Tragédia era inevitável, diz vice-prefeito da capital da ilha da Madeira
As enxurradas de lama que atingiram a capital da ilha da Madeira no último sábado, destruindo casas e causando mais de 40 mortes, foram provocadas por um volume de chuvas “verdadeiramente excepcional” e não poderiam ter sido evitadas, afirmou ao UOL Notícias Bruno Camacho Pereira, que ocupa um cargo equivalente ao de vice-prefeito na capital Funchal.
A posição geográfica da capital, segundo o vice-prefeito, responde em parte pela tragédia. Como fica em um vale, a parte baixa de Funchal recebeu a água que escorria das partes altas com lama e pedras. Esses entulhos teriam assoreado os rios, já com maior volume, e essa seria a causa das enxurradas nas ruas da capital. Ouça a explicação abaixo:
Ontem, o presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Defesa Civil (Asprocivil), Ricardo Ribeiro, havia declarado à agência EFE que o planejamento urbano da Madeira "possibilitou a alteração de cursos de água e causou a impermeabilização dos solos, o que com o tempo contribui para inundações e enchentes".
Para Pereira, contudo, a chuva de sábado não poderia ter sido contida. “O centro de Funchal tem muralhas [nos rios canalizados] feitas no século 19 pelos portugueses. E nunca tinha acontecido fenômeno idêntico.”
“É a pior intempérie dos últimos cem anos na Madeira”, acrescentou o vice-prefeito, argumentando que choveu em um dia mais do que era esperado para todo o mês.
Pereira também confirmou que as enchentes deixaram um total de 42 mortos, pelo menos 250 desabrigados e um número incerto de pessoas desaparecidas, acrescentando que “é pouco provável que essas pessoas desaparecidas ainda sejam encontradas com vida”. Ouça abaixo:
Reconstrução
Mais de três dias depois do temporal, os trabalhos das equipes de proteção civil se concentram em remover o entulho e limpar as vias.
“As pessoas que não conseguiam ter acesso a suas casas agora começam a voltar e enviar o entulho de dentro para as ruas, então é um trabalho [de limpeza] que durará mais algum tempo”, relata. “Mas, de maneira geral, até o final da semana teremos removido o entulho da maior parte das vias.”
Com relação ao turismo, uma das principais receitas da ilha portuguesa, o vice-prefeito afirma que se espera uma queda da atividade nos próximos meses, mas que essa diminuição não deverá ser duradoura.
“Evidente que essas notícias são prejudiciais, mas a zona turística, a região dos hotéis, não foi afetada. Logo após os trabalhos de limpeza, não vão sobrar danos permanentes”, afirmou. “A beleza natural da Madeira não foi alterada.”
Imagem de satélite de março de 2007 e divulgada agora mostra a topografia da Ilha da Madeira
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