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Todos sobreviveram a acidente de avião no México: veja fatores que ajudaram

Vinicius Casagrande*

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/08/2018 14h00

Na queda de um Embraer 190 da Aeroméxico na tarde da última terça-feira (31), chamou a atenção o fato de os 99 passageiros e 4 tripulantes terem sobrevivido. O piloto teve de passar por cirurgia, mas muitos saíram da aeronave caminhando.

O engenheiro aeroespacial e ex-tenente da Força Aérea Brasileira Shailon Ian listou, a pedido do UOL, alguns fatores que contribuíram para que o desfecho desse acidente tenha sido positivo:

1. Acidente ocorreu durante a decolagem

Relatos e vídeos que começaram a surgir nesta quarta-feira (1º) mostram que o acidente ocorreu durante a decolagem do avião - justamente uma das etapas mais críticas em um voo. Tanto é assim que, durante esta etapa, comissários de bordo fazem as típicas checagens de que os corredores e passagens estão livres, sem bolsas, assentos reclinados ou outros obstáculos atrapalhando a movimentação.

“Embora os pousos e decolagens sejam estatisticamente os momentos com maior número de acidentes, são nesses momentos também que há mais chance de sobrevivência”, diz Ian.

“É uma questão física. Quanto maior a velocidade e altitude, maior a energia. Na decolagem, essa energia é menor por conta da baixa velocidade e altitude”, afirma.

Alguns relatos dão conta de que após perder altura, provavelmente por conta de uma rajada de vento, o Embraer 190 ainda chegou a tocar na pista, parando somente na área de escape do aeroporto. O avião percorreu cerca de 300 metros em um terreno com mato e árvores. Nesse percurso, motores, asas e tanques de combustível foram danificados, gerando o incêndio do avião.

2. Aeronaves projetadas para evacuação em 90 segundos

Antes que o avião estivesse em chamas, as 103 pessoas a bordo conseguiram sair. A evacuação rápida foi essencial para a sobrevivência dos passageiros - e daí, de novo, a importância de obedecer aos protocolos de segurança, que pedem que espaços entre os assentos e os corredores estejam desimpedidos.

Mas, além de os passageiros seguirem as orientações, um fator essencial é o desenho das aeronaves: hoje, são projetadas para que, em caso de emergência, todo mundo consiga sair em 90 segundos.

Antes de receber a certificação de operação por parte das autoridades aeronáuticas de todo o mundo, os aviões têm de passar por testes para verificar se esse tempo pode ser cumprido.

3. Comissários treinam para retirar passageiros

Mas não adianta a aeronave ser projetada para a rápida evacuação e os passageiros serem obedientes se as equipes não souberem coordenar a retirada dos passageiros. Por isso, as companhias aéreas também precisam provar que os comissários de bordo estão treinados de acordo com os protocolos internacionais e recebem um certificado exigido pelas autoridades aéreas mundiais mostrando isso.

“Esse acidente mostra o mérito dos comissários de bordo, que foram fundamentais para uma evacuação rápida. Eles não estão no avião para servir lanchinho, mas para agir com precisão nesses casos”, diz Ian.

4. 90 segundos é um tempo definido matematicamente

O engenheiro aeroespacial diz que o tempo máximo de 90 segundos foi determinado após diversos estudos científicos sobre sobrevivência em acidentes aeronáuticos.

“É o tempo que, a partir de uma ignição, o fogo demora para chegar dentro da cabine. Uma evacuação dentro desse prazo dá mais chance de sobrevivência. Se demorar mais do que isso, alguma vida pode ser perdida”, diz.

Muitas características do avião são determinadas com o objetivo de cumprir o prazo dos 90 segundos de evacuação. A quantidade de portas, o número máximo de passageiros e a quantidade mínima de comissários de bordo estão relacionados ao tempo total de evacuação.

“Assim como uma conjunção de fatores leva ao acidente, também é uma conjunção de outros fatores que permite a sobrevivência dos passageiros”, afirma Shailon Ian. 

5. Portas estavam em automático --e isso é bom

Quando o avião está pronto para iniciar o taxeamento pela pista, o chefe de cabine ou o próprio piloto faz um aviso no sistema de som de “portas em automático”.

Isso também tem a ver com a evacuação rápida dos passageiros: quando as portas são armadas, aciona-se um sistema que, em caso de abertura das portas, um escorregador inflável e não inflamável se monta em cinco segundos.

Para sair do avião, os passageiros escorregam por essa espécie de tobogã até o chão.

No caso do acidente desta terça-feira, foi esse sistema que permitiu que todas as 103 pessoas a bordo do Embraer 190 da Aeroméxico pudessem sair do avião antes que chamas atingissem toda a aeronave.

6. Aeronaves estão maiores e mais fortes

À agência de notícias AP, o especialista em segurança na aviação Adrian Young, da consultoria holandesa To70, afirmou que os índices de sobrevivência em acidentes "estão maiores do que eles costumavam ser" em parte porque "os aviões estão mais fortes do que nunca".

É menos provável agora, segundo ele, que pessoas fiquem presas em assentos ou pisos colapsados, especialmente se o avião parar mais ou menos nivelado e se o acidente ocorrer em um terreno plano, como foi o caso da queda em Durango, no norte do México.