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Sudão realiza eleições gerais em meio a acusações de fraudes

O general Omar al Bashir, acusado de crimes de guerra, deve vencer as eleições sudanesas - Gregorio Borgia/AP - 3.fev.2010
O general Omar al Bashir, acusado de crimes de guerra, deve vencer as eleições sudanesas Imagem: Gregorio Borgia/AP - 3.fev.2010

Do UOL Notícias*<br>Em São Paulo

11/04/2010 07h18

O Sudão, maior país da África, inicia neste domingo (11) suas primeiras eleições gerais multipartidárias em 24 anos, em meio às acusações dos partidos de oposição de que as votações serão fraudadas pelo atual presidente, o general Omar Hassan al Bashir, contra quem pesa um mandado de prisão emitido por um tribunal internacional.

Mais de 15 milhões de sudaneses estão aptos a votar para presidente, parlamentares e governadores, em uma eleição complexa, de três dias, em um país devastado por conflitos que já deixaram dois milhões de mortos e até quatro milhões de desalojados.

Saiba mais sobre o Sudão

  • A República do Sudão, país africano de maior extensão territorial, foi beneficiado com recente aumento nos investimentos estrangeiros e com o alto preço do petróleo, mas a exportação desta commodity não se refletiu em maior renda para a população e o país ainda é um dos mais pobres do mundo.

    Superfície: 2.505.810 km² divididos em nove estados

    Habitantes: cerca de 41 milhões de habitantes

    Governo: General Omar Al Bashir governa desde o golpe de 1989, primeiro com uma junta militar, e depois eleito em 1996 e 2000

    Idioma: árabe (oficial) é majoritário, ao lado do inglês (oficial). Dezenas de grupos étnicos praticam seus idiomas

    Religião: o islamismo (oficial) é predominante entre árabes e núbios, com maioria sunita. Os cultos tradicionais africanos são majoritários no sul. Há comunidades cristãs espalhadas em todo o país

    Alfabetização: 72% dos homens, 50% das mulheres

    Importações: comida, manufaturas, equipamentos, remédios, comprados principalmente de China, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito, Índia e Itália

    Exportações: petróleo e derivados, algodão, açúcar; vendidos principalmente para China, Japão e Indonésia

A principal crítica da oposição diz respeito ao presidente, o general Al Bashir, que entrou no poder por um golpe em 1989, e depois se manteve no cargo por meio de eleições sem real oposição. O presidente espera conquistar legitimidade com as votações deste final de semana, apesar do mandado de prisão emitido pelo Corte Criminal Internacional por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Denunciando irregularidades, os partidos Al Umma (“a nação”) e Movimento Popular de Libertação do Sudão (MPLS) anunciaram boicote às eleições, e com isso a vitória de Al Bashir é praticamente certa.

“Essas eleições não representam o desejo real do povo”, afirmou Sadiq al Mahdi, líder do Al Umma, ao anunciar que abandonava a eleição, há três dias da votação.

Mahdi, que era o chefe de governo quando Al Bashir promoveu o golpe em 1989, denunciou que as condições mínimas para garantir a transparência eleitoral não foram cumpridas. Os partidos opositores pediam que Al Bashir realizasse algumas reformas como condição para participar e conceder legitimidade à votação.

As críticas vieram também da União Europeia, que retirou seus observadores da região de Darfur alegando falta de condições para acompanhar o pleito. Após os boicotes e o abandono da UE, Washington também admitiu que a situação no Sudão é incerta.

“Houve alguns impedimentos, restrições de liberdades civis, à mídia, redução no número de locais de votação, insegurança, falta de possibilidade para muitas pessoas, em especial em Darfur, para votar, para se registrar e participar”, afirmou a embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice, na última quinta-feira.

Nessas condições, segundo Rice, um adiamento do pleito que oferecesse condições mais limpas seria bem-vindo e apoiado pelos EUA.

Por outro lado, o embaixador do Sudão na ONU, Abdalmahmood Abdalhaleem Mohamed, prometeu que as eleições servirão como um ponto de mudança para a nação, após anos de guerras e conflitos. “Não temos crise eleitoral, temos crise em alguns partidos”, afirmou.

Os Estados Unidos apoiaram o acordo de paz que encerrou a longa guerra civil sudanesa entre o norte e o sul em 2005. De acordo com o documento, o sul teria seis anos de relativa autonomia, e então um referendo deveria colocar a independência da região em votação. O mesmo documento previa as eleições gerais deste final de semana.

Desde que se tornou independente do Reino Unido, em 1956, o Sudão viveu 11 anos de governos “semidemocráticos”, com eleições gerais, e 43 anos de regime militar totalitário. As últimas votações com vários partidos foi em 1986, que deu origem a um parlamento dissolvido pelas forças do general Al Bashir três anos depois.

Darfur

Outra crítica à credibilidade das eleições envolve a conflituosa região de Darfur, no oeste do Sudão, que é palco de um genocídio contra as etnias não-árabes da região que desde 2003 teria deixado entre 200 mil e 400 mil mortos, além de milhões de refugiados.

O International Crisis Group, que elabora análises de conflitos internacionais, afirmou em relatório que Darfur tem sido tão manipulado, com os milhões de refugiados sem condições de votar, que o território poderia ser amplamente utilizado para reforçar o número de votos pró Al Bashir.

“Uma grande vitória em Darfur é fundamental para o plano do partido governista de capturar votos suficientes para garantir seu domínio nacional”, alerta o grupo.

Os conflitos em Darfur começaram com ataques de grupos negros animistas que denunciavam o abandono da região por parte do governo central, árabe muçulmano, e se tornou uma guerra étnica de grandes proporções. O governo de Cartum e grupos armados ilegais são acusados de realizar uma limpeza étnica, com assassinato indiscriminado de civis e estupros naqueles territórios. A ONU estima que 2,7 milhões de pessoas fugiram da região, inclusive para outros países vizinhos, como o Chade, o que tornou Darfur uma questão regional.

A situação é ainda pior diante de conflitos armados, pobre infraestrutura e falta de apoio do governo que bloqueiam a chegada de ajuda humanitária à região.

*Com agências internacionais