EUA acusam 'viés anti-Israel' e anunciam saída da Unesco em dezembro
Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (12) oficialmente sua decisão de se retirar da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) a partir de 31 de dezembro e o seu desejo de estabelecer uma missão permanente como país "observador" nesse organismo.
Os Estados Unidos já haviam deixado a Unesco em 1984, retornando à entidade em 2003. O país suspendeu sua contribuição financeira ao órgão em 2011.
A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Heather Nauert, detalhou em um comunicado que a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, foi notificada hoje da decisão.
"Essa decisão não foi tomada facilmente, e reflete as preocupações dos EUA com crescentes contas atrasadas na Unesco, a necessidade de reformas fundamentais na organização e o contínuo viés anti-Israel na Unesco", disse o departamento, acrescentando que os EUA irão buscar "continuar engajados... como Estado observador não membro, de forma a contribuir com as visões, perspectivas e expertise dos EUA".
Entidade rebate EUA e cita ações pró-Israel
A Unesco lamentou a decisão dos EUA.
"Após receber notificação oficial do secretário de Estado dos EUA, sr. Rex Tillerson, como diretora-geral da Unesco eu quero expressar meu profundo lamento com a decisão dos Estados Unidos da América de se retirarem da Unesco", disse Irina Bokova em comunicado.
Em sua declaração, Bokova listou uma série de medidas adotadas pela Unesco em parceria com os Estados Unidos contra o antissemitismo.
"Juntos, trabalhamos com o falecido Samuel Pisar, embaixador honorário e enviado especial para a educação do Holocausto, a fim de compartilhar a história do Holocausto para lutar contra o antissemitismo e na prevenção dos genocídios, com o Canal Unesco para a educação sobre o genocídio na Universidade da Califórnia e com programas de alfabetização na Universidade da Pensilvânia. Trabalhamos para produzir novas ferramentas para os educadores contra todas as formas de antissemitismo, como fazemos para combater o racismo anti-muçulmano nas escolas."
A diretora-geral acrescentou que a decisão dos EUA representa uma derrota para o multilateralismo e para a família ONU.
"A universalidade é essencial para a missão da Unesco de construir a paz e a segurança internacionais em face do ódio e da violência através da defesa dos direitos humanos e da dignidade humana", afirmou Bokova. "O trabalho da Unesco não terminou, e continuaremos a seguir em frente para construir um século 21 mais justo, pacífico e igualitário. Por isso, a Unesco precisa do compromisso de todos os Estados."
Unesco reconhece Palestina como Estado-membro
A decisão de Washington foi motivada pelas recentes resoluções da Unesco contra Israel, como aquela que retira do país a soberania sobre Jerusalém e outra que se refere a locais sagrados para judeus e muçulmanos apenas pelo nome islâmico.
Além disso, a entidade já condenou os assentamentos israelenses em Hebron, na Cisjordânia, declarada como "patrimônio histórico palestino".
No início de julho, os Estados Unidos haviam advertido que analisavam seus vínculos com a Unesco, chamando de "uma afronta à história" a decisão da entidade de declarar a antiga cidade de Hebron, na Cisjordânia ocupada, uma "zona protegida" do patrimônio mundial. Na ocasião, a embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou que esta iniciativa "desacreditava ainda mais uma agência da ONU já altamente discutível".
O Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco inscreveu a Cidade Velha de Hebron na lista como um sítio "de valor universal excepcional". Também colocou a cidade, localizada nos territórios palestinos, na lista de patrimônios em perigo.
Hebron é o lar de 200 mil palestinos e centenas de colonos israelenses, que estão entrincheirados em um enclave protegido por soldados israelenses perto do local sagrado que os judeus chamam de o túmulo dos Patriarcas e os muçulmanos de Mesquita de Ibrahim.
Poucos meses antes, a Unesco havia identificado Israel como uma força de ocupação em Jerusalém.
A revista "Foreign Policy" afirma que também tenha pesado para a decisão a dívida de US$ 500 milhões dos EUA com a Unesco.
A quantia se acumula desde 2011, quando o país suspendeu suas contribuições por causa do reconhecimento da Palestina como Estado-membro. As resoluções da Unesco também foram duramente criticadas por Israel e por alguns países europeus, inclusive a Itália, nos últimos meses, mas nenhuma dessas nações se retirou da entidade. (Com Reuters, EFE e Ansa)
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