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Brasil tem a 8ª pior desigualdade de renda e supera só países africanos

Jaqueline Araújo, que mora na favela Sururu de Capote, em Maceió, e vive com R$ 180 por mês que recebe do Bolsa Família - Beto Macário/UOL
Jaqueline Araújo, que mora na favela Sururu de Capote, em Maceió, e vive com R$ 180 por mês que recebe do Bolsa Família Imagem: Beto Macário/UOL

Felipe Amorim e Carlos Madeiro

Do UOL, em Brasília, e colaboração para o UOL, em Maceió

15/12/2020 02h05

O relatório mundial sobre índices de qualidade de vida divulgado hoje coloca o Brasil na posição de 8º pior país em desigualdade de renda, atrás apenas de nações africanas. O resultado é retrato do contraste entre bolsões de pobreza e riqueza no país.

Em Alagoas, estado com a segunda menor renda por habitante do país (atrás só do Maranhão), a marisqueira Jaqueline Araújo, 38, mora na favela Sururu de Capote, na orla lagunar de Maceió, e vive com R$ 180 por mês que recebe do Bolsa Família.

"Desde setembro meu auxílio emergencial foi cortado e voltei para o Bolsa [Família]. Foi uma queda muito grande", disse. "Mas com o auxílio consegui comprar uma boa feira, além de comprar umas coisas para minha neta e um fogão de segunda mão."

Jaqueline mora em um pequeno barraco com mais quatro pessoas: dois filhos, a nora e uma neta. A família sobrevive do que ela ganha do governo federal, além do que obtém com o trabalho de descascar o sururu (molusco típico pescado na lagoa Mundaú).

"No Bolsa só consta o meu filho menor, o valor fica baixo. Agora comecei de novo a trabalhar, mas o sururu está acabando. Ele está muito pouquinho, não está rendendo. Dá menos de um quilo por lata; descasco por dia três latas, quando tem", disse. "Cada quilo descascado rende R$ 4."

O índice de desigualdade de renda foi divulgado hoje pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento), em conjunto com o relatório do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Os dados dizem respeito às estatísticas referentes ao ano de 2019 e, portanto, não refletem o impacto da pandemia do novo coronavírus sobre os países.

O ranking tem como base o coeficiente Gini, que mede desigualdade e distribuição de renda. O Brasil atingiu coeficiente de 53,9. Segundo o Pnud, para esse indicador, zero representa igualdade absoluta e 100, desigualdade absoluta.

O país está atrás apenas de outros sete países do continente africano.

  • África do Sul (63)
  • Namíbia (59,1)
  • Zâmbia (57,1)
  • São Tomé e Príncipe (56,3)
  • República Centro-Africana (56,2)
  • Suazilândia (54,6)
  • Moçambique (54)

O resultado é semelhante ao registrado no ano passado, quando o país ocupou a 7ª pior posição em desigualdade.

Ranking geral de qualidade de vida

Apesar de ocupar o posto de oitavo país mais desigual do mundo, o Brasil tem um IDH considerado alto, de 0,765 (quanto mais próximo de 1, mais alto é o desenvolvimento humano).

Os números do IDH recém-divulgados mostram que o Brasil perdeu cinco posições no ranking geral, passando do 79º para o 84º lugar, apesar do leve aumento no índice nacional, que foi de 0,762 para 0,765 entre os anos de 2018 e 2019.

O IDH mede o progresso dos países em saúde, educação e renda. O ranking é liderado pela Noruega, cujo IDH é de 0,957. Na outra ponta, o Níger tem o pior índice, de 0,394.

Os principais fatores que compõem o IDH são a expectativa de vida, os anos de escolaridade e o PIB (Produto Interno Bruto) per capita, que é a quantidade de riqueza produzida por um país dividida pelo número de habitantes.