Datena chora e admite que desiste da política se perder eleição em SP
Do UOL, em São Paulo
13/09/2024 11h43Atualizada em 13/09/2024 20h46
O candidato a prefeito de São Paulo José Luiz Datena (PSDB) chorou ao final da sabatina UOL/Folha ao admitir que fez de tudo na campanha, mas que deve deixar a política se perder a eleição.
O que aconteceu
Datena, que iniciou a sabatina irritadiço, se emocionou ao final da entrevista ao tratar de sua posição nas pesquisas. "O que eu reforcei nessas eleições é que eu tentei ajudar as pessoas a votar em mim", disse ele, ao começar a chorar. "Até agora eu não consegui, porra. O que eu posso fazer? E outra coisa é que eu encerro bem, e tendo o maior respeito a vocês, jovens de imprensa. Eu, que sou um velho jornalista, reconheço a ética da maioria de vocês. Muito obrigado", concluiu Datena, que em seguida tirou os fones de ouvido e deixou a entrevista.
Antes, Datena admitiu que, se não vencer a campanha deste ano, vai deixar a política. "Se eu não for eleito prefeito de São Paulo, pra mim acabou política. Foi uma boa experiência, espero que seja, espero ser eleito ainda, tenho esperança de ir para o segundo turno."
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Ele revelou que sua posição nas pesquisas o entristeceu. "A gente fica baqueado ao ver um primeiro resultado de pesquisa (...), mas o que eu gostaria de ter sido, vou morrer sem cumprir meu sonho", afirmou ao se referir à intenção de se eleger senador.
Ele admitiu ainda que estava irritado na sabatina também por causa das pesquisas. "Eu não sei se foi você ou quem falou que eu estou nervoso. Primeiro que eu estou com dor de dedo e [segundo com dor de] estômago. Terceiro, por causa da pesquisa. É claro que eu não vou sair com seis pontos em uma pesquisa e sair comemorando. 'Oh, que legal!'", disse.
Datena, que chegou a figurar entre os líderes, agora aparece em quinto lugar na pesquisa Datafolha. Sondagem divulgada na quinta-feira (12) mostra o apresentador com 6% das intenções de voto, ante 7% da pesquisa anterior. Ele está numericamente atrás de Tabata Amaral (PSB), com 8%, e longe ldos líderes Ricardo Nunes (MDB), com 27%, Guilherme Boulos (PSOL), com 25%, e Pablo Marçal (PRTB), com 19%.
O sonho que eu tinha, que faltava era servir o povo como senador, que teria sido melhor, teria tido mais tempo de me aperfeiçoar politicamente e não entrando de cara numa disputa majoritária, que é muito mais difícil.
José Luiz Datena, candidato a prefeito
"Plano de governo não é ideal"
Datena admitiu que seu programa de governo não é ideal. "O plano de governo que está lá não é o melhor plano de governo do mundo", disse ele ao ser confrontado sobre algumas de suas propostas. "Eu fui o último candidato a ser homologado. Então me apresentaram o plano de governo, e muitas das coisas eu fui vendo que na prática são impraticáveis."
O candidato afirmou que seu programa será orientado pela população. "Plano de governo tem de ser feito pelo povo. Não adianta escrever no papel que vou fazer 1 milhão de coisas e não cumprir", disse. "Eu não vou ficar fazendo como a maioria dos candidatos, que prometem mundos e fundos à população, e depois não cumprem."
Dois professores por sala
Seu plano de governo propõe colocar dois professores em sala de aula, mas ele admitiu a dificuldade de cumprir a promessa. "Não dá para cumprir", disse Datena. "Não dá para colocar dois professores na sala de aula. Está no plano de governo, mas não dá para cumprir, pelo menos na minha gestão. A não ser que a gente descubra uma defasagem de dinheiro que está sendo mal-empregado", afirmou.
Em seu plano, a medida é descrita com foco dos primeiros anos do Ensino Fundamental. "É hora também de garantir alfabetização em leitura e matemática na idade certa, entre 8 e 9 anos, pondo dois professores em sala de aula nos primeiros anos do ensino fundamental, com material didático moderno e adequado", diz o documento.
Pior ar do mundo
Ao tratar da poluição em São Paulo, considerada a pior do mundo nos últimos dias entre 120 cidades mapeadas, Datena ironizou o prefeito Ricardo Nunes (MDB). "Primeiro é tirar esse prefeito daí", afirmou. "Acho ousado quando o cara consegue atingir 'pior nisso, pior aquilo'. O cara foi ladrão de banco [insinuação sobre Pablo Marçal (PRTB)], aí o cara vai para primeiro lugar na pesquisa. O prefeito da cidade, no dia que a cidade atinge o pior ar do mundo, vai para primeiro lugar na pesquisa. Preciso procurar ser o pior dos piores em alguma coisa para ver se eu consigo atingir um ponto melhor em termos de aceitação."
