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Marçal em SP desperta alerta sobre neobolsonarismo em Lula e no PT

24.ago.24 - O presidente Lula (PT) em comício com Guilherme Boulos (PSOL) na zona sul: SP é prioridade Imagem: Miguel Schincariol / AFP

Do UOL, em Brasília

31/08/2024 05h30

A ascensão do ex-coach Pablo Marçal (PRTB) nas pesquisas para a Prefeitura de São Paulo tem preocupado o presidente Lula e o PT.

O que aconteceu

Lula definiu São Paulo como a meta eleitoral do ano. Ele tem se empenhado na campanha de Guilherme Boulos (PSOL) e uma eventual derrota do deputado federal na disputa será, invariavelmente, associada a uma derrota de Lula.

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Pior ainda se perder para Marçal. Petistas e o entorno do presidente dizem avaliar que, se fosse para o prefeito Ricardo Nunes (MDB) ou para o apresentador José Luiz Datena (PSDB), o efeito seria menos danoso do que para o ex-coach, que representa uma espécie de neobolsonarismo.

Marçal arrancou na última semana. O candidato, que arranhava um quarto lugar, viu sua intenção de votos quase dobrar na maioria das pesquisas e arrancar um empate técnico com Boulos e Nunes, que têm apresentado queda.

De olho em 2026. O argumento é que a eleição na maior cidade do país, com uma pauta extremamente nacionalizada, é uma antessala das eleições gerais, quando Lula deverá disputar a reeleição. Uma derrota com a cara do presidente não seria bom sinal.

Deu a cara

Lula não esconde que Boulos é prioridade. O presidente pediu voto para o psolista na pré-campanha —o que lhe gerou uma multa de R$ 20 mil—, participou da oficialização da sua candidatura, já foi a dois grandes comícios e gravou programa eleitoral na casa do deputado, na zona sul de São Paulo, exibido logo na estreia da propaganda na TV.

Esta é uma participação maior do que para qualquer outro candidato, inclusive entre os petistas. Lula teve papel como negociador da chapa com a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) de vice. Retomar o poder na capital paulista seria uma vitória significativa para seu governo em uma eleição que —o PT já espera— não deverá ser de grandes conquistas para a esquerda.

A vitória de um é a vitória do outro, mas também é verdadeiro se perder. Com tanto empenho do presidente, aliados já admitem que Lula irá colher os louros de uma possível conquista inédita do PSOL na cidade, mas também amargar as lágrimas caso Boulos, em primeiro lugar nas pesquisas, leve uma virada.

Pablo Marçal (PRTB) em caminhada na avenida Paulista Imagem: Fábio Vieira - 28.ago.24/FotoRua/Estadão Conteúdo

Ainda pior perder para o neobolsonarismo

O crescimento de Marçal acendeu um alerta no Planalto e no partido. Mais do que um opositor à direita, o influencer tem concentrado aspectos do bolsonarismo que falam com um público mais jovem, avaliam interlocutores, e se mostra cada vez uma ameaça potencial nacionalmente.

Com Nunes, haveria desculpa. Uma derrota para o prefeito poderia ser entendida como a força da máquina e um modus operandi conservador do eleitor paulistano, que só não costuma reeleger prefeitos à esquerda. Até Datena, um apresentador popular concorrendo por um partido tradicional, seria mais palatável.

Com Marçal, não. Sem tradição política e em um partido nanico, o influencer se fia no discurso de outsider da política, o mesmo que elegeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem ele é fã assumido, em 2018.

Além disso, se Bolsonaro está com Nunes, o bolsonarismo está com Marçal. Como o UOL vem mostrando, apesar de o ex-presidente seguir dando apoio oficial a Nunes por causa de acordos partidários, parte de seu público fiel tem se voltado ao influencer, identificado com a pauta neoliberal e com pouca afeição a protocolos.

No PT, o medo é não saber enfrentar. Aliados de Lula brincam, com preocupação, que o partido e o próprio Lula ainda estão pegando o jeito de como lidar com o bolsonarismo "original", o que dirá sobre a sua versão repaginada, 2.0, mais voltada aos jovens e menos ainda presa ao partidarismo tradicional.

O problema é 2026

Ganhar em São Paulo pode mudar as forças. Mesmo que a cidade não tenha eleito um presidente desde Jânio Quadros, em 1953, uma vitória política ali é extremamente importante para as negociações de alianças para as eleições gerais. Eleger Boulos daria a Lula ainda mais poder de barganha.

Também serve para Marçal. O PT e o Planalto temem que, se o ex-coach, sem tempo de TV ou padrinho relevante, consegue virar na cidade, mais do que o seu nome, a ideia de extrema direita apartidária que ele representa também pode ganhar força para o pleito geral.

Não à toa, Lula tem batido mais no estilo de Marçal do que no candidato. Seja nos comícios com Boulos ou em eventos oficiais e entrevistas, o presidente tem repetido críticas a candidatos que "espalham mentiras na internet" e que "não têm argumento". Mais do que derrubar o candidato em si, Lula quer evitar outro raio de antipolitização.

Vocês não desprezem a política. Toda vez que virem um cara na televisão dizendo: 'Nenhum político presta, todo mundo é ladrão, vamos combater a corrupção, eu que sou o bom', esse não tem futuro, porque ele não vai durar mais do que um mandato, não vai durar. [...] Todo candidato que diz que vai se eleger combatendo a corrupção termina sendo o maior corrupto do tempo dele.
Lula, em evento em João Pessoa, nesta semana

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