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Jornal que revelou caso Edward Snowden foi ameaçado por governo do Reino Unido

Do UOL, em São Paulo

20/08/2013 18h59

Editores do britânico “The Guardian” revelaram nesta terça-feira (20) que o jornal foi ameaçado de ser acionado legalmente pelo governo do Reino Unido se não destruísse as informações enviadas pelo ex-agente norte-americano Edward Snowden, que revelou um esquema de espionagem da NSA (sigla em inglês para a Agência Nacional de Segurança dos EUA).

O diretor do jornal, Alan Rusbridger, relatou o episódio, ocorrido há cerca de um mês, em um texto publicado hoje. Rusbridger foi contatado por um funcionário do governo britânico que, após alguns encontros, pediu a entrega ou a destruição dos documentos ligados às revelações de Snowden. O “Guardian” foi o primeiro a noticiar as denúncias.

O jornal descreve o incidente como “um dos episódios mais estranhos na história do jornalismo da era digital”, ao explicar que, em 20 de julho, um editor e um especialista em computação foram ao porão de um dos escritórios do "Guardian" e, monitorados por técnicos da Sede de Comunicações do governo britânico, “pulverizaram” os discos rígidos de memória e os chips que continham os arquivos criptografados. A ação foi fotografada pelos técnicos, mas esses saíram do local de mãos vazias.

Rusbridger já tinha informado a oficiais do governo britânico que outras cópias dos arquivos estavam disponíveis fora do país e que o “Guardian” não era o único detentor dos materiais vazados por Snowden. Ainda assim, o governo insistiu que os arquivos fossem destruídos ou entregues, segundo o jornal.

O artigo também diz que, assim que foram publicadas as primeiras reportagens, a redação do jornal foi visitada por agentes que, de maneira “cordial”, exigiram a entrega dos documentos, argumentando que eles eram “roubados”. Os editores alegaram que o assunto era de interesse público “substancial”, e não houve ameaças até aí.

As reportagens continuaram sendo publicadas e, a partir disso, algumas semanas depois, a ação dos oficiais do governo foi mais austera.

“Vocês já se divertiram. Agora, nós queremos o material de volta”, disse um deles, de acordo com o artigo do jornal, informando que havia um temor por parte do governo britânico de que países como Rússia e China pudessem hackear a rede do “Guardian”.

Vários telefonemas e reuniões se seguiram até que a ameaça de uma ação legal se concretizou.

“Eu expliquei às autoridades britânicas que existiam outras cópias na América e no Brasil, e que eles não conseguiriam nada”, disse Rusbridger. “Mas assim que ficou óbvio que eles iriam à Justiça, eu preferi destruir nossa cópia em vez de entrega-la a eles ou permitir às Cortes que ‘congelassem’ nosso trabalho de reportagem.”

O jornal define que o encontro foi “único” na longa e nada tranquila relação entre a imprensa e as agências de inteligência, e que foi “um compromisso altamente incomum e muito físico entre as demandas da segurança nacional e a liberdade de expressão”.

“Isso afeta cada cidadão, mas acho que jornalistas deviam estar cientes das dificuldades que irão enfrentar no futuro porque todo mundo, em 2013, deixa uma trilha digital bem grande e que é muito facilmente acessível”, disse o editor Rusbridger.  (com "The Guardian" e agências internacionais)