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Governo tailandês decreta toque de recolher em Bancoc

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

19/05/2010 08h17

O governo da Tailândia declarou nesta quarta-feira (19) toque de recolher em Bancoc depois que as tropas retomaram o reduto dos "camisas vermelhas" no coração comercial e grupos opositores revidaram com incêndios em prédios na capital.

A medida, o primeiro toque de recolher em 15 anos em Bancoc, entra em vigor às 20h no horário local (10h em Brasília) e será estendida até as 6h no horário local (20h em Brasília) do dia seguinte. O primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva alega que as forças de segurança precisavam de condições para exercer suas funções.

Quatro pessoas morreram - entre elas um jornalista italiano - e 50 ficaram feridas durante a operação militar contra o acampamento vermelho hoje.

A tensão permanece na capital tailandesa. A cidade de Bancoc registrava pelo menos 20 focos incêndios nesta quarta-feira, após a operação do Exército para dispersar os "camisas vermelhas", mas que não conseguiu devolver o controle de toda a capital da Tailândia às forças oficiais. O porta-voz do governo, Panitan Wattanayagorn, afirmou que a operação do Exército permitiu às autoridades retomarem o controle de dois bairros-chave, a zona de Rajaprasong e o distrito de Lumpini que os manifestantes ocupavam há seis semanas.

Cerca de cem pessoas estavam presas no edifício de um canal de televisão incendiado em Bancoc por manifestantes antigovernamentais, anunciou o corpo de bombeiros da cidade. Um helicóptero foi enviado para tentar retirar as pessoas presas.

"O prédio foi atacado por manifestantes e quando enviamos um veículo, também foi atacado. Agora recuaram e enviamos novamente um caminhão", afirmou um porta-voz dos bombeiros da capital tailandesa.

"Estamos em uma situação de crise. Por volta de 100 funcionários nossos estão presos no prédio", declarou Samran Chatton, jornalista do "Canal 3".

Nas próximas horas o número de vítimas pode aumentar porque manifestantes estão realizando incêndios e saqueando prédios comerciais enquanto deixam a cidade.

Os "camisas vermelhas" queimaram o primeiro pavimento do prédio da Bolsa de Valores de Bancoc e atacaram o "Canal 3" da televisão estatal, além de um teatro e o luxuoso centro comercial Central World.

Duas publicações em língua inglesa de maior circulação no país, os jornais "The Nation" e "Bangcoc Post" retiraram seus funcionários dos prédios diante do risco de novos ataques opositores.

Raio-x da Tailândia

  • Nome oficial: Reino da Tailândia
    Capital: Bancoc
    Tipo de Governo: Monarquia Constitucional
    População: 65.998.436
    Idiomas: Tailandês, inglês, dialetos étnicos e regionais
    Grupos étnicos: Tailandeses 75%, chineses 14% e outros 11%
    Religiões: Budistas 94.6%, muçulmanos 4.6%, cristãos 0.7%, outros 0.1%
    Fonte: CIA Factbook

Em algumas partes da capital ocorreram cortes de energia elétrica.

Outros manifestantes atacaram as Prefeituras de duas cidades no nordeste do país, região onde os "camisas vermelhas" têm maior força. Na cidade de Khon Kaen, cerca de mil "camisas vermelhas" tomaram a Prefeitura após o rompimento do cordão policial e ameaçaram incendiar o edifício.

Em Udon Thani, a cerca de 50 quilômetros da fronteira com o Laos, cerca de cinco mil partidários da frente invadiram e atearam fogo na Prefeitura.

Fim da operação de retirada

Depois de intensos conflitos na manhã desta quarta-feira (19), o Exército da Tailândia anunciou o fim da operação executada para esvaziar o bairro de Bancoc ocupado pelos opositores conhecidos como "camisas vermelhas".

Segundo o porta-voz do Exército, Sunsern Kaewkumnderd, "as autoridades interromperam as operações" no bairro classificado como zona vermelha porque a área já está sob total controle militar.

O anúncio ocorreu pouco depois que os líderes dos "camisas vermelhas" pediram rendição e ordenaram a retirada dos manifestantes dos centro de Bancoc. O pedido ocorreu depois que quatro pessoas morreram e mais de cinqüenta ficaram feridas nos conflitos desta quarta-feira.

"Sei que para alguns de vocês é inaceitável e que alguns não querem nem ouvir falar disso, mas não podemos resistir", declarou à TV local Nattawut Saikuar, um dos principais nomes das manifestações antigovernamentais.

"Vamos trocar nossa liberdade pela segurança de vocês. Fizemos tudo que era possível. Peço a todos que voltem para casa", disse Saikuar, que se entregou nesta manhã junto com outros quatro líderes da oposição. Todos eles tinham recebido ordens de detenção por terem violado o estado de exceção vigente em Bancoc.

Após a prisão, os líderes foram levados a uma delegacia próxima ao local dos protestos e disseram que a rendição aconteceu para evitar novas mortes na cidade. Segundo o exército, outros dos 24 dirigentes da Frente Unida para a Democracia e contra a Ditadura, grupo pelo qual militam os "camisas vermelhas", controlado pelo ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, conseguiram fugir.

O porta-voz militar informou que os manifestantes estão sendo orientados a deixarem Bancoc e a usarem o transporte gratuito oferecido pelas autoridades.

Apesar do pedido de retirada, a Bolsa de Bancoc e vários centros comerciais foram incendiados na parte da tarde na capital tailandesa. As chamas atingiram inclusive o Central World, um dos maiores centros comerciais da cidade, que estava fechado há várias semanas.

Vítimas

A operação militar para desmontar o acampamento da frente antigovernamental nesta quarta-feira causou quatro mortes e deixou 50 pessoas feridas, um número baixo se comparado às 39 mortes e 266 feridos nos choques dos últimos seis dias.

Além de três "camisas vermelhas", foi confirmado que o jornalista italiano Fabio Polenghi, de 45 anos, também morreu na manhã de hoje.

Os feridos são principalmente manifestantes, mas entre eles está pelo menos mais um jornalista de nacionalidade holandesa.

Histórico
A Tailândia atravessa uma profunda crise política em decorrência da luta entre os partidários e detratores de Shinawatra desde o golpe militar de 2006.

Os "camisas vermelhas" iniciaram o movimento em meados de março para exigir a renúncia do primeiro-ministro, Abhisit Vejjajiva, e a convocação de eleições legislativas antecipadas.

Desde então, mais de 70 pessoas morreram e mais de 1.700 foram feridas nos distúrbios.

Os "camisas vermelhas" são em geral pessoas pobres, de origem rural, seguidoras do ex-premiê Thaksin Shinawatra, deposto em 2006. Eles exigem a renúncia de Abhisit, a quem acusam de ter chegado ao poder ilegitimamente, com apoio de militares golpistas, e querem a realização de eleições imediatas.

*Com informações das agências internacionais