do prefeito. Dentro do PSDB, a avaliação é que o vice mais agregou do que prejudicou a campanha. As razões são uma aproximação com a Igreja Católica e a influência do vereador na zona sul, região que historicamente dá vitória para a esquerda.

Mas é inegável que Nunes criou embaraços. Ele mentiu sobre um convite para sabatina do UOL e usou o plenário da Câmara de Vereadores para disparar contra adversários. Mas a aliança costurada que levou seu nome a ser vice da chapa ajudará Covas a governar.

Outro aliado está no Palácio dos Bandeirantes. O governador João Doria (PSDB) apareceu somente nos dias de votação do primeiro e do segundo turnos. Ele ajudou a viabilizar a aliança e saiu de cena quando necessário. O Datafolha apontou que 61% dos eleitores não votariam em um candidato apoiado por ele.

TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO

Propostas no plano de governo de Bruno Covas

  • Educação

    Zerar a fila das creches até 2021, construir mais 12 CEUs e repassar verba às famílias para elas comprarem os uniformes escolares

    Imagem: Arte/UOL
  • Saúde

    Abertura de 630 leitos nos hospitais de Parelheiros e da Brasilândia e treinamento de 60 mil profissionais para usar telemedicina

    Imagem: Arte/UOL
  • Parques

    Criação de parques na Augusta e em Paraisópolis e concessão de lugares como o Trianon, a Chácara do Jockey e o Chuvisco

    Imagem: Arte/UOL
  • Transporte

    Criação de um sistema aquático de transporte que será integrado ao Bilhete Único e atenderá a área das represas da cidade

    Imagem: Arte/UOL
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