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Acampamento de verão nos EUA reúne parentes de vítimas de atentados terroristas

Ben Nuckols

Da Associated Press<br>Em Middleburg, Virgínia (EUA)

03/08/2011 07h17

Jason Vadhan não conhecia ninguém quando chegou ao acampamento de verão para jovens que, como ele, perderam um ente querido em um ataque terrorista. Mas não demorou muito para que ele formasse relacionamentos profundos.

Vadhan, cuja avó estava no Voo 93 da United, é um dos 77 participantes do Project Common Bond (Projeto Laço Comum), um acampamento de verão que reúne parentes das vítimas do 11 de Setembro, assim como jovens de todo mundo que foram marcados pelo terrorismo.


Quando Vadhan, 18 anos, de Atlantic Beach, Nova York, concluiu uma mesa redonda e entrevistas com repórteres na semana passada, outros participantes do acampamento se reuniram em uma sala ao lado e aplaudiram quando ele entrou.

“Eu cheguei aqui sem conhecer ninguém”, disse Vadhan, “e quando aquela porta se abriu e havia pessoas nos aplaudindo, eu fui até um garoto que conheci três dias atrás, lhe dei um abraço e chorei”.

O Project Common Bond é organizado pela Tuesday’s Children, uma organização sem fins lucrativos dedicada a servir as famílias das vítimas do 11 de Setembro. Mas ao longo dos anos o acampamento passou a ter um foco mais internacional. O acampamento de oito dias deste ano –realizado no campus de uma escola particular para meninas, a aproximadamente 60 quilômetros a oeste de Washington– incluiu participantes de oito países, incluindo, pela primeira vez, a Rússia e o Sri Lanka.

Muitos dos participantes, que variam em idade de 15 a 20 anos, retornam anualmente pelas amizades, o senso de comunidade e as experiências compartilhadas. Suas vidas são moldadas por eventos extraordinários, mas no Project Common Bond, eles se sentem normais.

“É tudo muito simples aqui”, disse Julie Griffin, 19 anos, cujo pai foi morto no 11 de Setembro. “Todo mundo entende.”

Perder um parente para o terrorismo é diferente, porque a tragédia se desenrola em público, disse Fran Furman, diretora de aconselhamento da Tuesday’s Children.

“Você é único de uma forma que não queria ser único”, disse Furman. “É muito, muito difícil sentir que você pode se conectar e formar um laço com outros adolescentes.”

Mas nos acampamentos, relacionamentos estreitos se formam instantaneamente.

“Há essa conexão profunda”, disse Caitlin Leavey, 20 anos, cujo pai, um bombeiro, morreu enquanto respondia ao ataque ao World Trade Center. “Uma das minhas amigas não fala inglês, mas mesmo assim consigo me comunicar com ela e formar uma amizade duradoura. Eu acho isso incrível.”

Nas manhãs, os participantes frequentam aulas e discussões em grupo sobre processos de paz e solução de conflitos. O tema deste ano foi a dignidade: como os terroristas a tomam; como eles podem recuperá-la; e como podem encorajá-la em outros.

Alguns escolheram a solução de conflitos, como curso universitário ou carreira, com base nas experiências deles no acampamento.

“Eu queria transformar minha tragédia em algo positivo”, disse Leavey, que está se formando em estudos de conflito e paz pela Universidade de Nova York e usa um colar com o nome da unidade dos bombeiros de seu pai, a Ladder 15.

Nas tardes o acampamento é só diversão, com esportes, teatro, música, arte e dança.

Mijal Tenenbaum não sabia se diversão faria parte da experiência quando participou do acampamento no ano passado, em Belfast, Irlanda do Norte.

“Eu achei que seria estranho, que estaríamos aqui e seria incômodo o tempo todo, porque haveria um grande elefante na sala sobre o qual não falaríamos”, disse Tenenbaum, uma argentina de 17 anos cujo pai morreu em um atentado a bomba contra um centro comunitário judeu em Buenos Aires, em 1994. Mas quando ela chegou, ela disse, “a sensação foi incrível”.

Outro encontro de filhos das vítimas do 11 de Setembro, chamado America’s Camp, será realizado daqui duas semanas em Hinsdale, Massachusetts. Mas o Project Common Bond é o único com participantes internacionais.

O 10º aniversário do 11 de Setembro não tem sido um grande foco do acampamento deste ano, apesar de alguns poucos participantes estarem pintando uma caixa de correio que será instalada no Memorial do 11 de Setembro, no Ponto Zero, para servir como um receptáculo simbólico para mensagens de paz de todo o mundo.

A morte do líder terrorista Osama Bin Laden, por outro lado, é mencionada frequentemente. As respostas variam muito, disse Monica Meehan McNamara, uma terapeuta familiar e acadêmica que projeta os currículos para o acampamento. Alguns disseram ter ficado felizes e quiseram celebrar, enquanto outros argumentaram que outra morte não resolve nada.

Marie Clyne, 21 anos, uma conselheira do acampamento de Lindenhurst, Nova York, cuja mãe foi morta no 11 de Setembro, disse que se sentiu mais aliviada do que contente. “Foi algo tipo, ‘finalmente o bandido se foi’”, ela disse. Mas, ela acrescentou, “eu vejo ambos os lados”.

Às vezes os participantes são forçados a abandonar seus preconceitos. O Project Common Bond inclui tanto israelenses quanto palestinos, e jovens que vêm de lados opostos de outros conflitos.

Richard John Hill, 18 anos, vem de uma família unionista da Irlanda do Norte, e seu tio foi morto pelo Exército Republicano Irlandês (IRA). No Project Common Bond, ele conheceu uma pessoa de uma família nacionalista, cuja mãe foi morta pela IRA.

“Aquilo foi algo totalmente novo para mim”, ele disse. “Eu não consigo explicar quão poderoso foi aquilo.”

Os organizadores esperam realizar o acampamento no exterior novamente no ano que vem, possivelmente na Espanha. Enquanto isso, os participantes usam as redes sociais para manterem contato ao longo do ano, e alguns até mesmo viajam para visitar uns aos outros.

Tenenbaum disse que ela tem alguém com quem falar sempre que se sente mal.

“É bom ter amigos por todo o mundo, que sabem do que estou falando”, ela disse.