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Assad vence eleições presidenciais sírias com 88,7% dos votos

Do UOL, em São Paulo

04/06/2014 16h06Atualizada em 04/06/2014 17h44

O ditador Bashar Assad venceu as eleições presidenciais sírias com 88,7% dos votos, anunciou nesta quarta-feira (4) o Parlamento do país. 

Assad, que governa o país desde o ano 2000, foi reeleito para o terceiro mandato. Segundo a Corte Constitucional síria, o comparecimento foi de 73,47%.

Os principais adversários de Assad --Hassan al-Nouri and Maher Hajjar-- receberam, respectivamente, 4,3% e 3,2% dos votos. Foi a primeira vez em décadas que a eleição teve mais de um candidato de fora da família Assad. 

A Síria vive uma guerra civil há três anos. A votação ocorreu em áreas controladas pelo governo, mas não em partes do norte e do leste controladas pelos rebeldes, o que levou a comunidade internacional e a oposição a denunciarem a votação como uma "farsa".

Dezenas de milhares morreram e milhões forçados a abandonar suas casas por causa do conflito.  

Esta vitória certamente estimulará Assad a intensificar seu combate contra a rebelião. 

"As eleições foram fictícias", afirmou o secretário de Estado americano John Kerry ao chegar a Beirute, em uma visita inesperada.

Anteriormente, seu governo havia classificado as eleições de vergonha, enquanto a França as chamava de farsa.

Os resultados definitivos serão divulgados a princípio na noite de quinta-feira, mas a imprensa oficial já anunciava uma participação muito elevada e uma vitória de Assad, de 48 anos.

"Frente ao complô, o povo escolheu reconduzir seus líderes para restabelecer a segurança, lutar contra o terrorismo e reconstruir o país", afirmou o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Muallem, citado pela imprensa.

O regime de Assad nunca reconheceu o movimento de protesto lançado em março de 2011 e que, violentamente reprimido, se transformou em rebelião armada classificada de terrorista pelo governo.

EUA e Otan não reconhecem eleição na Síria

Forte participação

Apesar da guerra que deixou mais de 162.000 mortos, parte da população segue apoiando Assad.

"Milhares de sírios foram votar desafiando o terrorismo e os carros-bomba para afirmar a legalidade de um novo mandato de Assad que durará até 2021", escreveu o jornal  "Al-Watan", alinhado ao regime.

"Os colégios eleitorais foram tomados de assalto. Isto reflete o alto grau de responsabilidade em relação aos desafios da guerra terrorista contra a qual lutam na Síria", afirmou o jornal oficial "As Saura".

Os jornalistas da AFP também observaram uma participação importante e a votação se prolongou por cinco horas "devido à afluência de eleitores", segundo as autoridades.

No entanto, as ruas estavam quase desertas em Damasco no dia da eleição, devido à queda de muitos obuses disparados pelos rebeldes.

"Mais de 130 obuses de morteiros caíram na terça-feira sobre Damasco e em seus arredores nas mãos do regime", matando três pessoas, indicou o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rhamane.

Em Aleppo, nas zonas sob controle do regime, foram registrados 19 mortos.

"Tomamos medidas militares secretas para impedir que os terroristas coloquem obstáculos no processo eleitoral. Concentraram suas ações em Damasco e Aleppo, mas ao votar em massa o povo marchou contra o terrorismo e contra os que o apoiam", afirmou à AFP um funcionário militar de alto escalão.

Como o dia das eleições não era feriado, muitos funcionários do serviço público votaram em seu gabinete.

A eleição foi realizada nos setores controlados pelo regime, em torno de 40% do território onde vive 60% da população.

O governo  agradeceu em um comunicado a "todos os sírios que participaram maciçamente da eleição".

O Ocidente, que apoia a oposição síria moderada, denunciou a realização de eleições em um país em guerra, e o OSDH afirmou que o regime forçou os cidadãos a votar, ameaçando-os com a prisão.

Kerry, em sua visita a Beirute, pediu que Rússia, Irã e o movimento islamita Hezbollah ajudem a levar a paz ao país.

A União Europeia (UE) considerou as eleições ilegítimas e convocou a encontrar uma solução para o horrível conflito que provocou o deslocamento de nove milhões de sírios.(Com agências internacionais)