'Não seremos passivos', diz governo ucraniano sobre crise com a Rússia
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse que o país não aceitará que as grandes potências que tentam apaziguar a crise geopolítica travada na fronteira com a Rússia tomem decisões em nome do governo ucraniano.
"Se alguém fizer uma concessão à Ucrânia, pelas costas da Ucrânia, primeiro, não aceitaremos isso. Não estaremos na posição do país que pega o telefone, ouve a instrução da grande potência e a segue", disse Kuleba ontem, em entrevista à CNN. "Pagamos muito --incluindo a vida de 15.000 de nossos cidadãos-- para garantir o direito de decidir nosso próprio futuro, nosso próprio destino", insistiu o ministro.
O comentário vem num momento em que os Estados Unidos e países da União Europeia buscam formas de conter o avanço de tropas militares russas em território ucraniano. O Kremlin (sede do governo russo) nega que esteja planejando invadir a Ucrânia.
Na semana passada, o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, disse que o país eurasiático não tomaria nenhuma medida agressiva. "Não atacaremos ou invadiremos a Ucrânia", afirmou.
A crise no Leste Europeu —que opõe a Rússia à Ucrânia e ao Ocidente, representado pela aliança militar Otan— pode provocar uma guerra em solo europeu, segundo projetam serviços de inteligência dos EUA e autoridades europeias.
A Rússia já iniciou grandes ataques internacionais anteriormente: na Chechênia em 1999, na Geórgia em 2008, na Síria em 2015 e na Criméia (região separatista da Ucrânia) desde 2014.
Mas uma invasão em grande escala de um país enorme como a Ucrânia, que faz fronteira com a União Europeia e é bem abastecido com armas do Ocidente pode desencadear um conflito bélico sem precedentes.
Mal-entendido com os EUA
À CNN, Kuleba disse não ter dúvidas sobre o compromisso do governo norte-americano em defender a Ucrânia, apesar de comentários do presidente Joe Biden sugerindo, na seman passada, que uma "pequena incursão" das tropas russas pode não levar a uma resposta severa da Otan.
"O presidente Biden está pessoalmente comprometido com a Ucrânia. Ele conhece este país e não quer que a Rússia o destrua", disse Kuleba.
"Ouvimos desses funcionários dos EUA, falando abertamente com a mídia, mas também falando comigo e com outros funcionários ucranianos diretamente por telefone, que os EUA permanecerão comprometidos em enfrentar a Rússia se qualquer tipo de incursão, invasão, interferência ocorrer", acrescentou.
Em dezembro, autoridades norte-americanas disseram ter identificado sinais de que a Rússia se preparava para uma ofensiva militar contra a Ucrânia envolvendo até 175 mil soldados.
No início de janeiro, relatório de inteligência emitido pelo governo ucraniano disse que a Rússia enviou tropas de suas regiões central e leste em direção à sua fronteira ocidental "de forma permanente".
Nas últimas semanas, a Rússia moveu "arsenais de munição, hospitais de campanha e serviços de segurança", o que, segundo a Ucrânia, "confirma a preparação para operações ofensivas".
Na avaliação de Kuleb, Putin "deu um tiro no próprio pé" com o aumento das tropas, acrescentando que há pouco que Moscou possa ganhar com o cenário atual.
"Ele se colocou nessa situação, ninguém mais o empurrou nesse impasse", disse Kuleba. "O conjunto de demandas apresentadas pela Rússia é projetado de forma que, se a Rússia estiver disposta a agir de boa fé, existe a possibilidade de sair da sala de negociações e dizer que fizemos um acordo."
A Rússia pediu aos EUA e à Otan garantias de segurança, incluindo promessas de que a Otan não admitirá a Ucrânia no bloco. Putin enfatizou que essas demandas não são um "ultimato", e Kuleba acredita que a Rússia está disposta a abrir o diálogo.
Interferência do Ocidente agrava crise, diz Putin
Putin tem afirmado que o Ocidente está "agravando" o conflito na Ucrânia, ao realizar exercícios militares no Mar Negro: "Nossos parceiros ocidentais estão agravando a situação, fornecendo a Kiev armas modernas letais e conduzindo manobras militares ousadas no Mar Negro."
Em conversa com o presidente francês, Emmanuel Macron, em novembro do ano passado, o presidente russo descreveu como "provocação" as manobras militares realizadas pelos EUA e pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na região.
O Mar Negro é uma região importante para a Rússia, que controla a península da Crimeia depois de anexá-la da Ucrânia em 2014. Desde então, Kiev tem travado um conflito com rebeldes pró-Rússia no leste do país, que já custou mais de 13 mil vidas.
Especulações ocidentais sobre os planos da Rússia no leste da Ucrânia surgiram em meio a um confronto sobre uma crise de imigrantes na fronteira com Belarus, alinhada ao Kremlin, e a Polônia, membro da UE.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.