Uma de suas propostas para reduzir a poluição é eletrificar os ônibus. "Vamos começar pelos ônibus", disse ao criticar a atual gestão por não ter avançado na transição energética dos meios de transporte. "Por que não começou a trocar por hidrogênio verde lá atrás? Já deu R$ 5 bilhões, quer aumentar para R$ 7 bilhões de subsídio de ônibus."
O candidato defendeu que as empresas que se instalarem na capital também cuidem de suas emissões. "A gente tem necessidade de empresas, não pode brigar com a economia, estado não deve brigar. Mas tem de ter fiscalização para emissão de gases, não pode mais poluir uma cidade em que as pessoas não conseguem respirar", disse.
Ele também prometeu plantar mais árvores na cidade. "[Antigamente, a cidade] existia uma regulação térmica, por isso que São Paulo era a cidade da garoa", disse ao mencionar a cobertura vegetal na cidade de 54%. "Está em Parelheiros [extremo sul de São Paulo], no pé da serra." O bairro, na verdade, fica no alto da serra.
Datena defendeu ainda adaptar as construções públicas e privadas. "Pisos permeáveis, drenantes, grandes jardins. O conceito de cidade esponja. Teto verde. Não é só Dinamarca, é pra gente também", diz.
Apagão é culpa da Enel, diz Datena
Datena criticou a operadora de energia da cidade após apagão de 9 horas no centro de São Paulo nesta sexta-feira (13). "Tinha que tirar a Enel. Não sei por que trouxeram pra cá", disse. "Tiraram a Eletropaulo, deviam ter posto a Eletro Zé, a Eletro João", ironizou.
O tucano também defendeu mudar a indicação dos subprefeitos. Ele critica a indicação política para o posto. "Vai ter de ser um cara da região. Talvez a própria região arrume o método, só não pode ser um cara indicado por determinado vereador que aprova projeto na prefeitura e não sabe nem onde está", afirmou.
Segurança: "letalidade só em último caso"
Questionado sobre sua experiência em segurança pública, Datena ironizou. "Eu apresento um programa de culinária há 26 anos. Minha filha, se você fala por osmose por 26 anos, você tem de aprender alguma coisa", disse ele, que ficou famoso como apresentador de programas policiais. "De tanto falar do assunto, sou obrigado a ter adquirido alguma experiência. Eles [adversários de campanha] só estão falando de crime agora."
O candidato criticou a alta letalidade da polícia e defendeu uso de armas "só em último caso". "Só quando algum cidadão for ameaçado com arma e há alguma intervenção policial para salvar a vítima", disse. "Troca de tiro, só quando a polícia recebe bala de bandido. Não quero ninguém matando ninguém. Por isso sou favorável às câmeras nos uniformes."
Eu falei lá atrás que iriam existir organizações criminosas, como o PCC, como a milícia, como o Comando Vermelho. As pessoas me chamavam de sensacionalista. Quem estava certo? Os especialistas ou eu?
Datena, candidato a prefeito
"Vou usar o SUS"
Em tom populista, Datena prometeu que, eleito, só vai utilizar o SUS se ficar doente. "[Essa] promessa não é papel, fui eu que falei. Se eu for eleito prefeito de São Paulo com todas as comorbidades que eu tenho, eu serei atendido pelo Sistema Único de Saúde. Se eu morrer, vai ficar claro que se [o SUS] não serve pra mim, não serve pra quem está na fila de espera."
Ele defendeu que todos os políticos façam o mesmo, com exceção do presidente da República. "Daí para baixo, todos deveriam ser atendidos pelo SUS porque o SUS seria o melhor sistema de saúde do Brasil, porque o politico governa para ele e não para o povo."
Estou colocando em risco a minha vida dizendo isso. 'O prefeito morreu! É claro, ele foi pro SUS'
José Luiz Datena
Sabatinas UOL/Folha
O UOL e o jornal Folha de S.Paulo promovem sabatinas com todos os candidatos à Prefeitura de São Paulo para discutir temas que preocupam os eleitores da cidade. Já foram entrevistados Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB), Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Altino Prazeres (PSTU), Ricardo Senese (UP) e João Pimenta (PCO).
Veja a programação:
- Bebeto Haddad (DC): segunda-feira (16), às 9h;
- Marina Helena (Novo): quarta-feira (18), às 9h.
* Participam desta cobertura: Caíque Alencar, Manuela Rached e Wanderley Preite Sobrinho, do UOL, em São Paulo, e Caio Santana, colaboração para o UOL.