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Capitão do Costa Concordia deve fazer novo pedido de acordo judicial, diz advogado

Do UOL, em São Paulo

17/07/2013 11h33

O capitão do cruzeiro Costa Concordia durante o seu naufrágio em 2012, Francesco Schettino, 52, deve fazer novo pedido de acordo judicial no julgamento que teve início nesta quarta-feira (17). Segundo sua defesa, o capitão se declararia culpado em troca de uma pena de 3 anos e 5 meses de prisão.

Em abril, a Promotoria rejeitou uma oferta de acordo com a confissão de Schettino. O ex-capitão é o único levado a julgamento no caso.

Acusado de crimes como homicídio, abandono do navio, naufrágio e de não ter informado imediatamente às autoridades portuárias sobre a batida que provocou o naufrágio, Schettino poderia ser condenado a até 20 anos de prisão.

O comandante do navio que se acidentou em frente à ilha de Giglio, na costa da Itália, matando 32 pessoas, passou a ser visto como vilão do caso pela sociedade italiana, principalmente após a divulgação de gravações que mostram que ele abandonou a embarcação.

Durante o primeiro dia de julgamento, a defesa de Francesco Schettino sustentou que o ex-capitão não foi o único responsável pelo naufrágio.

"Ele nunca se eximiu das suas responsabilidades. Mas é apenas justo que ele seja tratado com justiça", disse o advogado Francesco Pepe a jornalistas em frente ao tribunal.

A defesa de Schettino alega que ele evitou um desastre ainda maior ao levar a embarcação de 950 pés (290 metros) para águas mais rasas depois da colisão com uma rocha, e que ele caiu do convés quando o navio adernou.

No teatro improvisado para a audiência em Grosseto, no centro da Itália, estiveram presentes hoje, além de Schettino, a jovem moldava Domnica Cemortan, que segundo a acusação estava junto com o ex-comandante no momento do desastre.

"Estou surpresa que esse processo tenha somente um único réu, Francesco Schettino. Ele estava no comando de um navio, e não de um carro", afirmou Cemortan, em uma pausa do julgamento, alegando esperar "que toda a verdade possa emergir, em particular para as vítimas".

Segundo o promotor Francesco Verusio, não há dúvidas sobre a responsabilidade de Schettino. "Agora a única coisa que deve ser analisada é a quantificação da condenação", afirmou.

"Uma coisa que deverá ser esclarecida é que o acidente do Costa Concordia não aconteceu por causa de uma manobra errada, mas foi um prazer que o comandante Schettino fez para Antonello Tievoli [o maître de bordo com o qual o ex-comandante tinha um laço de amizade], porque seus familiares que moram no Giglio pudessem assistir a passagem do navio muito próximo de baixo da costa", completou o promotor.  

O tribunal de Grosseto admitiu como partes civis no processo sobre o naufrágio do Concordia a companhia proprietária do navio, a Costa Crociere, o Ministério do Ambiente da Itália e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês).

O julgamento terá uma longa duração, já que a promotoria convocou 338 testemunhas, enquanto a defesa de Schettino chamou 96, e as partes litigantes 575, além da presença de aproximadamente 160 pessoas entre público, parentes das vítimas e passageiros.


Audiência adiada

A primeira audiência do julgamento estava marcada para 9 de julho. No entanto, alguns dos advogados que participam do processo, entre eles o defensor de Schettino, Domenico Pepe, declararam adesão à greve.

A greve de advogados da semana passada também acarretou o adiamento da audiência preliminar do processo paralelo, marcada agora para o dia 20 de julho.

Nessa data, será decidido a confirmação das penas pactuadas (entre um e dois anos de reclusão) pelos outros acusados do naufrágio: o responsável da ponte de comando, Ciro Ambrosio; a oficial, Silvia Coronica; o timoneiro Jacob Rusli, o chefe dos serviços de bordo, Manrico Giampedroni, e o chefe da unidade de crise de Costa Cruzeiros em terra, Roberto Ferrarini.

Diferentemente do que ocorreu com Schettino, que teve pedido de acordo judicial negado pela Promotoria, os outros cinco envolvidos foram atendidos ao pleitearem a confissão premiada.

A Costa Cruzeiros, uma unidade da Carnival Corp, concordou em pagar 1 milhão de euros (R$ 2,97 milhões) para resolver possíveis acusações criminais.

O Naufrágio

O Costa Concordia virou perto do porto de Giglio, no dia 13 de janeiro de 2012, após ter atingido rochas durante uma manobra realizada muito perto da costa.

Cruzeiro naufraga na itália

  • Arte/UOL

O acidente provocou a retirada durante a noite de mais de 4.000 passageiros e tripulantes do navio de 290 metros de comprimento, que ainda repousa sobre pedras diante do porto.

Schettino deixou o navio antes que todos os tripulantes e passageiros estivessem na terra.

O advogado Francesco Pepe afirmou que Schettino admitiu suas próprias culpas ao aproximar o cruzeiro da costa, o que provocou sua colisão contra um rochedo, mas que depois atuou com responsabilidade para salvar a vida dos passageiros, negando que teria abandonado o navio.

“Suba a bordo!”

Após o naufrágio do Costa Concordia, veio a público a gravação de uma discussão entre o comandante Gregorio De Falco, da Capitania dos Portos de Livorno, e Schettino. A reprodução do áudio foi escutada por milhares de pessoas por toda a Itália, elevando De Falco a herói e transformando Schettino em vilão.

No diálogo, o comandante de Livorno ordenava que Schettino, que deixava o local do acidente por volta das 23h30 local em um bote salva-vidas, voltasse ao navio para socorrer as vítimas.

"Escute, Schettino", disse De Falco, "há pessoas presas a bordo. Dirija-se com seu barco abaixo da proa do navio pelo lado direito. Suba a bordo pela escada de corda e me diga quantas pessoas há lá. Está claro?".

Com uma voz apagada, o capitão do cruzeiro respondeu: "Mas se dá conta que aqui está tudo escuro e não vemos nada?".

"E quer voltar para sua casa, Schettino?", perguntou De Falco irritado e levantando a voz. "Está escuro e quer voltar para sua casa? Pegue o bote, vá até a proa do navio e diga-me o que se pode fazer, quantas pessoas estão lá e o que precisam. Está claro?".

"Suba a b-o-r-d-o!", ordenou com voz firme, por fim, o comandante de Livorno. 

"Não queria fugir, caí em um barco de salvamento", argumentou Schettino, acrescentando que "tentou salvar todos". "Nem sequer coloquei o colete salva-vidas porque serviria para outras pessoas", alegou. (Com agências de notícias).