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Confrontos no Egito deixam 28 mortos, de acordo com agências

Do UOL, em São Paulo

05/07/2013 21h20

Pelo menos 28 pessoas morreram em várias partes do Egito nesta sexta-feira (5), quando ativistas islâmicos contrários à deposição do presidente Mohammed Mursi saíram às ruas para manifestar sua indignação.

Segundo a agência de notícias Reuters, cinco mortes foram confirmadas na capital Cairo, de acordo com fontes de segurança e a TV estatal. Manifestantes pró e contra Mursi travaram confrontos nas ruas após o anoitecer enquanto veículos blindados de transporte militar passavam em alta velocidade entre os dois grupos, sobre uma ponte próxima ao histórico Museu Egípcio.

As mortes teriam ocorrido perto da praça Tahrir, na capital, e perto dali, na ponte 6 de outubro, onde um grupo fez uma fogueira e atirou paus e pedras em outros manifestantes, que também revidaram. Pelas imagens exibidas pela TV estatal, era possível ouvir barulhos de fogos de artifício.

Os embates começaram quando o grupo que pede a volta de Mursi ao poder se dirigiu à sede da TV estatal do país; algum tempo depois esse grupo recuou.

Em um dos primeiros incidentes do dia, três manifestantes foram mortos em frente ao quartel da Guarda Republicana onde Mursi permanece sob custódia, segundo fontes de segurança.

Mohamed Ezzat, que declarou ser membro da Irmandade, disse que os manifestantes pretendiam se instalar diante do quartel da Guarda e em outros locais do Cairo para protestar contra o golpe militar. "O mais importante com o Exército é que ele fique longe da política. Tínhamos um presidente eleito e legítimo, e o Exército veio e o afastou."

O Exército negou ter alvejado os manifestantes, e disse ter usado apenas balas de borracha e gás lacrimogêneo para controlar a multidão. Não ficou claro se havia outras unidades das forças de segurança além do Exército no local.

Mais tarde, dezenas de milhares de simpatizantes da Irmandade se congregaram perto de uma mesquita em um subúrbio da cidade, onde escutaram um pronunciamento do líder do grupo, Mohamed Badie, que estava livre para falar apesar dos rumores de que teria sido preso na quinta-feira.
 

 

Confrontos fora da capital

Na cidade de El Arish, no norte da península do Sinai, cinco policiais foram baleados em incidentes separados, mas não está claro se esses ataques estão vinculados à deposição de Mursi pelas Forças Armadas. Radicais islâmicos, no entanto, haviam prometido pegar em armas contra o golpe.

Na cidade de Alexandria (ao norte do país), 12 pessoas foram mortas durante os confrontos entre as facções rivais, de acordo com o chefe dos serviços de emergência, que citou à agência estatal Mena 200 feridos. A maioria morreu baleada. Em Assiut (ao sul) houve outra morte, também a tiros.

"Sexta-feira da Raiva"

Dezenas de milhares de pessoas saíram em passeatas no país inteiro, naquela que a Irmandade Muçulmana --grupo político de Mursi-- chamou de "Sexta-Feira da Raiva", para protestar contra a intervenção militar que derrubou Mursi e nomeou um governo provisório para preparar novas eleições.

Mursi, primeiro presidente eleito livremente na história do Egito, foi deposto na quarta-feira (3), após imensas manifestações populares, em mais uma reviravolta nos tumultuados dois anos desde a rebelião popular que derrubou o ditador Hosni Mubarak, parte da chamada "Primavera Árabe" que varreu a região em 2011.

Os protestos do último mês já deixaram dezenas de mortos no Cairo e em outras cidades. A derrubada do presidente foi festejada por milhões de egípcios nas ruas, mas enfureceu os partidários da Irmandade Muçulmana, que temem a volta da repressão ao grupo. (com agências)
 

ENTENDA A CRISE NO EGITO


O que aconteceu?
O comandante-geral do Exército, o general Abdul Fattah al-Sisi, declarou na TV que a Constituição foi suspensa e que o presidente da Suprema Corte assumiria poderes presidenciais, na prática derrubando o presidente Mohammed Mursi. Com isso, Adli Mansour comanda o governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares sejam convocadas. No Twitter, Mursi chamou o pronunciamento de "golpe completo categoricamente rejeitado por todos os homens livres de nossa nação". Soldados e carros blindados rondam locais importantes do Cairo enquanto centenas de milhares de manifestantes protestam nas ruas.

O que motivou a crise?
O descontentamento começou em 2012, quando Mursi, 1º presidente democraticamente eleito do Egito, deu a si mesmo amplos poderes numa tentativa de garantir que a Assembleia Constituinte concluísse a nova Constituição. Desde então, houve uma cisão política no país. De um lado, Mursi e a Irmandade Muçulmana; de outro, movimentos revolucionários e liberais. Quando a nova Constituição, polêmica e escrita por um painel dominado por islamitas, foi aprovada às pressas, as manifestações em massa tomaram as ruas, e Mursi acionou o Exército. Mas enfrentamentos continuaram, deixando mais de 50 pessoas mortas. Diante da pressão, os militares deram um ultimato ao presidente, que tinha 48 horas para atender às demandas populares. Mursi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito, e houve intervenção.

Qual o caminho traçado pelos militares?
Após encontro de líderes políticos, religiosos e jovens, o general Sisi disse que o povo clamava por "ajuda" e que os militares "não podiam permanecer em silêncio". Ele disse que o Exército fez "grandes esforços" para conter a situação, mas o presidente não atendeu "às demandas das massas" e era hora de por "fim ao estado de tensão e divisão". Como a nova Constituição era alvo de fortes críticas, ele suspendeu-a temporariamente. O general não especificou quanto tempo duraria o período transitório e o papel que será exercido pelos militares. Ele conclamou a Suprema Corte Constitucional a rapidamente ratificar a lei permitindo eleições para a Câmara Baixa do Parlamento, que está dissolvida, e para a Assembleia Popular. E afirmou que um novo código de ética será expedido.
  • Fonte: BBC Brasil