Tiroteio em Cancún: traficantes levam guerra para as praias
Carlos Mimenza não revela se a equipe de 200 homens que ele montou porta armas. "Vou ter que deixar isso para sua imaginação. Meus advogados não permitem que eu fale a respeito."
Mas eles pilotam drones. Eles usam máscaras. Alguns são hackers especializados, contratados do coletivo Anonymous. Eles operam a partir de uma cabana de luxo na floresta cuja entrada está escondida por uma cachoeira. E eles afirmam ter o governador, além de altos funcionários e policiais, sob vigilância 24 horas por dia. Porque Mimenza, que é incorporador imobiliário, afirma que as autoridades mexicanas são responsáveis pela propagação da violência e da extorsão, conspirando com os cartéis do narcotráfico do país em vez de protegerem empresários como ele.
Ele não é o primeiro mexicano a dizer "basta". Os justiceiros são uma característica da década de guerra das drogas, quando o México se transformou em um dos lugares mais perigosos do planeta. O preocupante é onde o exército privado de Mimenza está atuando: nem entre os laboratórios de metanfetamina de Michoacán, nem nos terrenos erodidos de Ciudad Juárez, na fronteira com os EUA, e sim na estância de Playa del Carmen, na Riviera -- logo ao sul da Cancún, ponto nevrálgico do setor de turismo, que arrecada US$ 20 bilhões por ano.
Os narcotraficantes já dominam vários territórios do México, seja cooptando funcionários do Estado, seja desafiando-os abertamente. Agora estão invadindo as mecas do veraneio do país como nunca, deixando corpos em malas na porta de condomínios exclusivos ou promovendo tiroteios em casas noturnas. A bolha que protegia os turistas internacionais corre o risco de estourar.
O fator Chapo
Em todo o país, 2017 está a caminho de se tornar o ano com mais homicídios da história do México. Parte disso pode ter a ver com a prisão e extradição do chefe do narcotráfico Joaquín "El Chapo" Guzmán.
A tão comentada captura não ajudou muito a melhorar a avaliação ruim do presidente Enrique Peña Nieto nas pesquisas de opinião. O índice de criminalidade piorou e o ministro do Interior, Miguel Osorio -- inicialmente visto como candidato à sucessão de seu chefe na eleição presidencial do ano que vem -- acabou ficando na defensiva, lutando para se livrar da culpa.
O motivo é que com o enfraquecimento do Cartel de Sinaloa de Guzmán, seu rival incipiente, o grupo Jalisco Nueva Generación, ganhou força. A guerra por territórios se intensificou e se espalhou para lugares que antes eram oásis pacíficos, como Cancún e Playa del Carmen, no Caribe, bem como destinos do litoral oeste, como Los Cabos. No estado de Quintana Roo, que engloba os dois primeiros balneários, a taxa de homicídios dobrou neste ano; na Baixa Califórnia do Sul, no Pacífico, quase quadruplicou.
As autoridades de Los Cabos desenterraram 14 corpos perto de uma reserva marinha em junho. Além disso, encontraram uma mala cheia de restos humanos na estrada que leva a sua zona hoteleira. A faixa hoteleira de Cancún, de 22 quilômetros, é independente e está separada da cidade; ainda assim, três homens foram mortos a tiros em uma casa noturna em novembro.
As autoridades de Cancún não estão de braços cruzados. Julián Leyzaola, ex-chefe de polícia famoso por limpar as ruas sangrentas de Tijuana e Ciudad Juárez, foi contratado como conselheiro pelo prefeito. Leyzaola tem sido comparado a Rudy Giuliani e acusado de usar táticas duras similares às do ex-prefeito de Nova York.
Há muito em jogo. O turismo responde por quase 9 por cento do produto interno bruto do México, fatia maior que a do petróleo; e o país é o mais visitado da América Latina, de longe.
(Com a colaboração de Dave Merrill e Melinda Grenier)
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