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Rafael Correa promete sair da política em 2017 e terá como desafio preparar sucessor

Rafael Correa (e) e o vice, Jorge Glass, comemoram a vitória no palácio presidencial em Quito - Rodrigo Buendia/AFP
Rafael Correa (e) e o vice, Jorge Glass, comemoram a vitória no palácio presidencial em Quito Imagem: Rodrigo Buendia/AFP

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

19/02/2013 06h00

Reeleito com ampla vantagem no Equador, o presidente Rafael Correa terá como desafio preparar sua sucessão. O mandatário já declarou que deixará a Presidência em 2017, quando termina sua gestão, em respeito à Constituição aprovada em 2008, que permite apenas uma reeleição --Correa, que governa o país desde 2007, cumpre o terceiro mandato, mas a regra só passou a valer após a promulgação da Carta Magna.

“Vou respeitar a Constituição, sim. E mesmo que a Constituição não determinasse, daqui a quatro anos volto para casa”, disse Correa em entrevista à rádio colombiana La FM após a vitória nas urnas. Já pensando no seu sucessor, o presidente equatoriano prometeu não só deixar a Presidência, como se afastar da vida pública para se dedicar mais à família.

“Minha presença no país é muito forte. Se depois de quatro anos voltarmos a vencer as eleições, minha presença [na vida pública], opacaria meu sucessor. Assim, para deixar florescer os outros, prefiro recolher-me a vida privada”, disse o mandatário na mesma entrevista.

Para o professor Giorgio Romano Schutte, que coordena o departamento de Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC), as transformações promovidas nos governos de Correa não podem depender somente dele, uma pessoa “centralizadora” na opinião do docente. “O desafio dele é preparar a sucessão. Ele criou um novo paradigma no modo de governar o Equador que não pode depender de um homem só. Para manter [esse paradigma], ele precisa consolidar o apoio da população.”

O desafio de Correa é semelhante ao enfrentado pelo venezuelano Hugo Chávez, reeleito presidente do país em outubro do ano passado. O mandatário enfrenta um câncer na região pélvica e seu futuro no comando da Venezuela é incerto. Logo após a vitória de Chávez, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista ao jornal argentino “La Nación”, que o venezuelano deveria começar a preparar a sucessão.

Herdeiro de Chávez?

Na avaliação de analistas entrevistados pelo UOL, Correa não tem como assumir o papel político exercido por Chávez na geopolítica. “O Equador não tem a importância da Venezuela no cenário internacional. A Venezuela é um ator global pela grande produção de petróleo. O Equador não tem o mesmo peso”, afirma Leonardo Valente, professor de Relações Internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

“O Equador é um país pequeno, que precisa se afirmar, mas não pode correr riscos assumindo posições como as da Venezuela. Correa não se mete em outros países. Ele até se afirma, mas com moderação”, opina Romano Schutte.

Em entrevistas após a vitória, o presidente equatoriano prometeu privilegiar as relações com os países latino-americanos, em especial os que compõem a Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), como Venezuela e Bolívia. Na opinião dos analistas, Correa deve buscar multiplicar a pauta de exportação, para reduzir a dependência das exportações de petróleo, e aproximar-se dos Estados Unidos e Brasil.

“A postura dele deve ser a mesma que adotou há pelo menos um ano e meio, de se manter discreto no ponto de vista da política externa, muito mais de olho no Brasil do que nos Andes, e com uma ligeira tendência de aproximação com os Estados Unidos”, sustenta Valente.

Economia

Correa também terá como desafios manter a estabilidade econômica em meio à crise financeira internacional e concretizar o ingresso do Equador no Mercosul. O mandatário manifestou, no seu primeiro mandato, o desejo de rever a dolarização da econômica equatoriana, o que, segundo ele, tira a competitividade dos produtos do país no mercado internacional e aumenta a dependência das exportações de petróleo.

Em declarações recentes, entretanto, Correa negou que irá reverter a dolarização, em vigor no país desde 2000, por imposição do Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Seria um erro rever a dolarização nesse momento. Correa até pode preparar o terreno, porque um país sem moeda própria não pode ser soberano, mas ele sabe que é um processo difícil, que pode aumentar muito a inflação e comprometer a economia do país”, afirma o professor da UFABC.

Maioria no Legislativo

Ao logo de sua campanha, Correa insistiu que era preciso não só elegê-lo, mas também conquistar maioria satisfatória dentro da Assembleia Nacional equatoriana. Atualmente, o Aliança País, partido de Correa, e os aliados possuem cerca de metade das 137 cadeiras do parlamento. 

Ao que tudo indica, os eleitores cederam aos apelos de Correa: a apuração parcial das eleições indica que o mandatário terá, pela primeira vez, ampla maioria no Congresso, fato que foi comemorado pelo presidente em entrevista ao periódico local “El Telégrafo”.

“A maioria na Assembleia vai nos permitir aprofundar com muito mais rapidez as mudanças históricas da Revolução Cidadã”, disse Correa, referindo-se às transformações sociais de seus governos. O mandatário qualificou a oposição de “golpista, desestabilizadora e até imoral” e disse que seus adversários na Assembleia obstruíram todos os projetos nos últimos quatro anos.

Reformas e imprensa

Entre as reformas que pretende implementar, Correa cita as que envolvem mudanças nas leis de águas, terras e de comunicação, com objetivo de democratizar o acesso a estes bens, além do atual Código Penal, praticamente inalterado há 70 anos.

Sobre a mídia, o mandatário pretende aprovar uma nova Lei de Comunicação, “que regule os claros excessos que tem certa imprensa”, conforme afirmou ao canal regional Telesur. “O que queremos é uma imprensa honesta e responsável.”