Trump anuncia saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã e restabelece sanções
O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira (8) a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, ignorando os apelos dos aliados europeus para que o pacto fosse mantido. Em discurso, Trump afirmou ainda que retomará as sanções contra o Irã, "instituindo o mais alto nível de sanções econômicas".
Em seu discurso, Trump acusou o Irã de apoiar terroristas e milícias, como o Hezbollah, o Hamas, o Taleban e a Al-Qaeda. "Temos provas de que o Irã mentiu e seguiu com o seu programa nuclear bélico", disse Trump. "Este é um negócio horrível, unilateral, que nunca deveria ter sido feito. Não trouxe calma, não trouxe paz e nunca trará", acrescentou.
"Está claro para mim que não temos como impedir que o Irã tenha uma bomba nuclear com a estrutura podre e deteriorada do atual acordo", afirmou. "Os EUA não fazem mais ameaças vazias. Quando faço promessas, eu cumpro", disse.
O processo de implementação será realizado entre 90 e 180 dias, segundo o Tesouro norte-americano. Trump não detalhou quais serão as sanções e nem como elas serão aplicadas. Também resta a incógnita se haverá punições para empresas que negociam no Irã. Segundo o assessor de Segurança Nacional americano, John Bolton, as sanções serão efetivadas "imediatamente" para novos contratos, acrescentando que as companhias estrangeiras terão meses para sair do Irã. Bolton acrescentou que Washington estava pronto para discutir uma solução muito mais ampla em torno deste tema sensível, mas também indicou ser possível a adoção de sanções adicionais contra Teerã.
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"Desde que o acordo foi alcançado, o orçamento militar do Irã cresceu quase 40% --enquanto sua economia está indo muito mal. Depois que as sanções foram levantadas, a ditadura usou seus novos recursos para construir seus mísseis com capacidade nuclear, apoiar o terrorismo e causar estragos em todo o Oriente Médio", argumentou Trump.
Trump disse ainda que o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, está a caminho da Coreia do Norte para discutir o encontro entre o presidente americano e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un. "Espera-se que um acordo seja alcançado e, com a ajuda da China, da Coreia do Sul e do Japão, um futuro de grande prosperidade e segurança possa ser alcançado para todos", disse o presidente americano, referindo-se às negociações com Pyongyang.
Além de planejar a cúpula, prevista para o fim deste mês ou para o começo de junho, Pompeo tem pressionado o regime para libertar três cidadãos americanos presos na Coreia do Norte --eles teriam sido transferidos de campos de trabalho forçado para um hotel e Pyongyang na semana passada.
Irã negocia, mas ameaça retomar programa nuclear
Logo após o anúncio de Trump, o governo iraniano afirmou que a decisão do presidente americano é ilegal, ilegítima e mina acordos internacionais. O presidente do Irã, Hassan Rouhani, ordenou para que se chanceler negocie com os outros países envolvidos no acordo nuclear e afirmou que, se as negociações falharem, o país retomará o enriquecimento de urânio nas próximas semanas.
Os outros signatários do acordo haviam reafirmado apoio ao Irã, mesmo com uma saída norte-americana. Fazem parte do acordo três membros da União Europeia (França, Alemanha e Reino Unido), Rússia -- cujo embaixador no Irã reafirmou há poucas horas apoio a Teerã -- e China, maior compradora do petróleo iraniano atualmente. Logo após o anúncio, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que França, Alemanha e Reino Unido lamentam a decisão dos EUA de deixar o acordo nuclear com o Irã e acrescentou que o regime de não-proliferação nuclear está em jogo.
Ainda assim, existe a preocupação sobre como as empresas europeias lidarão com a saída dos EUA do acordo: vão manter ou parar seus investimentos no Irã.
Um outro ponto importante é saber se os EUA vão retomar punições a empresas europeias ou asiáticas que fazem negócios com entidades iranianas --isso poderia, por exemplo, impedir o comércio de certas empresas no mercado norte-americano. Disto também depende a reação dos europeus e, ao final, dos iranianos.
Caso Teerã saia do acordo, isso pode significar uma retomada do programa nuclear. Sem acordo, os inspetores internacionais já não terão o mesmo poder de verificação --o acordo prevê um "mecanismo de resolução de disputas". Se o Irã segui-lo, indicará a sua vontade de não fechar as portas imediatamente.
Acordo foi assinado em 2015
O plano foi construído a duras penas pelo antecessor de Trump, Barack Obama, e assinado pelo Irã e pelo chamado Grupo 5+1 (EUA, Rússia, Reino Unido, França, China e Alemanha).
Na ocasião, Teerã se comprometeu a limitar seu programa nuclear, enquanto a comunidade internacional aliviou as sanções econômicas impostas à república islâmica. Desde então a resolução funcionou muito bem, com todos os países envolvidos cumprindo sua parte.
No plano, grosso modo, o Irã se comprometeu a reduzir o enriquecimento do urânio a uma porcentagem considerada segura pelos órgãos internacionais, suspendendo as atividades em uma de suas instalações e reduzindo suas reservas de urânio em 98% ao longo de 15 anos.
Além disso, o texto prevê um monitoramento feito pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), da ONU. Em troca, EUA e países europeus revogaram uma série de sanções econômicas que vinham sendo feitas ao país.
O plano se restringe ao enriquecimento de urânio no Irã para fins nucleares, não tocando em outros pontos nevrálgicos como mísseis balísticos, grupos terroristas e influência em conflitos de países do Oriente Médio.
(Com agências internacionais)
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