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Brasil defende unificação das Coreias, diz primeiro embaixador brasileiro em Pyongyang

Edilson Saçashima Do UOL Notícias Em São Paulo

07/03/2009 07h00

O Brasil se prepara para abrir a sua primeira embaixada na Coreia do Norte, o que deve acontecer até o final de março. O primeiro embaixador no país asiático será Arnaldo Carrilho, 71, que possui dez anos de atividades diplomáticas na Ásia, o que inclui missões em Laos, Mianmar, China, Tailândia e Camboja.
  • Lula Marques/Folha Imagem - 21.fev.2009

    Brasil quer ampliar comércio com a Coreia do Norte, que foi de
    US$ 380 mi em 2008, diz Carrilho



Carrilho foi embaixador por dez anos em países da Europa, 12 anos em países árabes e representou o Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, em 2007. O diplomata também abriu as embaixadas do Brasil na Arábia Saudita e na Alemanha Oriental.

Nesta entrevista ao UOL Notícias, o diplomata fala sobre os motivos para o Brasil somente agora abrir uma embaixada na Coreia do Norte, o papel que a embaixada desempenhará em Pyongyang e como será a atuação do Brasil na relação entre as duas Coreias.

UOL Notícias - A Coreia do Norte foi fundada em 1945. Por que só agora, em 2009, o Brasil terá uma embaixada naquele país?
Arnaldo Carrilho -
O Brasil era muito cuidadoso durante o período de Guerra Fria. Nós não abríamos embaixadas em todos os países comunistas. Tínhamos legações em Praga (na então Tchecoslováquia) e Varsóvia (Polônia). Apenas em 1961 fomos abrir legações em países do Leste Europeu (Romênia, Hungria, Bulgária)

Por que abrimos agora? Porque o Brasil hoje em dia é um país que tem uma independência internacional muito marcante. Nós não temos problemas com alianças e parcerias políticas, somos autônomos. Nós nos apresentamos em fóruns internacionais de todos os tipos, se não diretamente envolvidos, ao menos como observadores. Pouco a pouco, com o crescimento da atividade diplomática do país, a gente vai abrindo, pelo mundo afora, novas missões diplomáticas.

Nos últimos seis anos o Brasil teve uma presença internacional mais ativa. Nós estamos abrindo embaixadas não só na Coreia do Norte. Mas também no Caribe, onde teremos cinco novas embaixadas, e estamos abrindo uma embaixada em Baku, no Azerbaijão. Estamos indo cada vez mais à Ásia Central. Abrimos já uma embaixada na Armênia e no Mali. Estamos abrindo várias embaixadas na África. Isso faz parte do andamento natural da presença do Brasil no mundo.

UOL Notícias - O senhor acredita que encontrará dificuldades na Coreia do Norte, considerada um dos países mais fechados do mundo?
Arnaldo Carrilho -
A Coreia do Norte é um dos mais fechados. Há outros mais fechados. Não se esqueça que há países onde não há nenhuma forma de parlamento, nem de eleições. A Coreia do Norte é simplesmente o último em que estamos abrindo uma embaixada. Não vou dizer que a Coreia do Norte seja um país aberto. É um outro tipo de regime. A Coreia era um reinado até 1910, quando foi ocupada pelo Japão, era um país em que o poder passava dinasticamente.

UOL Notícias - A abertura da embaixada do Brasil pode ser um indício de uma maior abertura da Coreia do Norte?
Arnaldo Carrilho -
Eu espero que o Brasil contribua muito para que o regime de Pyongyang se sinta mais confortável, porque, afinal de contas, o Brasil será o primeiro país não socialista das Américas que abrirá uma embaixada em Pyongyang. Espero que dê uma sensação agradável ao governo da Coreia do Norte. Ter o país de maior expressão da América Latina, sobretudo da América do Sul, presente com uma missão diplomática em Pyongyang é algo relevante. Tenho impressão que virão outros países para estabelecer relações diplomáticas com a Coreia do Norte. Pyongyang é uma cidade que ostenta quase 50 missões diplomáticas residentes.
  • AP/Choongang Monthly Magazine

    Foto do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-il (na frente, à esq.) e seu primeiro filho Kim Jong-nam (na frente, à dir.), em 1981. Atrás sua cunhada e os filhos de sua ex-mulher



UOL Notícias - Qual será o papel do senhor como embaixador na Coreia do Norte?
Arnaldo Carrilho -
O papel do governo brasileiro será de desenvolver relações em todos os sentidos: econômicas e comerciais, culturais, políticas e nos fóruns multilaterais. É uma tarefa bastante extensa. Vou promover a cultura brasileira lá. O líder da Coreia do Norte, por exemplo, adora cinema e espetáculos musicais, e o Brasil tem muito a oferecer para aquele país. Inclusive penso em promover uma exposição de artistas brasileiros que já ensaiaram arte realista-socialista, como se dizia antigamente. Mas ainda não há nada programado a respeito disso.

Na parte comercial, grupos multinacionais brasileiros entrarão em contato com centrais de comércio exterior. A Sadia já entrou em contato para exportação de carne suína e frangos e gostaria de ter ajuda da embaixada brasileira em Pyongyang.

Em 2008 tivemos um comércio com a Coreia do Norte de cerca de US$ 380 milhões. A ideia é elevar esse comércio. A Coreia do Norte é a segunda maior produtora de magnesita, que é um mineral que o Brasil importa. Vamos ver o quanto a magnesita norte-coreana poderá participar do comércio Brasil-Coreia do Norte.

E quanto às relações políticas, elas serão desenvolvidas conforme as nossas relações bilaterais acontecerem.

UOL Notícias - E o Brasil terá algum papel na relação entre as duas Coreias?
Arnaldo Carrilho -
O Brasil sempre favorece o diálogo. O país apoiaria qualquer forma de entendimento. O Brasil é favorável à unificação das duas (Coreias). Nós temos uma embaixada muito ativa em Seul (Coreia do Sul), e eu espero corresponder no norte à essa atividade sob o ponto de vista político.

O Brasil se propõe a ver uma Coreia unificada. Aliás eu creio que seja o desejo da comunidade internacional. Ninguém gosta de países de um mesmo povo divididos

UOL Notícias - Como estão as relações entre as duas Coreias atualmente?
Arnaldo Carrilho -
No momento estão um pouco deterioradas. É sempre assim, tem altos e baixos. Mas são coisas naturais de governos de um mesmo país e que têm ideias diferentes.

COREIA DO NORTE

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