Nunes avança em metas de saúde, mas favorece zona sul, seu reduto eleitoral
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), alcançou seis das nove metas previstas para área da saúde, conforme divulga site da administração municipal. A maioria dos objetivos atingidos, entretanto, privilegia áreas da zona sul, onde está o reduto eleitoral do emedebista.
O que aconteceu
A zona sul foi a área da cidade que mais recebeu novas UPAs e CAPS. Foram seis novas unidades de pronto-atendimento na região —das 13 implantadas pela prefeitura— e quatro novos centros de atenção psicossocial, dos seis entregues pela administração municipal.
O território concentra o segundo maior contingente de pessoas, com 3,4 milhões de habitantes. Já zona leste soma 4 milhões de habitantes. Ao todo, a capital paulista conta com mais de 11,4 milhões de pessoas, segundo o Censo 2022.
Região sul é a campeã até o momento da meta que prevê 40 novos equipamentos de saúde. A zona sul recebeu 14 das 44 novas unidades de saúde — o que inclui UBSs, AMAs. O centro da capital recebeu 13 novas unidades e, na sequência, aparece a zona leste com sete novos equipamentos. A gestão Nunes tem até dezembro deste ano para concluir o programa de metas 2020-2024.
A implantação de serviços para saúde bucal também ocorreu mais em unidades da zona sul. Para efeito de comparação, dos 12 serviços de saúde bucal implantados até o momento pela prefeitura, cinco estão na região — as zonas leste, norte e centro, receberam dois serviços cada uma.
A zona leste, que concentra a maior fatia da população paulistana, fica na frente da região em duas metas de saúde. São elas: a de reformar 300 equipamentos de saúde e a de ampliar a cobertura de atenção básica com a implantação de 100 equipes de estratégia de saúde da família.
Prefeito diz se atua conforme as necessidade regionais. A Secretaria Municipal da Saúde declarou "que o trabalho da gestão municipal é contínuo e pautado nas necessidades e vulnerabilidades dos territórios, considerando os indicadores de saúde, viabilidade de aquisição de terrenos e adequação de infraestrutura".
UPAs cheias e dificuldade para marcar consulta na zona leste
Moradores da zona leste ouvidos pela reportagem afirmam que a situação dos postos de saúde na região tem piorado. A dona de casa Tatiana de Lima, 37, disse que para marcar uma consulta na rede municipal é preciso chegar antes do posto abrir, por volta das 4 horas da manhã. "Às vezes, você chega 5 horas e não tem mais vaga."
A demora no pronto-atendimento também é uma dificuldade citada por quem vive no extremo leste. Na UPA 26 de Agosto, em Itaquera, os pacientes afirmam que já esperaram por mais de 12 horas para serem atendidos. A reportagem esteve na unidade na manhã da última quinta-feira (11) e todas as áreas de espera — triagem, consultório e medicação — estavam lotadas. O cenário de superlotação e demora para agendar consultas se repete nas unidades do Jardim Romano, São Miguel, Jardim Helena e Itaim Paulista.
Para Vânia de Oliveira, 41, que mora no Jardim Maia, próximo ao distrito de São Miguel Paulista, falta fiscalização da prefeitura. A maior parte das unidades da saúde é administrada por OSSs (organizações sociais de saúde). "Não dá para se programar para uma consulta, porque a vaga que você consegue é para o mesmo dia", disse.
O aposentado Merquizedeque Alves, 67, diz aguardar há cinco anos uma vaga para operar a próstata. "O médico pede o exame, mas demora para ter data para fazer o exame. Quando eu consigo, não tem data para consulta e quando chega, o exame já perdeu a validade", conta.
Nas redes sociais, em anúncios da saúde na região leste, os moradores criticam a gestão municipal. "Colocar placa de anúncio de obras em ano eleitoral é fácil", escreveu uma pessoa em publicação sobre o início das obras da UPA Itaquera.
Muitas vezes só somos atendidos com rapidez quando tem barraco. Aqui na zona leste tá bem escasso essa questão de UPA, AMA. A zona leste tá abandonada.
Thiago Vinicius Ribeiro, marceneiro
O povo não tem dinheiro para ir para um médico particular e está muito difícil essa demora no atendimento e um atendimento ruim, que os funcionários não falam direito com ninguém também.
Manoel Paulo de Souza Filho, aposentado
Prefeitura diz que atua na zona leste. Em nota, a Secretaria de Saúde disse que "estão em andamento as obras do segundo complexo Paulistão da Saúde, em Itaquera, que contará com serviços de atenção especializada, como reabilitação, dor crônica e saúde mental a ampliação de oferta em odontologia, cirurgias de pequeno e médio porte, e outros".
Zona sul terá protagonismo
Região é reduto eleitoral de Nunes quando ele ainda era vereador. O prefeito sempre afirma que cresceu no Parque Santo Antônio, bairro vizinho do Capão Redondo, e veio da periferia. Hoje, ele mora na região de Interlagos, também na zona sul. Empresário do ramo de controle de pragas, o emedebista ascendeu na política por sua atuação na região — fundou um jornal de bairro e foi diretor da Aesul (Associação Empresarial da Região Sul de São Paulo).
Ligação de seus adversários coloca zona sul com protagonismo na campanha eleitoral. Guilherme Boulos (PSOL) nasceu em Pinheiros, área nobre da zona oeste, mas mora no Campo Limpo há mais de uma década. Tabata Amaral (PSB) é da Vila Missionária, no distrito de Cidade Ademar. Ambos os pré-candidatos já exploram suas relações com os bairros da zona sul.
Boulos venceu em seis zonas eleitorais do extremo sul no segundo turno das eleições de 2020. Parelheiros, Grajaú, Piraporinha, Valo Velho, Capão Redondo e Campo Limpo estão entre elas. Já Bruno Covas (morto em 2021) venceu em áreas estratégicas da região, como Santo Amaro, conforme mostrou reportagem do UOL.