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Obama visita UPP da Cidade de Deus, a mais problemática do Rio

Hanrrikson de Andrade<br>Especial para o UOL Notícias<BR>No Rio de Janeiro

20/03/2011 06h00

A ideia do governo estadual era levar o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para a zona sul do Rio de Janeiro, preferencialmente à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do morro do Chapéu Mangueira, no Leme, que possui vista panorâmica da orla, mas a comitiva da Casa Branca optou pela Cidade de Deus, em Jacarepaguá. A escolha de Obama, que visitará a comunidade no início da tarde deste domingo (20), surgiu na última segunda-feira (14), apenas quatro dias depois do afastamento de um grupo de policiais comunitários acusados de agredir moradores da favela da zona oeste.

A confusão aconteceu por volta das 4h do último dia 9, durante uma festa de Carnaval. Moradores alegam que os policiais foram chamados para intervir em uma briga e resolveram encerrar a comemoração (a festa estava autorizada a ir até 0h, segundo a PM), o que gerou revolta coletiva. Depois de muita discussão, os PMs teriam usado spray de pimenta para afastar um grupo de pessoas e, em seguida, atirado três vezes para o alto.

Em dezembro do ano passado, a reportagem do UOL Notícias mostrou que a UPP não conseguiu eliminar em definitivo o tráfico de drogas na Cidade de Deus. O então comandante da unidade, o capitão José Luiz de Medeiros, admitiu na ocasião que constantemente são detidas pessoas ligadas ao narcotráfico gerido pela facção criminosa Comando Vermelho (CV): “Microtraficantes a gente prende quase todo dia”, disse ele. Em geral, com o fim das bocas de fumo protegidas por homens fortemente armados, crianças e adolescentes (entre 8 e 16 anos), além de idosos, são escalados para entrar na região com o entorpecente.

Em 2009, por exemplo, a polícia prendeu Denair Martins Gonçalves da Silva, de 68 anos, mãe de Ederson José Gonçalves Leite, o Sam, acusado de ser o líder do narcotráfico na região. Ela era uma espécie de representante do filho, preso desde 2002, na gerência do crime organizado e já articulava a instalação de um esquema de lavagem de dinheiro, de acordo com os documentos que foram achados em sua residência. No ano seguinte, outra idosa, uma mulher de 65 anos, também foi detida quando tentava entrar na comunidade com 3.000 papelotes de cocaína em uma sacola de compras.

Um cinegrafista anônimo também denunciou uma feira de comércio de drogas em plena luz do dia. As imagens, feitas em maio de 2010, mostram homens vendendo livremente maconha e cocaína na Vila Nova Cruzada, popularmente conhecida como Rocinha 2, na Cidade de Deus, a 100 metros de um carro da Polícia Militar. A localidade é tida pela Secretaria de Estadual de Segurança Pública como o principal foco de resistência ao modelo de policiamento comunitário na favela, assim como a região do Caratê.

Porém, de acordo com o governo, a maioria dos 140 mil habitantes da Cidade de Deus apoia o modelo em razão da queda nos índices de criminalidade. Entre 2008 e 2009, os homicídios caíram de 34 para seis no mês de novembro em comparação ao ano anterior, segundo o governo.

Ironicamente, ainda que seja a mais problemática das 14 UPPs instaladas no Rio, especula-se que a Cidade de Deus fora escolhida pelos agentes da Casa Branca em razão da logística de segurança, já que se trata de uma favela plana.

Reduto do crime organizado na década de 80 e palco de disputas sangrentas entre facções, a Cidade de Deus foi a segunda comunidade da capital fluminense a receber uma Unidade de Polícia Pacificadora, em fevereiro de 2009. A urgência em acabar com a violência no local era uma questão estratégica para o Estado, já que Jacarepaguá é considerado um bairro nobre do Rio e está próximo à Barra da Tijuca, fonte constante de altos investimentos imobiliários.