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Iraque ainda não sabe qual será o destino dos palácios de Saddam após a saída das tropas americanas

Do UOL Noticias*

Em São Paulo

13/06/2011 20h00

A retirada das tropas norte-americanas do Iraque, prevista para ser concluída em 31 de dezembro de 2011, lança um desafio para o novo governo do país: o que fazer com os grandiosos palácios construídos pelo ex-ditador Saddam Hussein.

Desde 2003, ano da invasão americana, os palácios foram ocupados pelos soldados, marinheiros e fuzileiros navais do Exército americano. É um lugar incomum para se trabalhar, cercado pela história de Saddam.

Até a época em que o ditador foi deposto, ele havia construído 75 palácios e complexos exclusivos em todo o país, entre eles, os palácios “Vitória sobre o Irã” e “Vitória sobre a América”.

“Todas as guerras às quais Saddam sobreviveu eram uma vitória”, disse o coronel Les Melnyk, militar americano e também historiador no Iraque em entrevista à “Associated Press”.

Com a retirada das tropas, o governo iraquiano ainda não descobriu o que fazer com todas essas construções, espalhadas pelo país.

Em Basra, no sul do Iraque, um dos complexos já está sendo transformado em museu. Outro, localizado perto das ruínas da Babilônia, deve dar lugar a um hotel. O porta-voz do governo, Ali al-Dabbagh, diz que a cela em que Saddam ficou após ser capturado pelos americanos deve ser transformada em um museu.

Bahaa Mayah é o chefe de um comitê iraquiano que vai decidir qual será o fim dos palácios de Saddam. Com relação ao complexo ocupado pelas tropas, em Bagdá, perto do aeroporto internacional, ele já tem planos.

“Quando um presidente estrangeiro ou um primeiro-ministro visita o Iraque, nós fechamos todas as ruas, e muitas medidas de segurança são tomadas e isso atrapalha o tráfego dentro de Bagdá”, ele diz. “Então, o melhor lugar é perto do aeroporto onde o presidente possa receber seus convidados sem excesso de segurança”.

Uma das propriedades que mais se destacam no complexo Vitória é o palácio Al Faw, cujas construções tornaram-se um dos hobbies de Saddam. Ele fez cerca de 400 alterações na planta do local, de acordo com informações do historiador americano.

Ao sobrevoar o complexo, ele pensou ter visto uma cruz e suspeitou que os arquitetos iugoslavos, responsáveis pela obra, tinham deixado a cruz de propósito.

“Ele presumiu, sendo o homem paranóico que era, que os arquitetos estavam tentando inserir um símbolo cristão no país dele. Então ele decidiu dobrar o tamanho do palácio para a escondê-la”, disse Melnyk.

Como resultado da mudança, a parte de trás do palácio ficou desestabilizada. Rachaduras estão visíveis, pedaçosdasparedesestãocaindoe o palácio pode ser declarado inabitável.

Os militares americanos fizeram algumas melhoras nos palácios ocupados, como instalar detectores de fumaça, novos cabos e melhorias no encanamento. No entanto, eles não são obrigados a reparar toda a destruição causada durante os ataques.

Os materiais usados para a construção também não colaboram com a preservação do lugar. Saddam pensou em construir seu Versalhes, mas comprou materiais pela metade do preço. No palácio Al Faw, os corrimões são de gesso, não de mármore. Os escritos árabes nas paredes parecem ouro, mas são na verdade de latão.

O maior prédio do complexo é o palácio Vitória sobre América. É um prédio cavernoso, com lugares que permitiam a Saddam espionar seus convidados. O prédio foi atingido pelos mísseis americanos durante a invasão, matando cerca de 200 oficiais. Mais tarde, o local foi usado para treinar os cães farejadores que trabalharam nas buscas por corpos. Em outra parte do prédio, segundo Melnyk, foram encontrados pedaços de um crânio, sugerindo que alguém havia sido executado no local, pouco antes da invasão.

Agora,os iraquianos devem decidir como vão contextualizar os grandes projetos de Saddam Hussein em sua nova história: destruí-los, colocando um ponto final nas lembranças do governo do ditador, ou reciclá-los, simbolizando um novo futuro para o país, sem Saddam e sem as tropas americanas.

Para Mayah, os palácios, a maioria construída nos anos 90, não deveriam ser destruídos. “Eles [a população] não tinham dinheiro para comprar comida enquanto o presidente estava construindo palácios”, disse. “Os palácios deveriam permanecer para lembrar os iraquianos do período em que foram construídos”, completa ele.

A guerra no Iraque já custou aos EUA cerca de 1 trilhão de dólares e matou mais de 4.400 soldados norte-americanos. As operações de combate dos EUA foram encerradas oficialmente em agosto e os cerca de 50.000 soldados do país no Iraque devem ser retirados até o final de 2011 sob os termos de um pacto de segurança bilateral.

*Com informações da Associated Press