Ingrid Betancourt volta aos holofotes com livro sobre os anos de cativeiro
"Tomei a decisão de fugir". Assim começa o livro “Não há silêncio que não termine”, aguardada obra de Ingrid Betancourt, ex-candidata à presidência da Colômbia que foi mantida refém pela guerrilha durante seis anos e meio, e foi libertada em uma ação cinematográfica do exército colombiano.
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Os direitos de publicação do livro foram comprados por mais de dez editoras do mundo. Acima, vemos algumas das edições publicadas. Desde o canto superior esquerdo, em sentido horário: edição francesa, da Gallimard; edição norte-americana, da Penguin; edição espanhola, da Aguilar; edição italiana, da Rizzoli; edição brasileira, da Companhia das Letras; e edição alemã, da Droemer
O cotidiano no cativeiro, os altos e baixos, e a intervenção política dos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Nicolas Sarkozy, da França, que determinam o final feliz de sua história, são contados nas 556 páginas deste livro cujo título faz alusão a um poema do chileno Pablo Neruda.
O acampamento entrava numa atividade febril. Uns checavam os nós de suas barracas, outros iam correndo recolher a roupa que secava num quadrado ensolarado, alguns, mais previdentes, iam aos chontos, para o caso de a tempestade se prolongar. Eu olhava para aquela agitação com um nó na barriga de tanta angústia, rezando para que Deus me desse forças para ir até o fim. “Esta noite estarei livre.” Repetia essa frase sem parar, para não pensar no medo que retesava meus músculos e os esvaziava de sangue, enquanto fazia a muito custo os gestos mil vezes previstos em minhas horas de insônia: esperar que anoitecesse para construir o boneco, dobrar o grande plástico preto e enfiá-lo dentro da bota, abrir o pequeno plástico cinza que me serviria de poncho impermeável, verificar se minha companheira estava pronta. Esperar que a tempestade caísse
Em 23 de fevereiro de 2002, Ingrid Betancourt, candidata à presidência pelo partido “Oxigênio Verde”, foi sequestrada perto de San Vicente del Caguán (sudeste) pela guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, em plena campanha eleitoral.
Desespero, humilhação, impotência e brutalidade aparecem nas páginas de "Même le silence a une fin", que a franco-colombiana Ingrid começou a escrever a mão em fevereiro de 2009, e em francês porque o idioma lhe deu a "distância necessária" para relatar o que havia vivido.
Os repentinos deslocamentos sob chuvas torrenciais em uma selva a qual Ingrid define como "abominável", repleta de feras, as diferenças que surgem com Clara Rojas, seu encontro com o senador Luis Eladio Pérez, as conversas com alguns comandantes da guerrilha, os livros e a rádio completam os 82 capítulos.
Ingrid Betancourt, agora com 48 anos, a quem alguns chamam respeitosamente de "doutora" e outros ofensivamente de "cucha" (velhota), descreve que descobriu "outra dimensão" de si mesma durante as noites em vigília, graças a uma Bíblia, que lhe permitiu alimentar sua fé religiosa.
"Se Deus havia decidido que não fosse livre, tinha que aceitar a ideia de que não estava preparada para a liberdade", conta Betancourt, após narrar sua tentativa de fuga com o senador, em julho de 2005, após o que seus sequestradores a acorrentaram a uma árvore.
A morte de Raúl Reyes e de Manuel Marulanda, líderes máximos das Farc, lançam por terra suas esperanças até o dia 2 de julho de 2009, quando ela e outros reféns são obrigados a embarcar em um helicóptero na bem sucedida "Operação Xeque", do exército colombiano, quando um soldado disfarçado de guerrilheiro brada em pleno voo: "Somos o exército da Colômbia! Estão livres!".
"Um longo, muito longo e doloroso grito surgiu do mais profundo do meu ser e encheu minha garganta como se vomitasse fogo para o céu", diz Betancourt ao relembrar o momento exato de sua libertação.
*Com informações da AFP e da BBC Mundo
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