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Tragédia era inevitável, diz vice-prefeito da capital da ilha da Madeira

Thiago Chaves-Scarelli <br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

24/02/2010 07h30

As enxurradas de lama que atingiram a capital da ilha da Madeira no último sábado, destruindo casas e causando mais de 40 mortes, foram provocadas por um volume de chuvas “verdadeiramente excepcional” e não poderiam ter sido evitadas, afirmou ao UOL Notícias Bruno Camacho Pereira, que ocupa um cargo equivalente ao de vice-prefeito na capital Funchal.

A posição geográfica da capital, segundo o vice-prefeito, responde em parte pela tragédia. Como fica em um vale, a parte baixa de Funchal recebeu a água que escorria das partes altas com lama e pedras. Esses entulhos teriam assoreado os rios, já com maior volume, e essa seria a causa das enxurradas nas ruas da capital. Ouça a explicação abaixo:

 

Ontem, o presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Defesa Civil (Asprocivil), Ricardo Ribeiro, havia declarado à agência EFE que o planejamento urbano da Madeira "possibilitou a alteração de cursos de água e causou a impermeabilização dos solos, o que com o tempo contribui para inundações e enchentes".

Para Pereira, contudo, a chuva de sábado não poderia ter sido contida. “O centro de Funchal tem muralhas [nos rios canalizados] feitas no século 19 pelos portugueses. E nunca tinha acontecido fenômeno idêntico.”

“É a pior intempérie dos últimos cem anos na Madeira”, acrescentou o vice-prefeito, argumentando que choveu em um dia mais do que era esperado para todo o mês.

Pereira também confirmou que as enchentes deixaram um total de 42 mortos, pelo menos 250 desabrigados e um número incerto de pessoas desaparecidas, acrescentando que “é pouco provável que essas pessoas desaparecidas ainda sejam encontradas com vida”. Ouça abaixo:

 

Reconstrução
Mais de três dias depois do temporal, os trabalhos das equipes de proteção civil se concentram em remover o entulho e limpar as vias.

“As pessoas que não conseguiam ter acesso a suas casas agora começam a voltar e enviar o entulho de dentro para as ruas, então é um trabalho [de limpeza] que durará mais algum tempo”, relata. “Mas, de maneira geral, até o final da semana teremos removido o entulho da maior parte das vias.”

Com relação ao turismo, uma das principais receitas da ilha portuguesa, o vice-prefeito afirma que se espera uma queda da atividade nos próximos meses, mas que essa diminuição não deverá ser duradoura.

“Evidente que essas notícias são prejudiciais, mas a zona turística, a região dos hotéis, não foi afetada. Logo após os trabalhos de limpeza, não vão sobrar danos permanentes”, afirmou. “A beleza natural da Madeira não foi alterada.”
 

  • AFP/Nasa

    Imagem de satélite de março de 2007 e divulgada agora mostra a topografia da Ilha da Madeira