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Um ano após terremoto, promessas não se converteram em ações no Haiti, diz MSF

Mulheres em acampamento para desabrigados na capital Porto Príncipe, em frente à sede do governo haitiano, ainda em ruínas devido ao terremoto que abalou o país em janeiro de 2010 - Guillermo Arias/AP
Mulheres em acampamento para desabrigados na capital Porto Príncipe, em frente à sede do governo haitiano, ainda em ruínas devido ao terremoto que abalou o país em janeiro de 2010 Imagem: Guillermo Arias/AP

Andréia Martins<br>Do UOL Notícias

Em São Paulo

10/01/2011 15h45

Um terremoto devastador e uma epidemia de cólera que já afetou 147.787 haitianos. O ano de 2010 foi sem dúvida um dos mais trágicos para o Haiti, que chega a 2011 com poucas mudanças, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras. Para a organização, apesar dos esforços e da ajuda humanitária, o país ainda apresenta necessidades urgentes e uma população que não consegue reagir às tragédias.

"Durante o último ano, ficamos ouvindo promessas e planos. O que vemos agora é que essas promessas e planos não se converteram em ações. (...) A situação não melhorou muito. A população no dia do terremoto só nos pedia ajuda. Hoje eles continuam pedindo a mesma coisa", disse Stefano Zanini, chefe da missão do MSF no Haiti, durante teleconferência realizada nesta segunda-feira (10). 

"Os haitianos deveriam estar mais próximos de reconstruir seu próprio país", completou ele. "Mas a triste realidade de hoje é que, mesmo que os haitianos tentem reconstruir suas vidas, muitas pessoas continuam extremamente vulneráveis, especialmente porque eles enfrentam uma segunda catástrofe, uma epidemia de cólera que até agora já matou pelo menos 3.600 pessoas", disse Zanini.

Segundo o médico, o ideal seria que a ajuda humanitária já pudesse deixar o Haiti para que o país caminhasse sozinho. "Mas não podemos sair agora", completou.

"Estou orgulhoso do trabalho que estamos fizemos atendendo as vítimas, tanto física e emocionalmente. Nas primeiras horas do terremoto o nosso hospital ruiu. Precisamos criar clínicas móveis e convertemos prédios abandonados em hospitais", relembra Stefano.

Além da reconstrução do país, a organização também trabalha na prevenção e tratamento da cólera, que desde outubro de 2010 atinge o país. Só nos 50 centros de tratamento do MSF já foram atendidas 84.500 sofrendo de cólera, 57% do total de infectados (147.787).

"O número de casos está diminuindo, especialmente nas principais cidades do país. Em outros locais o que dificulta [o tratamento] é o não recebimento de água potável", diz Kate Alberti, epidemiologista do MSF e especialista em cólera . Segundo a organização, houve demora na resposta à epidemia, o que contribuiu para que ela se espalhasse com rapidez.

Em 2010, segundo a organização, foram gastos US$ 9,4 milhões de dólares para tratar as vitimas do terremoto e US$ 10 milhões para a epidemia. Para 2011, outros US$ 7,5 milhões serão gastos no atendimento.

Para 2011, está prevista a construção de quatro hospitais da organização, dos quais três devem ser entregue ainda este ano.

O MSF aponta ainda que houve “falha” em duas fases da coordenação de ajuda ao Haiti. “Houve falta de coordenação em duas etapas, na distribuição das organizações humanitárias e na capacitação das próprias agências", disse Unni Karunakara, presidente internacional da MSF. “O Haiti tem um longo caminho de reconstrução e recomeço. Não há sinal de que a luta está no fim”, completou.

Karunakara disse ainda que "com o aniversário do terremoto se aproximando, é importante refletir ainda mais sobre as deficiências do ano passado, dadas as imensas necessidades da população e pela confiança dos indivíduos em todo o mundo para ajudar a satisfazer essas necessidades".

Apesar da indecisão quanto ao novo governo – a ex-primeira-dama Mirlande Manigat e o tecnocrata Jude Celestin, candidato apoiado pelo atual presidente Reneé Préval, disputarão o segundo turno da eleição presidencial – a organização espera que o futuro presidente seja mais comprometido com a recuperação do país.

"Nós vamos permanecer no país até que ele saia da situação de emergência", disse Zanini, ao se referir ao acordo feito com o governo haitiano. "Quanto ao novo governo, não podemos falar dele. Vamos esperar para ver como ele vai lidar com a reconstrução".