Vaticano vai julgar cardeal e mais nove pessoas por crimes financeiros
Do UOL, em São Paulo*
03/07/2021 08h51Atualizada em 03/07/2021 09h48
Um juiz do Vaticano determinou hoje que 10 pessoas ligadas à Igreja Católica fossem julgadas por supostos crimes financeiros, entre eles, peculato, lavagem de dinheiro, fraude, extorsão e abuso de poder.
Entre denunciados está o cardeal italiano Angelo Becciu, demitido pelo Papa Francisco no ano passado, os ex-chefes da unidade de inteligência financeira do Vaticano e dois corretores italianos envolvidos na compra de um prédio em uma área luxuosa de Londres pelo Vaticano.
"O presidente do Tribunal do Vaticano ordenou a citação para o julgamento dos acusados no âmbito da matéria relacionada com os investimentos financeiros da Secretaria de Estado em Londres. O julgamento terá início na audiência de 27 de julho", disse a Santa Sé em comunicado.
Ainda de acordo com a nota, uma ampla investigação judicial permitiu constatar que a atividade dos acusados resultou em "consideráveis prejuízos para as finanças do Vaticano, tendo-se utilizado também os recursos destinados às obras de caridade pessoal do Santo Padre".
A investigação contra o grupo durou dois anos. Becciu e os demais acusados alegam inocência. O italiano tornou-se o oficial da Igreja de mais alta patente a ser indiciado por supostos crimes financeiros. As acusações contra ele incluem peculato e abuso de poder.
"Sou vítima de uma conspiração tramada contra mim, e há muito tempo que espero ouvir as eventuais denúncias contra mim, para me permitir prontamente negá-las e provar ao mundo minha inocência absoluta", afirmou Becciu em nota, após ter sido indiciado.
"Nestes longos meses, foi inventado tudo sobre a minha pessoa, expondo-me a uma guilhotina midiática ímpar ao qual não cedi, sofrendo em silêncio, também pelo respeito e proteção da Igreja, à qual dediquei a minha vida inteira", concluiu o cardeal.
Os corretores italianos Gianluigi Torzi e Raffaele Mincione foram indiciados por estelionato, fraude e lavagem de dinheiro. Torzi, para quem magistrados italianos emitiram um mandado de prisão em abril, também foi acusado de extorsão.
Quatro empresas associadas a réus, duas na Suíça, uma nos Estados Unidos e uma na Eslovênia, também foram indiciadas.
O escândalo da compra de um prédio de luxo em Londres culminou com a renúncia de Becciu e com uma ampla reforma feita pelo Papa na gestão econômica da Cúria Romana.
A suspeita é de que o dinheiro usado para a negociação tenha vindo do Óbolo de São Pedro, o sistema que arrecada donativos para a caridade da Igreja. Becciu, no entanto, sempre negou as acusações e alega que o prédio foi adquirido com recursos de um fundo da Secretaria de Estado que "precisava crescer".
*Com informações Reuters e Ansa