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Há seis anos no poder e reeleito presidente, Correa continua se apresentando como o indignado

O presidente do Equador, Rafael Correa, vota em uma escola em Quito nas eleições presidenciais do país realizadas no último domingo (17) - Guillermo Granja/Reuters
O presidente do Equador, Rafael Correa, vota em uma escola em Quito nas eleições presidenciais do país realizadas no último domingo (17) Imagem: Guillermo Granja/Reuters

Robert Mur

19/02/2013 06h00

Rafael Correa está há seis anos no poder, mas continua se apresentando como reformista. É o que dá encabeçar uma "revolução cidadã", como o presidente do Equador denomina a transformação que promove no país desde que assumiu o governo, em 2007. No domingo (18), segundo pesquisas realizadas na boca de urna, obteve uma vitória esmagadora, com 61,5% dos votos, muito à frente de seu principal adversário, Guillermo Lasso, que ficou com 20%. Com esse resultado Correa não precisa disputar um segundo turno.

O presidente de 49 anos explicou as eleições como a dicotomia entre ele e o passado. A estratégia funcionou e Correa não encontrou um rival à sua altura entre os outros sete candidatos presidenciais. Nem o ex-banqueiro Guillermo Lasso nem o ex-presidente Lucio Gutiérrez puderam lhe fazer cócegas. "Foi um grave erro tentar ocultar o inocultável, tentar tapar o sol com um dedo e negar as mudanças históricas que a pátria está tendo, não só no plano físico, em infraestruturas, [como também] em direitos humanos, soberania, independência, justiça social, conquistas econômicas", disse Correa na semana passada. "Sete contra um, todos falando a mesma coisa e todos representando os velhos poderes", acrescentou.

O novo aeroporto de Quito, inaugurado há poucos dias, é um exemplo da modernidade e desenvolvimento que o líder reeleito vende. Os altos preços do petróleo nos últimos anos favoreceram o crescimento, o desenvolvimento da infraestrutura e a bonança econômica, assim como a distribuição de subsídios para as classes mais pobres.

Se fosse espanhol, o Correa das caras camisas brancas com bordados indígenas poderia se fazer passar facilmente pelo líder dos indignados. De fato, chegou à presidência depois de obter o testemunho dos "foragidos", como Gutiérrez batizou os manifestantes que, de panelas na mão, forçaram sua destituição em 2005, sendo substituído pelo vice-presidente Alfredo Palacio.

Então chegou a hora do jovem professor universitário de economia, com doutorado em Illinois e mestrado na Universidade de Louvain, onde conheceu sua esposa, a belga Anne, com a qual tem três filhos. Palacio nomeou Correa ministro da Economia, mas este se demitiu três meses depois porque o mandatário não lhe permitia desenvolver as esperadas políticas sociais. Aquela renúncia provocou protestos nas ruas a favor de Correa, que fundou seu partido, a Aliança País - Pátria Altiva e Soberana -, com o qual ganharia suas primeiras eleições em 2006.

Hoje o presidente continua sendo um indignado, como se estivesse na oposição. Correa pronuncia discursos e faz gestos veementes contra a imprensa "corrupta", contra os empresários oligarcas, contra os partidos de oposição, e não deixa passar a oportunidade de se indignar no estrangeiro, como na Cúpula Ibero-Americana de 2011, no Paraguai, quando saiu da sessão gesticulando durante um discurso da vice-presidente do Banco Mundial.

O sonho de Correa "é ver um país sem miséria, sem crianças na rua, uma pátria sem opulência mas digna e feliz, uma pátria amiga distribuída entre todos e todas", segundo diz uma das canções de sua campanha. Como todos os líderes de esquerda latino-americanos, o socialista Correa bebe de Hugo Chávez, mas seu enfoque é mais social-democrata que o do venezuelano, inspira maior confiança por seu currículo acadêmico e também promove governos tecnocratas. No entanto, os métodos para conseguir seu objetivo emulam os de Chávez, começando pela rápida elaboração de uma nova Constituição, em 2008, o que, entre outras coisas, lhe permite esse terceiro mandato consecutivo.

O fustigamento à imprensa de oposição é outra das coincidências, assim como a imposição de duras condições às multinacionais ou a tentativa de assumir o controle das instituições do país, o que poderá aprofundar nos próximos quatro anos, à espera de saber se os resultados definitivos das eleições legislativas de ontem entregam a Correa a maioria absoluta no Parlamento.

Não faltaram acusações de corrupção durante seus dois governos, e a mais dolorosa foi feita por seu próprio irmão, Fabricio Correa, com o qual está brigado desde 2009 e a quem o mandatário também acusa de ser corrupto. Fabricio fundou um partido e tentou se apresentar nas eleições de ontem, mas afinal não conseguiu as assinaturas necessárias para tanto.

Além do habitual confronto político visceral, o único momento de tensão que pareceu pôr em risco o mandato de Correa ocorreu em 2010, quando um grupo de policiais se amotinou em Quito para reclamar melhores salários. O presidente foi pessoalmente falar com os agentes e, em uma confusão rocambolesca, recebeu um golpe no joelho. Transferido ao hospital de polícia, que estava próximo, o presidente denunciou que fora sequestrado e que se tratava de uma tentativa de golpe de Estado da oposição, o que não foi demonstrado.

Assim como Chávez, Cristina Kirchner ou Evo Morales, esse católico de Guayaquil tem um tom autoritário, de confronto e populista. Mas, como disse em novembro em entrevista a "La Vanguardia", durante sua visita a Barcelona: "O único populismo que existiu na América Latina é o populismo do capital".