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Ex-chefe de campanha de Trump indiciado por conspiração é colocado em prisão domiciliar

Paul Manafort trabalhou na campanha presidencial de Trump em 2016 - Drew Angerer/Getty Images/AFP
Paul Manafort trabalhou na campanha presidencial de Trump em 2016 Imagem: Drew Angerer/Getty Images/AFP

Do UOL, em São Paulo

30/10/2017 16h47Atualizada em 31/10/2017 10h37

O ex-chefe de campanha eleitoral de Donald Trump, Paul Manafort foi colocado em prisão domiciliar após o indiciamento por conspiração contra os EUA e lavagem de dinheiro nas investigações realizadas pelo FBI sobre um possível complô entre membros da campanha de Trump e o governo da Rússia. Manafort e seu ex-sócio, Rick Gates, se declararam inocentes das 12 acusações apresentadas contra eles. 

Em declarações oficiais, a Casa Branca tentou se distanciar de Manafort, afirmando que as atividades pelas quais Manafort e seu ex-sócio, Rick Gates, são acusados ocorreram antes da campanha de 2016. A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse ainda que eles teriam ligação com a campanha de Hillary Clinton.

Ambos prestaram depoimento para a juíza Deborah A. Robinson, da Corte do Distrito de Columbia e, em uma breve audiência, seus advogados afirmaram que os dois negaram todos os crimes, incluindo o de "conspiração contra os Estados Unidos". Eles entregaram seus passaportes por risco de fuga pela ligação com estrangeiros. Foi estabelecida uma fiança de US$ 10 milhões para Manafort e de US$ 5 milhões para Gates.

Ao sair do tribunal, o principal advogado de Manafort, Kevin Downing, afirmou que a denúncia ao poderoso lobista era "ridícula".

Estas são as primeiras acusações formais apresentadas pelo procurador especial Robert Mueller, que investiga as relações entre o comitê eleitoral de Trump e a Rússia para influenciar a eleição do ano passado. 

O caso se concentra nas movimentações financeiras de Manafort e Gates durante a última década, incluindo o período da campanha eleitoral, quando atuaram "como agentes não registrados da Ucrânia" nos Estados Unidos, segundo o documento de 31 páginas assinado por Mueller. Para "esconder (...) dezenas de milhões de dólares" de pagamentos recebidos da Ucrânia, Manafort e Gates "lavaram dinheiro mediante um enorme número de corporações americanas e estrangeiras, associações e contas bancárias". Por isso, Manafort foi indiciado por falso testemunho sobre seu papel como agente estrangeiro e por não apresentar as devidas declarações sobre contas bancárias no exterior e registros financeiros.

Manafort foi nomeado chefe de campanha de Trump em junho de 2016, mas acabou sendo afastado do cargo em agosto quando foram reveladas suas ligações com a Ucrânia. Ele se apresentou voluntariamente, esta manhã, ao escritório local do FBI (a Polícia Federal americana), em Washington.

Entre os 12 crimes pelos quais ambos são acusados, aparecem listados conspiração contra os Estados Unidos; lavagem de dinheiro; agenciamento, sem registro, de interesses de outros países; duas acusações de falso testemunho e sete acusações relacionadas a contas e investimentos no exterior não-declarados. Eles teriam ocultado milhões de dólares recebidos por trabalhar para o ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovych e seu partido pró-russo.

O indiciamento diz que Manafort e seu sócio Rick Gates conspiraram para fraudar os Estados Unidos "entre 2006 e 2017". O caso faz parte da investigação do FBI sobre um possível complô entre membros da campanha de Trump e o governo da Rússia para favorecer o republicano e prejudicar sua adversária, Hillary Clinton. A acusação contra Manafort divulgada nesta segunda-feira não se refere a atividades ilegais do comitê de Trump, e sim a delitos cometidos por Manafort quando era o maior responsável pela campanha eleitoral.

Entenda o envolvimento da Rússia na política americana

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Após o anúncio dos indiciamentos, Trump negou no Twitter que seu comitê de campanha tenha participado de um complô com a Rússia durante a eleição de 2016, defendendo que as investigações se concentrem em sua rival, a democrata Hillary Clinton. "Não há CONLUIO!", escreveu o presidente.

No mesmo dia, George Papadopoulos, um ex-assessor da campanha eleitoral de Trump, declarou-se culpado de mentir sobre as relações com a Rússia. Ele admitiu ter ocultado suas conversas com um "professor" anônimo ligado a Moscou que sabia "podres" da democrata Hillary Clinton, rival do magnata republicano na corrida pela Casa Branca.

"Através de suas falsas declarações e omissões, o acusado Papadopoulos impediu a investigação em curso do FBI sobre a existência de vínculos, ou de coordenação, entre indivíduos associados com a campanha e os esforços do governo russo para interferir nas eleições presidenciais de 2016", indica a acusação.

Atuava nos bastidores

As relações de Manafort com o poder começaram em 1970, quando atuou como assessor para o presidente Gerald Ford, e uma década mais tarde atuou como estrategista e assessor de Ronald Reagan na Casa Branca.

No entanto, a partir desse momento Manafort levou sua agenda de contatos para a iniciativa privada, e passou a defender em Washington os interesses de líderes e dirigentes estrangeiros.

Nessa lista de clientes aparecem o ditador filipino Ferdinand Marcos, o somali Mohamed Siad Barre, o guerrilheiro ultra-direitista angolano Jonas Savimbi e, mais recentemente, o presidente da Ucrânia Viktor Yanukovich.

A partir de 2014, depois que Yanukovich se asilou na Rússia, Manafort perdeu um cliente importante, e por isso decidiu voltar a atuar na política interna americana, impulsionado por um antigo sócio, o controverso Roger Stone, que depois o convenceu a juntar-se à campanha de Trump.

Em junho de 2016, Trump havia literalmente pulverizado seus adversários dentro do partido Republicano e se encaminhava a uma espetacular vitória na eleição interna para decidir o candidato presidencial.

Entretanto, o comitê de campanha de Trump percebeu a possibilidade de uma aliança de última hora entre seus adversários na Convenção Nacional do partido, e decidiu reorganizar sua equipe para evitar uma surpresa. Por isso, tirou Corey Lewandowski (um ex-policial sem qualquer experiência política) do controle da campanha e nomeou Manafort, com a tarefa de garantir que a votação interna do partido Republicano indicasse a candidatura de Trump.

No entanto, os laços com a Ucrânia (e os pagamentos milionários) se tornaram públicos e em agosto Manafort foi literalmente forçado a recuar. O veterano estrategista conservador renunciou em 19 de agosto e recebeu um elogio de despedida do então candidato presidencial: "Paul é um verdadeiro profissional e o desejo muito sucesso".

Em março deste ano, quando as investigações de Mueller concentraram-se em Manafort, a Casa Branca começou a se distanciar do "verdadeiro profissional". "Ele desempenhou um papel muito limitado em um tempo muito limitado", disse na época o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer. (Com agências internacionais)