Jamil Chade

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Em momento decisivo da guerra, Israel força retirada de 100 mil de Rafah

No que pode ser um momento decisivo da guerra em Gaza, o exército israelense começou na segunda-feira expulsar moradores de Gaza que vivem no leste de Rafah. Cerca de 100 mil pessoas já estariam sendo retiradas do local, supostamente para uma "área humanitária expandida" no território palestino.

No domingo, o ministro da defesa israelense, Yoav Gallant, alertou que a ação militar em Rafah poderia começar em um "futuro muito próximo". Segundo ele, o Hamas parecia não estar levando a sério a possibilidade de chegar a uma trégua nas negociações de cessar-fogo em andamento.

"Isso significa que uma forte ação militar em Rafah começará em um futuro muito próximo, assim como no resto da Faixa", disse.

Nesta segunda-feira, ele deixou claro que "a ação militar israelense em Rafah é necessária devido às recusas do Hamas às propostas mediadas para uma trégua em Gaza, sob a qual o grupo palestino libertaria alguns reféns". De acordo com Israel, a mensagem de Gallant foi transmitida em uma conversa durante a noite com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin.

Rafah passou a ser o destino de centenas de milhares de palestinos, fugindo das bombas de Israel. Mas, segundo o governo de Benjamin Netanyahu, a cidade se transformou no último refúgio do Hamas e que seria impossível falar em uma vitória sem considerar um ataque contra a cidade.

Alguns dos principais chefes das Nações Unidas, o governo de Joe Biden e autoridades europeias vêm alertando que uma ofensiva terrestre significaria uma "tragédia sem precedentes" numa guerra que já vem chocando a comunidade internacional pelo elevado número de mortos entre civis.

ONU se recusa a sair

1,4 milhão de palestinos tentam sobreviver em Rafah, desde que suas cidades foram destruídas. Praticamente todos estão em instalações precárias, enquanto doenças se disseminam.

Numa declaração nesta segunda-feira, a UNRWA - a agência da ONU para os refugiados palestinos - se recusou a obedecer as ordens de Israel. "Uma ofensiva israelense em Rafah significaria mais sofrimento e mortes de civis. As consequências seriam devastadoras para 1,4 milhão de pessoas", disse.

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"A UNRWA não está evacuando: a Agência manterá sua presença em Rafah pelo maior tempo possível e continuará fornecendo ajuda vital para as pessoas", disse.

Na ONU e entre agências humanitárias, porém, a suspeita é de que a retirada forçada represente uma medida que indica que uma invasão terrestre da cidade seja iminente.

A ofensiva ainda preocupa as autoridades no Cairo. Rafah fica praticamente na fronteira com o Egito e o temor é de que uma crise ainda maior forçaria o país a ter de receber milhares de refugiados palestinos.

Politicamente, os países árabes insistem que não aceitarão este cenário, o que representaria o fim da presença palestina em Gaza.

Nesta segunda-feira, os palestinos receberam a ordem de retirada por mensagens de celular. Num comunicado, os militares israelenses "incentivam os moradores do leste de Rafah a avançar em direção à área humanitária expandida".

"As Forças Israelenses expandiram a área humanitária em Al-Mawasi para acomodar os níveis crescentes de ajuda que fluem para Gaza", disse a declaração militar.

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A perspectiva de uma invasão em Rafah provocou um grande alarme por parte de grupos de ajuda global e líderes mundiais. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse na sexta-feira que Israel ainda não apresentou "um plano confiável para proteger genuinamente os civis que estão em perigo" e, sem esse plano, Washington "não pode apoiar uma grande operação militar em Rafah".

Tel Aviv insiste que o fato de o Hamas ter disparado foguetes contra Israel a partir de Rafah revela a necessidade de que essa estrutura seja desmontada. Três soldados israelenses foram mortos no fim de semana.

A resposta militar de Israel contra Rafah matou doze palestinos durante a madrugada.

Os israelenses afirmam que estão perseguindo os militantes do Hamas "em todos os lugares de Gaza" e que continuariam a fazê-lo "até que todos os reféns que eles mantêm em cativeiro estejam de volta em casa".

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