O médico zen do MTST que se tornou braço direito de Boulos
Quando algum candidato provoca Guilherme Boulos (PSOL) no debate de candidatos a prefeito de São Paulo, ele tem uma espécie de monge a quem olhar pra não perder a calma. Josué Rocha, coordenador-geral de sua campanha, é tão zen que é considerado "elevado" por gente da equipe.
Rocha convive com Boulos desde 2013, quando ambos atuavam na coordenação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) em São Paulo. Migrou junto para a vida político-partidária em 2018, na primeira campanha que Boulos disputou como candidato a presidente da República.
Atuou na campanha pela prefeitura em 2020 e na de deputado federal em 2022. Com a eleição, foi para a chefia do gabinete de Boulos na Câmara. Hoje é seu braço direito na disputa municipal.
Desde o ano passado, Rocha negocia com os chefes de partidos de esquerda para formar a coligação de Boulos, com PT, PCdoB, Rede, PV, PDT, PCB e PMB.
Enfrentou resistências, por exemplo, do grupo de Jilmar Tatto no PT, que queria candidatura própria. Rocha repete o mantra da empatia nessas situações.
Costuma dizer que, se você consegue se colocar no lugar do outro e entender o seu ponto de vista, o diálogo se torna possível. "Não pode ter posição dogmática e achar que a minha tem que prevalecer sobre a sua. Se eu assumo que é natural o estranhamento, eu consigo dialogar e compor."
Pela primeira vez na história, o PT abriu mão da cabeça de chapa na disputa municipal de São Paulo.
O presidente Lula foi determinante nesse desfecho, ao apoiar Boulos e negociar a volta de Marta Suplicy para o PT para ser candidata a vice.
Mas era preciso que, do lado de Boulos, houvesse alguém habilidoso na linha.
O médico do movimento
Fluminense de Resende, Rocha passou em medicina na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em 2007 e se mudou para Campinas.
Tinha 17 para 18 anos. Queria se especializar em saúde da família e atuar em postos de saúde do SUS.
Identificado com a esquerda no debate político, valorizava a atuação do médico na porta de entrada do sistema público pra melhorar a vida da população.
Quando não estava em sala de aula, ia com um grupo de estudantes a uma ocupação do MTST em Sumaré, nas proximidades do campus. Eles faziam ações de solidariedade, atividades culturais e alimentavam uma biblioteca comunitária.
Rocha se entusiasmava em particular com a possibilidade de fazer política conectado diretamente com a vida do povo. Era crítico do afastamento da esquerda dos movimentos de base.
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Quero receberEm 2012 ele já estava na coordenação do MTST na região de Campinas e foi fazer ações em uma ocupação em Embu das Artes. Foi apresentado a Guilherme Boulos, que já era da coordenação do movimento. Apertaram mãos, trocaram ideias, mas ficou por aquilo mesmo.
Naquele ano, Rocha se formou e no ano seguinte se mudou para São Paulo. Uma coordenadora do MTST em Campinas então fez a ponte formalmente. Apresentou Rocha a Boulos e assim ele passou a integrar a coordenação em São Paulo.
Era 2013, e os protestos tomaram as ruas da cidade e do país. O MTST como diversos movimentos foi para o enfrentamento. As bombas de gás estouravam na cara dos manifestantes, e Rocha pôs à prova seu temperamento. Negociava com a Polícia Militar e nem assim perdia a calma.
Por essa época, ele conciliava a militância com o trabalho como médico.
No movimento, fazia um pouco de tudo. Fez as vezes de jornalista. Ele ia às comunidades conversar com a população, apurava quais problemas afetavam mais a vida no local, fotografava, escrevia reportagens, diagramava um jornal do movimento e depois ainda distribuía os exemplares. Chamava-se "Periferia Ativa".
Frequentava as ocupações diariamente. Engrossava as manifestações. E testemunhou Boulos liderando a interface com as autoridades com as quais o MTST precisava negociar.
Ficou amigo de Boulos.
Em 2018, filiou-se ao PSOL junto com o político. A campanha presidencial foi a estreia de todos eles na vida partidária e eleitoral. Rocha trabalhou na agenda, finanças e coordenação. Jogava em todas as posições.
Coordenou a campanha de 2020, quando Boulos foi para o segundo turno contra Bruno Covas (PSDB) na eleição municipal de São Paulo. Na de 2022, para deputado federal, ele tinha acabado de se tornar pai. Mas o aliado foi para Brasília e ele assumiu o principal cargo do mandato, que é o de chefe de gabinete.
Desde 23, não atua mais como médico e se dedica exclusivamente à política
Rocha não medita, não é vegano, não é religioso, não pratica atividade física. Dorme cerca de 6 horas por dia. Mas é o mestre zen de Boulos e de toda a campanha.
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Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.
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