Entenda como perícia confirmou que laudo divulgado por Marçal é falso
Do UOL, em São Paulo, e em Brasília
05/10/2024 21h06Atualizada em 05/10/2024 21h29
Uma perícia realizada neste sábado (5) pela Polícia Científica de São Paulo confirmou que é falso o laudo divulgado por Pablo Marçal (PRTB), candidato a prefeito na capital paulista, sobre suposta internação médica do adversário Guilherme Boulos (PSOL) por uso de cocaína.
O que aconteceu
Os peritos conseguiram chegar à conclusão utilizando o chamado "método grafotécnico" para analisar a assinatura atribuída ao médico José Roberto de Souza. Ele diferencia traços espontâneos de artificiais, para checar se a escrita é uma imitação; observa o grau de habilidade do texto, como inclinação e espaço entre letras e palavras; e características únicas de cada pessoa, como a construção de cada letra.
O exame comparou a assinatura divulgada por Marçal com documentos oficiais do médico, morto em 2022, como: passaporte (1973); fichas de identificação civil de 1978, 1981, 1987, 1992, 2012 e 2015; e boletim de identificação (1986). Os documentos foram enviados pelo Sereg (Serviço de Registros).
A perícia identificou "discrepâncias" no laudo compartilhado pelo candidato do PRTB em relação aos documentos oficiais. Segundo o exame técnico, a assinatura falsa foi feita com velocidade mais lento do que as escritas autênticas e há diferenças na habilidade gráfica do texto.
Os peritos também ressaltaram que o número do RG atribuído a Boulos no laudo tem dois dígitos a mais do padrão de São Paulo.
Mais cedo, a colunista do UOL Raquel Landim já havia adiantado a informação de que a polícia confirmou que o laudo é falso.
PF investiga Marçal
A PF incluiu o caso do laudo médico falso em inquérito que apura acusações feitas por Marçal contra os candidatos à Prefeitura de São Paulo. "Já há investigação em curso, essa nova representação foi juntada em inquérito instaurado em setembro, aberto a partir de outra representação do candidato Guilherme Boulos, que foi acusado de ser usuário de drogas", disse o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, à colunista do UOL Carla Araújo.
Inquérito apura uma série de acusações e crimes contra a honra que Marçal vem cometendo contra os candidatos. Ele foi aberto depois que Marçal fez a primeira acusação, sem provas, de que Boulos seria usuário de drogas.
De acordo com um policial ouvido pelo UOL, esse tipo de crime traz mais problemas eleitorais que penais. As penas dos crime contra a honra são "baixas" segundo ele. Mas, do ponto eleitoral, a situação se complica. O professor Fernando Neisser, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, avalia que Marçal pode ter o mandato cassado e perder de vez a corrida pela prefeitura.
O diretor-geral da PF disse que não há politização no inquérito e que é papel da instituição zelar para coibir a prática de crimes. "A PF, polícia judiciária eleitoral, vai atuar com a responsabilidade, independência e firmeza com que conduz todas as suas investigações", afirmou Andrei.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, intimou Marçal para prestar depoimento em 24 horas.
Dono de clínica
Pablo Marçal disse que "só publicou" em suas redes sociais o prontuário médico falso contra Guilherme Boulos. "Eu recebi e publiquei. Quem emitiu que tem que falar [se o laudo é verdadeiro]", afirmou.
O candidato do PRTB também confirmou que é amigo de Luiz Teixeira da Silva Junior, administrador da clínica que aparece no documento forjado. Há fotos dos dois juntos nas redes sociais, e a esposa de Marçal, Carol, esteve em maio na clínica de Teixeira para uma aplicação de botox, mostram publicações.
Boulos afirmou que a farsa sobre o laudo foi desmascarada em poucas horas. Ele também disse que espera que a Justiça tome as medidas cabíveis.