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Rússia diz que conversa com os EUA sobre a Ucrânia foi 'útil e honesta'

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov - AFP/Ministério das Relações Exteriores da Rússia
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov Imagem: AFP/Ministério das Relações Exteriores da Rússia

Do UOL, em São Paulo*

21/01/2022 07h54Atualizada em 28/01/2022 10h13

O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse hoje após reunião com seu homólogo americano, Antony Blinken, que o encontro com o chanceler para tratar da crise na Ucrânia foi "uma discussão útil e honesta". Blinken, por sua vez, classificou a conversa como "direita", "profissional" e "sem polêmicas".

Os diplomatas se encontraram hoje em Genebra para tentar apaziguar a crise ucraniana enquanto milhares de soldados russos se concentram perto das fronteiras do país vizinho à Rússia. O presidente americano Joe Biden alerta que uma invasão pode ser provável.

Durante a reunião, Lavrov insistiu que espera respostas escritas dos Estados Unidos às suas demandas. O país quer a suspensão da expansão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para o leste e a retirada das tropas da organização de países como Polônia e nações que faziam parte da União Soviética.

Os Estados Unidos, por outro lado, rejeitaram essas demandas. "Não esperávamos que nenhum avanço acontecesse hoje, mas acredito que agora estamos em um caminho mais claro em termos de compreensão das preocupações um do outro", disse Blinken. No entanto, o ministro americano disse que deve enviar um comunicado por escrito à Rússia na próxima semana.

Em entrevista coletiva após a reunião, Lavrov negou que a Rússia tenha planos de atacar a Ucrânia e disse que o país aguarda retorno de autoridades americanas para decidir sobre os próximos passos. Putin alertou que a Rússia tomaria ações "técnico-militares" não especificadas para garantir sua segurança se suas exigências não fossem seguidas.

"Não posso dizer se estamos ou não no caminho certo", afirmou o ministro. "Vamos entender isso quando tivermos a resposta americana no papel para todos os pontos de nossas propostas."

Mais cedo, Lavrov disse que não espera "avanços" nas tratativas com Antony Blinken. O comentário de Lavrov recebeu resposta do ministro dos Estados Unidos. "Você está certo. Nós não esperamos resolver nossas diferenças hoje. Mas eu espero que possamos testar se o caminho da diplomacia e do diálogo continua aberto. Estamos comprometidos a caminhar por esse caminho, a resolver nossas diferenças de maneira pacífica e espero testar essas proposições", afirmou o americano.

Sentado à frente de Lavrov no início da reunião, que durou cerca de 90 minutos, Blinken prometeu uma resposta "unida, rápida e forte" em caso de invasão da Ucrânia, mas garantiu, ao mesmo tempo, que os Estados Unidos ainda buscam uma solução diplomática.

O governo russo acusa a Ucrânia de ameaçar a segurança nacional ao adquirir armas estrangeiras e aspirar se juntar à OTAN. "O que esperamos são respostas concretas para nossas propostas concretas", afirmou Lavrov a respeito de uma série de propostas que a Rússia apresentou para limitar a expansão e as atividades da OTAN na Europa Oriental.

"Me refiro em particular ao princípio da indivisibilidade da segurança, bem como à obrigação dos países de não fortalecer sua própria segurança em detrimento da segurança de outros", disse o ministro.

As esperanças de Washington de criar uma frente unida de oposição a Moscou ficaram mais complicadas pelos comentários do presidente norte-americano Joe Biden em entrevista coletiva na quarta-feira, quando ele previu que a Rússia "entraria" na Ucrânia e que Moscou pagaria caro.

Blinken chegou a Genebra na noite de ontem após outras duas escalas agendadas às pressas na Europa para tratar da crise. Na ocasião, ele esteve em Berlim com autoridades alemãs, francesas e britânicas. Na quarta-feira (19), em Kiev, ele se encontrou com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e garantiu mais apoio dos Estados Unidos.

A Rússia concentrou dezenas de milhares de soldados em suas fronteiras com a Ucrânia. Estados ocidentais temem que Moscou esteja planejando um novo ataque ao país que invadiu em 2014 para anexar a península da Crimeia. A Rússia nega que esteja planejando um ataque, mas diz que pode tomar uma ação militar não especificada se uma lista de exigências não for cumprida, incluindo uma promessa da OTAN de nunca admitir a Ucrânia na aliança militar.

Resposta russa

Questionado pela emissora CBS News se a Rússia estava intimidada pela Ucrânia, o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, disse ao chegar para as negociações em um dia frio e tempestuoso em Genebra: "Não temos medo de ninguém, nem mesmo dos EUA".

Em Moscou, o Kremlim reagiu friamente à iniciativa do Parlamento russo de reconhecer duas regiões separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia como Estados independentes, dizendo que era importante evitar medidas que possam aumentar as tensões.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que era importante não tentar ganhar pontos políticos em uma situação tão frágil.

O Kremlin não esperava que Blinken entregasse uma resposta por escrito às exigências da Rússia por garantias de segurança do Ocidente na sexta-feira, disse Peskov.

A Rússia quer que a Otan prometa não aceitar a Ucrânia como membro e que interrompa sua ampliação em direção ao leste. A aliança liderada pelos EUA rejeitou isso.

*Com informações da AFP e da Reuters